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domingo, 25 de novembro de 2018

Desfazendo alguns mitos

"Um jogo oficial será, sempre, bem mais interessante e entusiasmante do que um particular. Para quem o vê e para quem o joga

Respeito a opinião de quem não se entusiasma com a Liga das Nações. Estão, claro, no seu direito. Não há, afinal, memória de algo novo que consiga reunir consenso imediato. Respeito, portanto. Mas não concordo. Permitam-me também ter a minha opinião. E, já agora, expor os argumentos porque a olho de forma diferente:
1 - Da competição: Será, talvez, aquele em que todas (mesmo aqueles que dela não gostem) estamos de acordo: concorde-se ou não com o modelo, a Liga das Nações será, sempre, bem mais interessante do que os enfadonhos e inócuos encontros particulares que acabou por substituir. Ainda os há (e talvez sejam importantes para ver em acção quem, em competição, poucas oportunidades teria de ter chamado), mas em vez de seis - ou sete, ou oito... - ficam limitados a uns dois/três. De resto, joga-se a sério. O que é, sempre, bem mais interessante e entusiasmante, para quem vê e, também, para quem joga.
2 - Do interesse dos clubes: Outro argumento apresentado pelos mais críticos prende-se com o aproveitamento das federações dos jogadores pagos pelos clubes numa competição que, dizem, só serve para as fazer mais ricas. É um facto. São os clubes que lhes pagam os ordenados. E, mesmo que também eles recebam das federações uma verba pela presença dos seus jogadores nas selecções, nunca ela chegará para cobrir o investimento. Verdade. Mas isso não é de agora. Foi sempre assim. E os melhores clubes - que normalmente são os que têm os melhores jogadores - com isso sofrem mais do que os outros, porque as federações chamam, quase sempre, os melhores. E chamam-nos agora para jogos oficiais, como antes os chamavam para jogos particulares. Não mudou nada. E, convenhamos, é raro ouvirmos um jogador queixar-se de ser chamado à sua selecção. Pelo contrário, alguns amuam por não sê-lo. E até os clubes fazem, mesmo que de forma não assumida, pressão para ter lá os seus futebolístas - quantas polémicas houve, até em Portugal, à volta de convocatórias da Selecção? É, portanto, uma falsa questão. Porque chegar às selecções também valoriza um futebolísta. E muitas vezes são os clubes quem com isso mais lucra. Ficam mais sujeitos a lesões por estarem envolvidos numa competição oficial? Talvez. Mas é relativo, como se percebe facilmente: Mbappé lesionou-se ao serviço da França na Liga das Nações, é verdade; Neymar lesionou-se ao serviço do Brasil, num... particular.
3 - Das finanças: É a Liga das Nações uma mais-valia financeira para a UEFA e para as federações? Sim. Há algum mal nisso? Não me parece. Tal como não me parece que, falando por exemplo do caso português, seja por essa razão que a Federação por ela se apaixonou: com uma selecção que é campeã da Europa e que conta (ou que já contou e voltará a contar, vá...) com o melhor jogador do mundo, facilmente encontraria a FPF forma de, com três ou quatro particulares, ganhar o mesmo - ou mais... - do que pode ganhar na Liga das Nações. Além disso, é esse dinheiro que permite, depois, o investimento no futebol português, caso do campeonato sub-23 ou da implementação do VAR, só para dar alguns exemplos. Convém termos noção de que tudo isto custa dinheiro. Que não cai do céu. Todos ganham, portanto, com o que ganha a Federação. Até os clubes.

Quiseram criar, há uns meses, o mito de que precisava mais Cristiano Ronaldo do Real Madrid do que o Real Madrid de Cristiano Ronaldo. Percebe-se que era conversa para enganar os tolos. É verdade que nenhum jogador é maior do que qualquer clube, mas isso não significa que um clube (mesmo que se chame Real Madrid...) possa dispensar um futebolista como Cristiano e pensar no pasa nada. Foi esse o grande erro de Florentino Pérez. E não demorará, estou seguro, a responder por ele."

Ricardo Quaresma, in A Bola

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