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terça-feira, 4 de abril de 2017

O filme infinito de uma passada larga

"Há sempre motivos para reviver Eusébio, festejar Eusébio, escrever e falar sobre Eusébio. No dia 23 de Março, estreou-se Eusébio - História de Uma Lenda. E ele regressou aos ecrãs com a sua aura de Pantera esfomeada por golos e mais golos.

Eusébio outra vez em filme. Filipe Ascensão realizou Eusébio - História de Uma Lenda. Há sempre mais qualquer coisa para dizer sobre Eusébio. Sempre qualquer coisa para escrever sobre Eusébio. Mil e uma imagens de Eusébio. Agora, um facto: 1966 - o Cinema Éden exibe o filme Goal, realizado no decorrer do Campeonato do Mundo de Inglaterra: Eusébio está lá, na tela, marcando golos, e na plateia, por entre uma multidão que enche a sala. Realizadores: Ross Devenish e Abidin Dino. Eusébio visto pelos outros, filmado pelos outros, escutado pelos outros. O mundo inteiro tinha curiosidade de conhecer o menino que viera da Mafalala, lá na África de Lourenço Marques, e invadira a Europa com o seu pontapé certeiro e fulminante.

Um pouco de história. Comentários de Brian Glanville. Produção: Octavio Siñoret. Narração dos jogos: Nigel Patrick. Música de Johnny Hawksworth. Os protagonistas eram, todos eles, os do Campeonato do Mundo do nosso comportamento: Garrincha e Pelé; Bobby Moore e Bobby Charlton (e a rainha Isabel, segunda do nome); Yashin e Beckenbauer. E Eusébio e Eusébio e Euséio e Eusébio: quatro golos à Coreia do Norte. Vinte e quatro imagens por segundo!
As pessoas, sentadas nas cadeiras do Éden, batiam palmas como se estivessem no estádio.

Eusébio planetário, entregue à devassa das opiniões alheias. Eusébio pagando os custos de se ter tornado enorme. Por todo o lado, a vida corre: a vida de Eusébio. Eusébio no grande ecrã. Em 1973, por exemplo, o espanhol Juan de Orduña rodou Eusébio, la Pantera Negra. O filme dura 1 hora e 26 minutos e conta com o contributo de Maria Libéria, Isabel de Castro, Ermelinda Rodrigues e Júlio Cleto. A música esteve a cargo de Gonçalo Paredes. Quatro temas do músico angolano Vum Vum: Eusébio - Miúdo e Senhor, Tema sem Nome, Ao Som da Marrabenta, Tema Genérico da Banda Sonora. Já falei aqui sobre isto, nestas páginas, abusando da vossa infinita paciência, mas volti a falar porque vem a propósito, há aí um novo filme sobre Eusébio, Eusébio é sempre protagonista, nunca deixou de ser protagonista. Nem morto.

O triunfo da Pantera
Eusébio: O Triunfador dos Estádios, dizia o cartaz de promoção.
Ibrahimo Muss, José David, José Moreno: todos no elenco.
A película desenrolava-se numa estrutura funcional. A vida de Eusébio contada por uma jovem jornalista interpretada por Maria Silva. Eusébio era ele próprio.
Actor e personagem. Testemunhos variados formavam o puzzle da sua vida.
O filme estreou-se em Lisboa no dia 11 de Abril de 1974, respirava-se já os aromas da revolução.
Juan de Ordña, o autor da obra, tinha morrido entretanto. Várias foram as questões que rodearam a história deste documentário romanceado que caiu no olvido das gentes. A principal delas, o tempo excessivo da sua produção: começou a ser rodado em 1972, depois de o projecto ter sido aprovado pela Comissão de Censura em Outubro de 1971.
O guião foi alterado, houve participações de actores que acabaram cortadas na mesa de montagem pela co-produção, a portuguesa Deva Filmes e a espanhola Tritón PC, desentenderam-se várias vezes. Mas foi, até hoje, o mais significativo filme sobre Eusébio da Silva Ferreira.
Um pouco ainda mais de história. Mais factos.
Documentários houve muitos nos quais Eusébio foi protagonista ou figura em destaque. Seria impensável elencá-los a todos. Mas aqui ficam alguns dos mais emblemáticos. Eusébio, Um Jogador de Todos os Tempos, realizado para e transmitido pela Benfica TV na sua rubrica Vitórias e Património. El partido del siglo: Eusébio, dirigido por Manuel Iglesias e com guião de Santiago Segurola, director do jornal madrileno Marca. Futebol de Causas, de Ricardo Antunes Martins, sobre a Académica e o seu envolvimento nas lutas estudantis dos anos 60, com incidência na final da Taça de Portugal de 1969, disputada frente ao Benfica e que seria resolvida por Eusébio. Eusébio, A Pantera Negra, série de seis reportagens realizadas pro Bruno Cerveira e produzidos pela RTP com argumento de Manuel Arouca e pesquisa de Rui Tovar. Pelé vs. Eusébio, realizado pela empresa inglesa Sports e vendido em video-cassete VHS. Em 2008, Nuno Mendanha faz um registo gráfico sobre momentos de Eusébio no Mundial de 1966 chamado O Gladiador de 66. Em seguida, insatisfeito, fez outro como banda sonora o tema de Dulce Pontes Amor a Portugal.
Eusébio, Eusébio, Eusébio: agora outra vez no grande ecrã, no Grande Auditório no Centro Cultural de Belém. Responsável pelo regresso: Filipe Ascensão. Talvez simplesmente porque Eusébio não se explica. É preciso continuar a vê-lo... A vê-lo sempre que possível!"

Afonso de Melo, in O Benfica

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