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terça-feira, 30 de julho de 2019

Exemplo veio dos emigrantes

"Vieira partiu na frente, ao anunciar o novo lema do seu clube: ganhar pelo Benfica e nunca contra ninguém. Deve dar para todos perceberem...

A menos de uma semana da Supertaça, que assinala a abertura oficial da nova temporada futebolística, destaco a feliz oportunidade de um trabalho jornalístico assinado pelos enviados-especiais de A Bola aos Estados Unidos da América, Paulo Alves e Sérgio Miguel Santos, para acompanharem a participação do Benfica na International Champions Cup, que conta uma história bonita, em que os nossos emigrantes impediram que a estátua de Eusébio fosse depositada numa lixeira.
Em traços gerais, uma réplica mandada construir pelo mesmo emigrante Vítor Baptista, que ofereceu a que está no Estádio da Luz, foi inicialmente colocada no Gillette Stadium, onde se realizou o jogo de anteontem com o Milan, mas teve de ser transferida para o Estádio Lusitano, em Ludlow, pequena localidade próxima, sede do Pioneers, clube de forte influência portuguesa na região, para escapar à morte certa devido à edificação de uma zona comercial.
Os nossos compatriotas, como escreve Paulo Alves, assumiram a responsabilidade pela operação de salvamento da peça já muito mal tratada.
Dedicaram-se de corpo e alma à sua recuperação, um trabalho que implicou prolongado, minucioso e generoso empenho para perseveração da imagem de um símbolo nacional. Demorou um ano, mas a obra ficou concluída e a estátua de Eusébio continua a poder ser vista e admirada por quem vive ou por quem tiver a curiosidade de passar por Ludlow, com 20 mil habitantes, no interior do estado de Massachusetts.
Foi uma tentativa gratificante, até para memória futura. Em tempo de ódios e rancores, os portugueses da América revelaram um sólido espírito de comunhão que deve fazer corar de vergonha os dirigentes vaidosos, os intermediários sem escrúpulos ou os especialistas em comunicação reles, todos eles agarrados ao futebol por sentirem que o pasto é fértil para engordarem interesses e negócios. Porque, ao contrário do que anda por aí a dizer uma senhora, a culpa não é do futebol, mas de quem nele se alberga com más intenções, e gente dessa infiltra-se na política, onde tudo começa, como em todas as áreas da sociedade que cheirem a corrupção e lucro.

Três emigrantes, um do Benfica e dois do Sporting, em representação de muitos outros, julgo poder dizer-se, colocaram o orgulho de serem portugueses acima dos penáltis, dos árbitros e de todas as futilidades que caracterizam as discussões de café sobre um jogo fantástico e com uma força aglutinadora sem comparação em qualquer outro desporto ou actividade social.
Enquanto cidadão cumpridor das suas obrigações, que há décadas acompanha o futebol no que ele tem de bom e de mau e que dispensa a voz protectora dos salvadores da pátria, curvo-me perante a disponibilidade, a coragem e a solidariedade de quem deu um sublime exemplo daquilo que deve ser a verdadeira e pura competição: uma história de encantar contada por Alcino Pereira, adepto do Benfica, e Frederico Grelha e João Bernardo, adeptos do Sporting.

A lição chega de longe dada por gente humilde e que tem do País e do seu futebol uma visão crítica e azeda, mas também sincera e justa. Para quem vive fora, a imagem de Portugal sobrepõe-se às questiúnculas clubistas que por cá assumem relevância excessiva e até doentia.
A população emigrante, seja em que continente for, preza a rivalidade saudável e todos acorrem quando é preciso dar apoio a outros emblemas, sem olhar a cores, porque acima de tudo está o bom nome do País. Na minha experiência profissional de décadas tive o prazer de testemunhar incontáveis situações que traduzem esse admirável sentido de entreajuda.
Lamenta-se, porém, que do lado de dentro de insista em olhar para o fenómeno de uma forma desajustada a uma sociedade moderna. Não é assim, Manuel Fernandes? Começar já a falar de árbitros e de arbitragem a propósito de nada só será entendido pelos maldispostos congénitos. Com tal mentalidade, é difícil as coisas mudarem. Porque de equilíbrio emocional, como refere, precisam mais alguns presidentes do que os árbitros, devendo exigir-se-lhes tento na língua e que se preocupem apenas com o que se passa na casa de cada qual.
Mais uma vez, Luís Filipe Vieira partiu na frente, ao anunciar o novo lema do seu clube: «Ganhar pelo Benfica, vencer pelo Benfica, festejar pelo Benfica e nunca contra ninguém». Deve dar para todos perceberem, os que quiserem, pelo menos."

Fernando Guerra, in A Bola

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