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sábado, 15 de dezembro de 2018

Quem 'matou' a mudança? Suspeito n.º 10 - O ruído na...

"Passava das 22h00, Robert West, Director Geral do F.C. os Galácticos, e o Detective Colombo encontravam-se a mais de 5000 kms de casa. Tinham passado pela La Piedra, para comer a Mariscada, que o Robert adorava e procurava, sempre que o Clube ia jogar a Vigo, e dirigiam-se para o centro, na procura de um local para jantar. O Detective Colombo dirigia um carro emprestado pela organização do jogo e o Robert estava surpreendido pelas luzes, os enfeites, as caixas de presentes, a bola gigante e aquela árvore repleta de leds e os seus múltiplos efeitos.
Era época de Natal, a cidade vivia o Natal e contagiava quem a visitava com esse espírito. Não havia onde estacionar, os parques estavam lotados, até que surge um lugar à esquerda. Pisca, marcha-atrás e de uma só vez, já está, o carro ficou direito, à primeira, o que não era habitual no Detective, quando estacionava do lado esquerdo.
Começam a descer a rua a pé, viram à direita, passam por uma pequena “calle” e surgem os dois primeiros possíveis locais para jantar. Não eram marisqueiras, antes uma hamburgueria e uma cervejaria. Robert entrou na cervejaria, mas de imediato saiu, ainda espreitou a hamburgueria, mas numa troca de olhares, parecia que ambos estavam a dizer o mesmo um ao outro - “vamos procurar outro local”. Poucos metros à frente, voltam para baixo, na Rua de Manuel Núnez e ao surgir uma rua à esquerda, vêm umas pipas pintadas de branco com uma mensagem interessante: “no se recuerdan los dias, se recuerdan los momentos”. Aproximam-se e, do outro lado da rua a pedestre, lá estava “La Taberna de Tony” e as tapas que o Detective Colombo adora. 
Robert é o primeiro a entrar, segue-se-lhe o Detective Colombo. Estava lotado, a sala estava dividida a meio, há umas pessoas que se levantam e libertam uma mesa. Ambos se aproximam, dão um sinal à garçonete, como a pedir permissão e sentam-se. O detective Colombo estava entusiasmado com a ideia de comer umas tapas.
Depois de limpar a mesa, a garçonete coloca uma entrada muito simples de “pan”, “jamon” e “queso”, mas que lhes soube pela vida. Pendem uma tortilha, uns calamares, umas asitas e uma salada. A menina que os atendia disse que era muita comida e acabaram por prescindir da “ensalada”.
O jogo de beneficência, razão da presença da equipa do F.C. os Galácticos na cidade, realizava-se na noite do dia seguinte.
O Detective Colombo e o Director Geral Robert West queriam aproveitar para conversar sobre a situação geral no Clube e verificar se havia mais algum suspeito de estar a “matar” a mudança no Clube. Queriam conversar, desejavam escutar-se um ao outro, pretendiam que o outro ouvisse o que estavam a dizer, mas a música de fundo, o barulho das conversas das outras mesas e as interrupções da garçonete com o pão, depois com as bebidas, seguiu-se a paragem provocada pela chegada da tortilha e pouco tempo depois nova interrupção, agora causada, pelas asitas. Estava tudo delicioso, mas o barulho e as interrupções eram constantes.
O Colombo e o Robert repetiam-se frequentemente para serem compreendidos, outras vezes pediam ao outro para repetir o que tinha dito, pois o que tinham percebido tinha sido demasiado ambíguo. Não se conseguiam escutar, não eram capazes de entender o que o outro queria dizer, começaram a falar cada vez mais alto, para ver se eram escutados e o que deveria ser um momento de prazer, partilha e descoberta, estava a tornar-se num momento a recordar como desagradável.
Chegam os calamares e a sala estava diferente. Menos gente, várias mesas livres, nomeadamente atrás, à frente e ao lado esquerdo. Ao lado direito estava a parede que separava a sala e que tinha uma grande abertura, para a outra parte. A tranquilidade, o sossego, a calma reinavam agora e o Detective Colombo e Director Robert conseguiam escutar-se mutuamente, entender o que o outro queria dizer, como a pergunta do Robert – “Detective Colombo, na semana passada, o Presidente Angie partilhou comigo que começar pelas diferenças, compromete ser-se escutado, entendido e compreendido e pediu-me para convidar o Detective a acompanhar a equipa nesta digressão, como sinal de agradecimento pelos muitos contributos que está a prestar à melhoria do Clube e também para saber se descobriu mais algum culpado. Tem ideia de mais algum culpado de estar a “matar” a mudança no Clube?”.
