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sexta-feira, 6 de abril de 2018

O Liverpool enche-nos o coração

"Há coisas das quais não se deve prescindir sem morrer primeiro. A emoção de uma porta a abrir, por exemplo. O frenesim de uma paixão. O entusiasmo de um copo cheio.
São coisas que faz sentido levar até ao fim.
Mas acima de tudo a fé. Há poucas palavras na língua portuguesa que nos encham tanto a alma quanto a fé. Fé no sentido de esperança. De crer. De acreditar.
Belief, como dizem os ingleses.
A fé vicia-nos o coração, enche-nos de ilusão, faz-nos acreditar. E não há nada melhor do que acreditar: numa pessoa, numa palavra, num fim. Acreditar que vai acontecer.
Nesse sentido, o que fez o Liverpool na quarta-feira foi um balsamo para o espírito. Um sopro de valentia. Fez-nos acreditar que a Liga dos Campeões continua a valer a pena.
A Champions, vale a pena lembrar, tornou-se propriedade de três ou quatro clubes: cada vez mais acentua a diferença entre os ricos e os pobres, tornando os milionários um bocadinho mais milionários a cada ano que passa. Por isso, verdadeiramente, é vista por muita gente, mas vivida por uma elite cada vez mais curta.
No fundo estamos todos a bater palmas ao espectáculo que são equipas como o Real Madrid, o Barcelona, o Bayern, o Manchester City, eventualmente o PSG um dia destes.
Batemos-lhes palmas, abrimos a boca de espanto, admirámos as maravilhas que nos proporcionam, sabendo que aplaudir é tudo o que podemos fazer: porque cada vez mais a superioridade destes grandes clubes se acentua e retira emoção à própria competição.
No fundo a Liga dos Campeões só começa verdadeiramente nas meias-finais: quando os menos favoritos já foram afastados e os favorecidos se digladiam entre eles.
Até porque é isso que a UEFA deseja verdadeiramente: grandes espectáculos, com os melhores jogadores. Mais espectadores, mais audiência, mais valor para a marca.
E a essência do futebol, onde fica? Provavelmente nos intervalos entre a publicidade.
Por isso, lá está, o que fez o Liverpool foi um sopro de valentia. Uma prova de coragem. Uma demonstração de que vale a pena acreditar que a Liga dos Campeões pode continuar a surpreender-nos, de que podemos continuar a vivê-las mais do que apenas vê-la.
É certo que Real Madrid, Barcelona e Bayern não deram hipóteses, mas enquanto houver um Liverpool, como uma Juventus ou um At. Madrid nas épocas anteriores, vai valer a pena continuar a acreditar no futebol. Como sempre fizemos, aliás.
A forma como a equipa de Jurgen Klopp atropelou o sensacional Manchester City, que terminou sem nenhum remate enquadrado com a baliza, recorde-se, foi um raio de esperança para a democracia no futebol: os menos favoritos podem continuar a sonhar.
A Liga dos Campeões, ainda que só um bocadinho, ainda é de todos: uma competição liberal, progressista e igualitária. Um espaço democrático como sempre foi, insiste-se.
Não concorda que vale a pena ter fé?"

1 comentário:

  1. Só é pena é que já 20 anos ainda dava para ver um clube português ou romeno ganhar a Taça do Campeoes ou hoje ou outsiders sejam os apontados no artigo e que, mesmo assim são dos principais campeonatos e já não dá periferia futebolística... Dizer que o Liverpool e um clube que nos faz sonhar... enfim... se fosse um Benfica ou um Steaua Bucareste... ou um Ajax...

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