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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Macacada no Dragão

"Século XXI, ano 2019. O povo português, conhecido mundialmente por ser um povo acolhedor, caloroso, amigável e útil, encontra-se em 1º lugar no ranking da InterNations dos “países mais amigáveis do mundo para residentes estrangeiros”. Portugal é, aliás, o único país europeu presente no top 10 dos países mais acolhedores do mundo do mesmo ranking. Infelizmente, nem sempre é dignificado pelos melhores motivos e existem, contudo, várias excepções, e a urbanidade e respeito pelos demais não chegou ainda a todo o lado nem a todos os espectros da sociedade. Lamentavelmente, continuam a ocorrer tristes episódios que nos envergonham a todos enquanto seres humanos e portugueses, e esses tristes episódios merecem a nossa total atenção e devem ser denunciados e não encobertos, desvalorizados ou depreciados pela Comunicação Social e respectivos portugueses. É absolutamente crucial que manifestações de racismo sejam denunciadas de forma clara, sem margem para dissimulações, para que tais acções de natureza animalesca não se repitam posteriormente.
Na passada quinta feira no Estádio do Dragão, durante o FC Porto vs Young Boys, vimos um desses exemplos. Quando Nsamé, jogador do Young Boys, se preparava para bater um penálti, foram bem audíveis as palavras "preto do c*ralho" e cânticos a chamar de “macaco” ao jogador, cânticos esses vindos da bancada ocupada pela claque legalizada Super Dragões, liderada por Fernando Madureira, ironicamente conhecido por “Macaco”, ou “Dr. Macaco”, para sermos mais precisos. Da parte do FC Porto surge, naturalmente, o desmentido, como se fosse possível desmentir as imagens e o som onde se consegue “apalpar” o ódio racial. Sérgio Conceição veio afirmar que não vê “no nosso país racismo ou insultos a jogadores de outras nacionalidades e outras cores”. Já o Dr. Macaco, veio ironizar, dizendo “O “macaco” sou eu. Até nas costas da camisola do Canelas, onde jogo, aparece o nome “macaco”. Se calhar, o megafone estava ligado e estavam a chamar por mim, na altura”. Além de ironizar, a vitimização não poderia faltar, daí também dizer que “tudo não passa de uma manobra para prejudicar o FC Porto”.
Ora, se de facto tudo aquilo não passou de um mal-entendido, deverá haver uma explicação para o facto de o “Dr. Macaco” ter ido procurar satisfações junto de David Lemos, jornalista da RTL, que se limitou a lançar um tweet evidenciando os cântico racistas, e denunciando os mesmos. Diz ele que um jornalista deve ser imparcial, não devendo estar ao serviço de outros clubes. O que queria o “Dr. Macaco “que o jornalista tivesse feito? Que aplaudisse e incentivasse comportamentos animalescos? Se se diz líder uma claque legalizada, deveria sim tentar acalmar as hostes. É que as ameaças feitas por adeptos portistas ao jornalista suíço ficam mal. Fernando Madureira já deveria saber que estamos no século XXI, e não na idade da pedra de onde o mesmo nunca deverá ter saído. Alguém que vai à televisão comentar sobre segurança nos estádios e em eventos desportivos deveria ter outra abordagem a estas situações.
Assumir os próprios erros é sinal de maturidade, mas tal não existe por parte deste sujeito. Recordamos que já anteriormente o mesmo tinha incentivado a cânticos de índole violenta, recorrendo a alusões à queda do avião do Chapecoense para aludir à morte de toda a equipa do Sport Lisboa e Benfica. A culpa de tudo isto é, aliás, do Benfica. A culpa é sempre do Benfica, segundo Madureira. O jornalista suíço até estava ao serviço do Benfica. O “argumento” para esta tese? Um re-tweet do jornalista de um tweet de um golo do Benfica, de um jogador suíço, Seferovic. Realmente é escandaloso. Exige-se maior capacidade de interpretação e raciocínio de um mestre.
Mas tudo o exposto acima é, digamos, acessório. O foco principal tem de estar no que se passou, os cânticos racistas. O vídeo não engana. Não foi truncado, à boa moda do Porto Canal e do director do departamento de comunicação do Futebol Clube do Porto.
