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quinta-feira, 20 de junho de 2024

Deixem falar Mbappé


"Olhe a extrema-direita para a França que desde 98 conquistou 2 Mundiais e 1 Europeu: que maior exemplo de integração e multiculturalismo?

As eleições europeias provocaram em França um terramoto político, a vitória da extrema-direita levou à dissolução do parlamento, com o presidente Emmanuel Macron a anunciar eleições legislativas antecipadas. Já em pleno Campeonato da Europa na Alemanha, palco que por estes dias é um dos maiores megafones do mundo, Kylian Mbappé - tal como também, por exemplo, Marcus Thuram - deu opinião.
«Penso que estamos num momento crucial na história do nosso país. A situação é inédita, por isso dirijo-me ao povo francês e à geração mais jovem, que pode fazer a diferença. Apelo aos jovens para que votem. Vemos que os extremistas estão à porta do poder, temos a oportunidade de escolher o futuro do nosso país.»
O astro francês apela ao voto. Avisa para os perigos dos extremistas, mas apenas apela ao voto, não obriga ninguém a votar em quem não quer, dando no entanto a sua opinião. Tão válida como outra qualquer, porém mais amplificada que a maioria, porque de uma superestrela mundial se trata, num dos meios mais mediáticos, o futebol e num grande campeonato. Reações da extrema-direita francesa logo surgiram, como seria de esperar. Jordan Bardella, um dos seus líderes, criticou os futebolistas da seleção. «Tenho muito respeito pelos nossos futebolistas, sejam eles Marcus Thuram ou Kylian Mbappé, que são ícones do futebol e ícones da juventude... Mas temos de respeitar os franceses, temos de respeitar o voto de todos», disse. Mas pergunto: quando é que Mbappé não respeitou o voto dos outros? Apenas deu a sua opinião, que provavelmente a extrema-direita apagaria se pudesse… «Quando se tem a sorte de ter um salário muito, muito grande, quando se é multimilionário... fico um pouco envergonhado por ver estes atletas darem lições a pessoas que já não conseguem fazer face às despesas, que já não se sentem seguras, que não têm a possibilidade de viver em bairros superprotegidos por agentes de segurança», acrescentou Bardella. Típico discurso populista que não hesita em relacionar a insegurança à imigração, em usar o medo para criar o caos e dele se aproveitar - a receita é conhecida.
Mas olhe a extrema-direita para a seleção francesa que desde 1998 conquistou dois Campeonatos do Mundo e um Campeonato da Europa: que maior exemplo de integração e multiculturalismo? Com esses extremistas no poder a ditar leis arrisco-me a dizer que os franceses não seriam nem campeões do Mundo nem da Europaa. Olhe-se também para a Seleção Nacional de Portugal e à equipa que conquistou o Euro em 2016 e o exemplo também é bom - pode haver quem não goste, mas esses, uma vez, já tiveram uma resposta de trivela ao discurso xenófobo…
Para certos políticos, usar os futebolistas quando lhes dá jeito não faz mal algum. Mas se os futebolistas dão opinião que não lhes agrada aí já devem estar resumidos a dar pontapés na bola. Mbappé tem opinião além das quatro linhas e resolveu expressá-la. Fez bem e aproveite enquanto a pode dar, porque a extrema-direita, já sabemos, uma vez a mandar não terá problemas em mandar calar.
Até de outros futebolistas Mbappé ouviu que não deveria meter-se em assuntos extrafutebol. Unai Simón, guarda-redes de Espanha, acha que não deve falar se de futebol não se tratar. Está no seu direito. O valor maior que a democracia nos dá é a liberdade. Para opinar, para não opinar, para ter opinião, para a não ter. E até para dizermos as nossas patetices de vez em quando.

SELO DE GOLO
Já era o primeiro português a jogar na NBA e agora, além de ser o único na maior liga de basquetebol do mundo, é campeão! Grande Neemias, que sirva de exemplo!"

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