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quinta-feira, 6 de junho de 2019

Elas andam aí

"Há notícias boas, há notícias muito boas... e depois há esta.
Os números não enganam: há cada vez mais mulheres a praticar desporto em Portugal. No caso do futebol, a evidência é ainda maior. O desporto-rei é o exemplo perfeito do que é crescimento rápido e estratégico, no feminino. Ano após ano, época após época, há cada vez mais praticantes. Há cada vez mais meninas a fazer aquilo que gostam, aquilo que querem, aquilo que verdadeiramente as preenche, deixando de lado o preconceito démodé (e desde sempre descabido) de que bola é apenas coisa de homem.
Esta emancipação, este salto cultural, é uma lição de vida para todos aqueles que ficaram presos no início do século passado. Uma lição para todos aqueles que ainda pensam que lugar de mulher é na cozinha e lugar de homem é na mesa.
Nada acontece por acaso e o mérito deste boom tem vários rostos, mas o principal é o de quem teve a coragem e a visão de apostar, sem medo e com estratégia, nesta variável.
Há uns anos, a Federação Portuguesa de Futebol desenhou um Plano Estratégico para efectivar o crescimento sustentado do futebol feminino em Portugal. A ideia era aumentar em quantidade, em competitividade e em qualidade, criando condições para que mais mulheres jogassem o jogo que todos gostamos. A aposta, feita de baixo para cima, fez impulsionar o número de competições. Há, hoje, cada vez mais jogos, cada vez mais palcos, cada vez mais praticantes.
Os resultados estão à vista: por esta altura, existem cerca de 5.000 atletas federadas em Portugal. De norte a sul do país, há meninas a jogar à bola em campeonatos distritais ou nacionais. Meninas de todas as idades e de várias localidades. Meninas que são agora mais felizes, mais libertas, mais iguais.
Não estranha, por isso, que a idade média no futebol feminino seja das mais baixas da Europa: não ultrapassará os 22 anos de idade. Se a compararmos com a de outros ligas, mais profissionais, experientes e desenvolvidas, perceberemos a diferença: essas rondam os 25/26 anos de idade.
Está tudo a começar. A começar bem.
Quantas mais mulheres a jogar, mais competitividade, mais interesse público, mais qualidade. Quanto mais mulheres no futebol, mais mediatismo, mais evolução cultural, mais igualdade de género. Mas se é verdade que o número de futebolistas tem aumentado substancialmente, não é menos verdade que tem acontecido (mais ou menos) o mesmo na arbitragem.
Estima-se que existam actualmente cerca de 200 meninas a arbitrar jogos de futebol em Portugal. São poucas, se comparadas com os 4000 árbitros no activo (para uma necessidade real de 10.000), mas mais, muitas mais do que as que existiam há meia dúzia de anos.
E se as competições regionais ainda só têm capacidade para organizar jogos de escalões de formação (quer no futebol, quer no futsal), a nível nacional existem duas categorias distintas: a CF2 (uma espécie de 2ª Divisão Nacional, com 30 árbitras) e a CF1 (uma espécie de 1ª Liga, com 21).
Dessas 52 árbitras pertencentes aos quadros da FPF, 7 têm já o estatuto de internacionais: 3 árbitras e 4 árbitras assistentes.
O crescimento aí, embora menos rico em número, tem sido avassalador em qualidade. O exemplo maior vem da AF Aveiro e chama-se Sandra Bastos.
A árbitra FIFA pertence à Elite da UEFA e encontra-se, neste momento, em França, onde se prepara para dirigir jogos do Campeonato do Mundo de Futebol Feminino. Será a primeira árbitra portuguesa a ser nomeada para a maior competição de selecções de futebol do mundo.
A Sandra, que chegou a ser jogadora federada, abraçou a arbitragem por pura paixão ao jogo. Cumpre agora o sonho de uma vida. O sonho para o qual trabalhou, dura e afincadamente, durante muitos, muitos anos.
Há muitas Sandras como a Sandra. Há também as Sílvias, as Vanessas, as Sophias, as Teresas, as Anas e as Olgas. Há muitas meninas, muitas mulheres, com talento enorme para jogar e para arbitrar. Meninas e mulheres que se dedicam, de corpo e alma, à actividade que mais amam.
São umas heroínas, na atitude, no carácter e na coragem, porque ainda vivem numa realidade descompensada. Numa realidade injusta e arcaica que, por exemplo, ainda paga, a eles, muito mais do que paga a elas. Sozinhas não conseguem tudo mas juntas conseguem o mais importante: mostrar ao mundo que, além do género, mais nada as separa dos homens.
O presente e o futuro são de igualdade, tolerância e respeito. São de oportunidade para todos os que a merecem pela sua competência e pelo seu mérito. Apenas e só por isso.
Quem não vive de acordo com estes princípios, está claramente no planeta errado. E lugar de ET não é aqui."

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