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sábado, 6 de janeiro de 2018

O mistério do futebol

"Já não dá para brincar com o futebol. O futebol é um assunto mais sério do que a lei de financiamento dos partidos políticos. As reuniões clandestinas dos deputados em comparação com a mão do Coentrão são uma brincadeira, um assunto menor que deve ser discutido à mesa do café entre a bica e o bagaço. Já o futebol não. O futebol é um tema para filósofos. Dantes, há meia dúzia de anos, havia quem perdesse a cabeça com o futebol mas era só: há malucos em todo o lado. Hoje, esses doidos que perdem a cabeça com o futebol tomaram conta do horário nobre e abrem telejornais. Não tem graça.
Há anos que gozo com os meus filhos por eles serem do Sporting e pela importância que eles dão quer ao futebol quer ao Sporting. Eles ofendem-se imensas vezes mas já lhes expliquei que é uma questão de educação: levar a sério o futebol ou é trágico ou é cómico, logo, tem de ser cómico. O facto de eles serem do Sporting ajuda a parte cómica: é fácil gozar com o Sporting. O Sporting tem uma particularidade bastante engraçada que é não perder à grande, ele perde devagarinho, vai perdendo com calma, tipo moinha nos dentes. Aguenta, aguenta e depois perde ou empata. Eu vou beber um copo de água e quando chego o Sporting sofreu os golos que faltam para perder ou empatar. É um clássico. Ora, isto só dá para gozar. Há anos que é assim e há anos que eu gozo com os meus filhos, que não conhecem outra realidade senão esta. Nos últimos tempos tenho sido condescendente, uma vez que eles estão cada vez menos irracionais e conforme crescem vão-se tornando adeptos comedidos, adeptos a medo. Veem os jogos em silêncio mas com o coração aos saltos, a disfarçar a ansiedade. Já não argumentam que são os melhores na maioria das modalidades (dos patins ao berlinde), ou que têm a melhor academia do mundo. Já não argumentam, apenas rezam baixinho e comem uma passa no Ano Novo dedicada ao Sporting. Estão cansados, os pequenotes.
Perante isto cheguei ao cúmulo de até eu torcer pelo Sporting. Juro. No último jogo contra o Benfica, eu - adepta da Luz que cresci a ver Jordão contra Nené - desejei em silêncio que o Sporting ganhasse aquele jogo só para ver os meus meninos a sorrir, para ter a alegria de ser eu a achincalhada naquela noite. Por uma vez. Mas não. Nem assim. Nem com as minhas orações silenciosas sustentadas num amor de mãe que atravessa inconscientemente a 2.ª Circular o Sporting ganha. Empatou, é certo, está à frente, sim. Mas não ganha. Não consegue, é mais forte do que ele. Não fosse o Sporting e o futebol era a coisa mais chata depois do debate quinzenal com primeiro-ministro. Mas ganhem, meu Deus. E juro que vou ao Marquês com uma camisola do Benfica. (Como é que se consegue falar a sério sobre isto é um mistério)."

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