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segunda-feira, 15 de maio de 2017

Feito histórico

"Para aqueles que duvidavam deste Benfica veio, mesmo no final do campeonato (...) uma demonstração inequívoca de qualidade.

1. Ontem foi um doa singular para e em Portugal. Para Fátima, para o Benfica e também para Salvador Sobral. Ontem Portugal mostrou ao Para Francisco a sua fé e Salvador Sobral evidenciou à Europa a sua voz e com uma canção cuja letra, bem doce, nos embala e nos motiva. Mas ontem aconteceu história no Estádio da Luz. O tetra sonhado e ambicionado concretizou-se com uma exibição de sonho. Com momentos de gala de futebolística. Escreveu André Malraux que «a razão de qualquer fé é trazer-nos a certeza». O tetra já está. Já cá está. E o troféu fica, e muito bem, no cada vez mais visitado Museu Cosme Damião. Não é esta conquista o fim de nada. É sim a continuação vitoriosa de um projecto. É mais uma conquista. Bem deliciosa para os benfiquistas. A começar por Luís Filipe Vieira. Bem dolorosa para alguns que são tão só anti-benfiquistas. Como bem se sente e muito se presente.

2. Foi este tetra uma conquista bem emotiva. Como foi o caso da Ana - mais a Isabel - que peregrinou - caminhos pelos campos! - mais de cento e cinquenta quilómetros até Fátima e regressou com a fé inabalável de festejar o tetra do seu clube do coração e do seu emblema de paixão. E foi uma conquista merecida. Num jogo bonito, bem conseguido, convictamente assumido. E foi uma conquista de uma verdadeira Família. O mesmo Malraux escreveu que «não há cinquenta maneiras de combater há apenas uma: a do vencedor». O vencedor desta Liga NOS - e escrevo de propósito e em plena consciência cívica - é o Benfica. Trinta e seis vezes vencedor desta prova nas suas diferentes designações semânticas. Agora campeão quatro vezes seguidas. Pela primeira vez na sua rica história. Com consciência que é uma vitória que honra este concreto presente. E todos aqueles que o ajudaram a concretizar e foram determinantes para a sua construção. Do sócio quase duzentos mil ao Presidente. Do sócio acabado de nascer a todos aqueles que fazem do diamante o seu símbolo associativo. Do Luisão, sereno capitão, ao entusiasmante Paulo Lopes que merece jogar uns minutos no Bessa. Do Jardel, do Fejsa, do André Almeida ou do Sálvio que sentiram na plenitude o tetra ao Cervi, ao André Horta, ao Rafa, ao Carrillo, ao José Gomes ou ao Zivkovic, entre outros, que viveram o seu primeiro título. E não nos esquecemos de Júlio César, de Eliseu, de Samaris, de Mitroglou ou de Raúl Jiménez, que levaram a noite passada milhões de homens e mulheres, de todas as idades, cores e religiões, a diferentes rotundas de todo o Mundo. E em especial à Rotunda do Marquês, o imenso ponto de encontro de uma alegria contagiante. E merecida.

3. A alegria do tetra teve ontem dois momentos esplendorosos. O passe extraordinário de Ederson para o golo de Raúl e o cantado chapéu de Jonas num instante de virtuosismo que embala e encanta ao mesmo tempo. Mas ontem na Luz vivemos larguíssimos minutos de elevada nota artística. Para aqueles que duvidavam deste Benfica veio, mesmo no final, e para lá da dita ansiedade, uma demonstração inequívoca de qualidade e de verdadeira excelência. Foi um jogo que mostrou a todos que «a honra é a poesia do dever». O dever do vencedor é evidenciar claramente que merece ganhar, que merece conquistar, que merece receber o troféu. Mais um. O trinta seis. Foi o que aconteceu ontem na Luz. Foi um momento histórico. Foi uma noite que fica na História. Um feito histórico. Sabendo que a história, tal como a vivemos e construímos, é uma ponte entre o passado de que nos orgulhamos e o futuro que legitimamente ambicionamos.

4. Ontem vivi um dia especial. Reconfortante e estimulante. De manhã em Fátima senti a força intensa do Papa Francisco. Com o seu sorriso contagiante que nos faz aderir e nos enriquece. Ao final do dia, na Luz, e na linha de Tolstoi, assumi que «a fé é a força da vida. Se o homem vive é porque acredita em alguma coisa». Acredito no meu Deus, sabendo que sou pecador. Assumindo também a fé que tantos milhões agregou. Mas também, em distinto plano, vibro com o Benfica. Combinando emoção e razão. Mas proclamo que em Fátima as lágrimas me escorreram ao ver e ao escutar o Papa Francisco. E digo, sem vergonhas, que à noite em emocionei com este momento singular de conquista do Benfica. Olhei para o Rui Vitória - e a sua equipa técnica - para o Shéu e para o Lourenço Coelho e, na distância curta entre a bancada e o relvado envolvi-os num abraço fraterno. É que fraternidade é um encontro de uma responsabilidade concretizada. E desta forma se assume que «só juntos vencemos». E juntos conquistámos o tetra. um feito histórico. Um feito com história. E por isso a edição deste jornal merece ser guardada. Com carinho e com amor. Palavras que valem para os crentes, para os que amam a música e para aqueles que sentem com fervor, o clube do seu coração e da sua permanente paixão. Este 13 de Maio ficará na história de Portugal."

Fernando Seara, in A Bola

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