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sábado, 14 de outubro de 2023

Mudou mesmo?!


"Os sinais que nos levam a admitir estar diferente o treinador do FC Porto

Até ver, o treinador do FC Porto parece realmente ter mudado. Sabemos que continuará a ser um lobo mas parece, agora, vestido com pele de cordeiro. Está mais moderado, menos agressivo, parece mais complacente e mais sereno. Mesmo no Estádio da Luz, onde se viu derrotado pelo Benfica pela segunda vez esta época e num jogo com decisões de arbitragem desfavoráveis aos dragões, o treinador do FC Porto esteve longe de reagir com aquela carga negativa a que nos habituou sempre que perdeu.
No clássico da Luz, na verdade, o treinador do FC Porto não deixou de discordar de algumas decisões do árbitro, mas fê-lo de modo tão invulgarmente gentil e compreensivo que nem parecia o mesmo. No campo, creio, aliás, que nunca o tínhamos visto ser tão cordial com o treinador adversário no final de um jogo perdido como o foi, desta vez, com Roger Schmidt. Cumprimentou-o, abraçou-o e deteve-se, ainda que por meros instantes, a trocar algumas palavras com o alemão que treina as águias.
No relvado da Luz, ainda o vimos, até, com extrema gentileza e cortesia, a receber, por exemplo, um caloroso abraço de Rafa, bem ao contrário da imagem que deu, há uns anos, após perder com os encarnados, no Estádio do Dragão, por recusar cumprimentar o jovem João Félix, que deixou de mão estendida.
Félix, ao que se sabe, amigo próximo de um dos filhos do treinador portista, chegou mesmo a ser visita de casa da família Conceição, mas naquela noite de março de 2019, no relvado dos azuis e brancos, o jovem Félix foi apenas mais um indiferente e desconsiderado adversário.
Desde o principio de agosto, na Supertaça, até ao final de setembro, na Luz, na noite do primeiro clássico da Liga, julgo que é evidente que o treinador do FC Porto mudou. O treinador que recusou abandonar o campo após ser expulso na Supertaça será o mesmo que vimos abraçado ao treinador do Benfica, quase dois meses depois, na Luz?
Provavelmente cansado de ser o mau da fita, sobretudo após toda a controvérsia gerada a partir do jogo em Aveiro, a 9 de agosto, o treinador do FC Porto nunca mais voltou a parecer o mesmo. Nem nas conferências de imprensa, nem, sobretudo, em campo.
Ninguém pode, evidentemente, prever por quanto tempo vai o treinador portista assumir atitude mais moderada relativamente aos jogos, árbitros, adversários, jornalistas. Mas creio que é inegável a mudança.
Deve, porém, reconhecer-se que o treinador do FC Porto já era um nas conferências de imprensa antes dos jogos - normalmente sorridente, bem disposto, mais afável e cortês - e muitas vezes outro, bem diferente, nas conferências de imprensa depois dos jogos, consoante o resultado. São assim muitos treinadores, aliás, e não apenas um comandante portista.
Mas é o comandante portista que mais vezes vimos pisar sempre demasiadas vezes o risco. Não se trata, apenas, de reagir mal à derrota. Trata-se de exagerar nos protestos, na agressividade, nos insultos, nos gestos, no desrespeito por árbitros e adversários, até jornalistas. Criou o técnico dos azuis e brancos imagem de durão, irrascível, agressivo, indelicado, por vezes grosseiro, sob o inaceitável pretexto de «não gostar de perder».
Após a suspensão com que foi castigado pela expulsão e comportamento na Supertaça, no princípio de agosto, a realidade parece mostrar-nos, na verdade, outra face do treinador do FC Porto (veremos se para durar) e essa nova imagem tornou-se mais clara que nunca, sublinho, após a derrota portista, na Luz, há sensivelmente duas semanas, numa rara demonstração de fair play após voltar a perder esta época com os encarnados.
O tom, apesar de tudo, muitíssimo mais delicado (e normal!) com que se debateu com a derrota diante do maior dos rivais, com a expulsão de um dos seus jogadores e com outras decisões de arbitragem que não lhe agradaram, deixam realmente admitir que o treinador do FC Porto terá refletido sobre a forma de estar, eventualmente até sobre a nobreza de ser reconhecido muito mais pelo grande treinador que indiscutivelmente é do que pelo inaceitável comportamento que foi tendo, neste mundo do futebol no qual já tanta coisa se desculpa, mas nem tudo pode, evidentemente, ser tolerado.
Por entre estas novas reações, era igualmente difícil não ter notado a bondade e o extraordinário exemplo de saudável espírito desportivo com que o treinador portista se dispôs, esta semana, a entrar telefonicamente em direto numa emissão do Canal 11 (da esfera da Federação de futebol) para falar, simplesmente, de futebol e aceitar comentar a ascensão do central portista, Zé Pedro, como os bons adeptos do futebol tanto gostam de ouvir.
Pelo que se sabe, foi o próprio treinador do FC Porto a ligar telefonicamente para participar num programa que naquele momento promovia precisamente o debate sobre o jogador dos azuis e brancos que esta época se viu promovido à equipa principal e apareceu em campo, exatamente, na Luz, por impedimento de alguns dos companheiros.
Não recordo, com toda a franqueza, outro tão saudável momento como o que teve o treinador portista, porque é, infelizmente, muito invulgar ver os treinadores de futebol dos grandes clubes conseguirem ser tão abertos, sobretudo em momentos tão inesperados como este.
Creio que o próprio técnicos dos portistas nunca o tinha feito. Mas acredito mesmo que se homens do futebol com o peso e a dimensão do treinador do FC Porto o fazem, outros o seguirão.
Quero, por outro lado, acreditar que o líder técnico dos dragões reconhecerá ter deixado, naquele telefonema, mais um sinal do seu novo olhar sobre o futebol e a competição.
Não é preciso deixar de ficar furioso, revoltado ou até indignado.
Basta não ser insultuoso, grosseiro, humilhante, difamatório, ofensivo, insolente e provocador.
Se é, por fim, realmente verdade que o treinador do FC Porto mudou, oxalá, então, o tempo não dê cabo disso.
O futebol bem o merece."

1 comentário:

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