“Agradeço imenso a oportunidade de visitar outro país, acompanhar a equipa, conhecê-lo melhor e claro saborear estas deliciosas tapas” – começou por dizer o Detective Colombo, que quando visitava Espanha não trocava tapas por nenhuma outra iguaria e continuou – “como sabe, nos últimos meses, tenho acompanhado toda a vida do Clube, como observador. Presenciei reuniões, palestras nos balneários, discursos, entrevistas e um sem número de momentos em que as pessoas comunicavam e verifiquei que há um factor comum a muitos destes momentos, que os compromete”.
Robert levanta ligeiramente o queixo, chega os ombros ligeiramente para a frente, como a preparar-se para ouvir melhor, enquanto o Detective Colombo continuou – “lembra-se o que se passou hoje durante este jantar?”. “Como assim Detective?” – perguntou o Director Geral Robert West.
“Como relembra o momento da nossa conversa, antes dos calamares chegarem à mesa?” – perguntou o Detective. “Havia muito barulho, muita gente a falar ao mesmo tempo, muitas interrupções, isso levou-nos a repetir o que dizíamos e a sistematicamente perguntar ao outro o que queria dizer” – e dada a relação de amizade que tinha estabelecido com o Detective, o Director Robert arriscou em ir mais longe e continuou – “levou-me a sentir alguma tensão e frustração, a ter que fazer um enorme esforço para o perceber e me fazer entender. Não fosse importante o que tinha para dizer e escutar e teria desistido e concentrado apenas nas tapas”.
“Como recorda o momento, depois de chegarem os calamares?” – explorava o Detective Colombo. O Director Robert reflectiu um pouco e percebeu que realmente tinha havido uma enorme diferença na interacção e no resultado da conversa de ambos depois do calamares serem colocados na mesa e aquelas gotas do limão os apurarem e disse – “as interrupções pararam, conseguimos ouvir concretamente o que o outro dizia, o que escutávamos era consistente, a nossa conversa foi muito concreta e fomos capazes de explorar a situação, em vez de explica-la e tudo isso não só foi muito agradável, me fez sentir bem, como permitiu que nos entendêssemos e que o que ouvíamos correspondia exactamente ao que o outro dizia”.
A refeição tinha terminado e ambos ansiavam por um café e enquanto o bebiam, o Detective Colombo começou por dizer - “Director Robert as muitas entrevistas, os vários discursos, as múltiplas palestras e as diversas reuniões a que tenho assistido têm revelado mais um dos culpados de estar a “matar” a mudança no Clube: o ruído na comunicação” – e aproveitando a sua pausa, o Director Robert construiu – “quer isso dizer que quando as pessoas (sejam elas Presidente, Director, Treinador, Médico, Fisioterapeuta, Jogador, Adepto, Pai e Mãe, Líder ou Colaborador) querem mudar alguma coisa e para isso necessitam de comunicar as suas ideias, se não removerem ou pelo menos reduzirem substancialmente as explicações, as redundâncias, as interrupções, as contradições e as ambiguidades, isto é, o ruído na comunicação, então a probabilidade das outras pessoas escutarem e entenderem o que realmente disseram fica comprometido e consequentemente também as hipóteses de mudança” – sintetizou o Director Geral Robert West.
Já passava da meia-noite e meia, acertada a conta e a devida gorjeta, pois perceberam que a garçonete zelou pelos interesses de ambos, quando sugeriu que estavam a fazer demasiados pedidos e os foi servindo com simpatia, ambos se dirigiam para a porta, quando pararam antes dos quatro degraus de acesso à rua. Havia uma grande passagem, para a outra parte da sala. Contemplaram-na, assim como apreciaram a tranquilidade, que contrastava com o barulho e rebuliço do momento de chegada. 
Subidos os degraus e chegados à rua, o Director Robert West olha para trás, pega no telemóvel e tira uma foto e a ela associou: mais um momento de crescimento, resultado de ter descoberto mais um responsável de estar a “matar” a mudança no Clube, mas também em algumas organizações, equipas e famílias, o ruído na comunicação; a diferença de sentimentos entre os momentos com e sem ruído; e o distinto discurso interno, agora a dizer a si próprio “vou aproveitar esta oportunidade de remover ou, pelo menos, reduzir o ruído no canal da comunicação, para melhorar a vida do Clube, mas também a minha e das pessoas com que me relaciono”.
Voltam a cruzar-se com as mesas brancas em forma de pipa, mas agora reparam que tem umas folhas e uvas pintadas, para além da mensagem que releram - “no se recuerdan los dias, se recuerdan los momentos” - e ambos pensam - “este é um dos momentos para recordar”. Viram à esquerda e lá estava a bola de Natal gigante. O Detective Colombo tira uma foto e faz um post no seu Facebook, com a mensagem a todos os seus amigos: “A Todos um Bom Natal”."

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