Este não é o primeiro caso de racismo praticado no Estádio do Dragão. Em 2012, a UEFA castigou o clube em 20 mil euros por cânticos dirigidos a Balotelli, então no Manchester City. A defesa do FC Porto daria para rir, não estivéssemos a falar de algo tão sério. Argumentaram que o que se ouvia eram meros incentivos dos adeptos portistas ao brasileiro Hulk e dos adeptos ingleses ao argentino 'Kun' Aguero, ou seja, uma simples questão de fonética. Não existiram foi desmentidos aos vídeos na altura divulgados onde, nas bancadas onde se concentravam os adeptos do Porto, se mostrava de viva voz a intenção de insultar os jogadores negros do Manchester City, como Balotelli ou Yaya Touré.
A UEFA já abriu um processo disciplinar ao sucedido, devendo vir a ser conhecida a decisão brevemente. O organismo que tutela o futebol europeu tem adoptado, com toda a razão, uma postura cada vez mais dura e de tolerância zero para casos de racismo. Também as federações nacionais têm “apertado a malha” aos infractores. Nos últimos anos têm-se sucedido os castigos a clubes/selecções por situações exactamente iguais àquela que se passou no Estádio do Dragão. Passamos a enumerar: 
1 de Agosto de 2019 - Glasgow Rangers obrigado a deixar pelo menos 3000 lugares vazios;
3 de Maio de 2019 - Montenegro foi condenada a um jogo à porta fechada, além do pagamento de uma multa de 20 mil euros;
2 de Maio de 2019 - a Lazio foi condenada a fechar partes do seu estádio no próximo jogo europeu;
4 de Abril de 2019 - Dínamo Zagreb sancionado com dois jogos à porta fechada nas competições europeias (com pena suspensa), sendo ainda aplicada uma multa de 20 mil euros;
5 de Dezembro de 2018 - na liga Italiana, o Inter de Milão foi condenado a um jogo à porta fechada por insultos racistas dirigidos a um jogador do Nápoles, além do encerramento parcial do estádio num jogo subsequente;
6 de Junho de 2018 - UEFA condena o Zenit a um jogo europeu à porta fechada, e uma multa de 50 mil euros;
8 de Agosto de 2015 – Steaua Bucareste, Debrecen e Maribor, todos foram condenados. O Steaua a um jogo à porta fechada, os outros ao encerramento parcial do estádio;
7 de Fevereiro de 2014 – CSKA Moscovo recebe sanção de um jogo à porta fechada, e pagamento de multa de 50 mil euros;
9 de Agosto de 2013 - o Legia Varsóvia foi ordenado a fechar parte do estádio no próximo jogo europeu, e multado em 30000 euros.
Estes são apenas alguns exemplos, fruto de uma rápida e simples pesquisa. Muitos mais haveriam a elencar.
Poder-se-ia dizer que entre os dois acontecimentos (o de 2012 e o da passada quinta feira) há um hiato temporal de mais de seis anos. Mas essa defesa não é aceitável. Este tipo de comportamentos é condenável e inadmissível, seja praticado uma vez só, seja anualmente, seja de cinco em cinco anos. São comportamentos a condenar e a reincidência não é desculpa. Pelo contrário, deve e tem de agravar a condenação. Ponto final.
A multa, atendo ao histórico de sanções da UEFA, parece-nos ser certa. Mas isto não é suficiente pois estamos perante um caso de reincidência. Resta saber se a UEFA terá a coragem de castigar o FC Porto com interdição parcial ou total do estádio, em algum jogo. É que existe um senhor de seu nome Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol e ex-administrador na SAD portista, no Comité Executivo da UEFA.
O Polvo das Antas está atento ao desenrolar do processo, às vozes que se levantarão e às que se calarão. Não toleramos este tipo de comportamentos. Não nos julgamos como sendo superiores ou melhores que ninguém. Simplesmente achamos este tipo de comportamentos repugnantes, seja onde, quando e com quem for.
Para finalizar, deixamos aqui um pequeno vídeo para os nossos seguidores, de forma a comprovar a total inocência por parte destes indivíduos."

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