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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Lá, onde o condor passa...

"Sotil e Cubillas foram dois dois maiores jogadores do Futebol peruano. Jogaram juntos no Alianza Lima em 1977. Mas em Janeiro de 1971 foram eleitos para uma equipa mista à qual cabia defrontar, em Lima, o grande Benfica do grande Eusébio.

HOJE vou aqui falar do Peru. Não daquele peru do cabaz do Natal que se aproxima aí a toda a velocidade, mas do Peru país, local lindíssimo da América do Sul, encostado ao Pacífico, terra de incas e de Atahualpa Yupanqui. E de Machu Pichu e do voo interminável do condor.
O peru que se recheia e se torna uma iguaria natalícia pode ter vindo do Peru país, embora os ingleses estejam convencidos de que veio da Turquia, e por isso lhe chamam turkey, mas o nome Peru veio de Birú, senhor da Baía de San Miguel, no Panamá e das terras circundantes e que ainda fazia sentir o seu poder quando desembarcaram na região os terríveis homens de Pizarro nas suas armaduras brilhantes que os faziam parecer extra-terrestres com um brilho ganancioso de ouro nos olhos negros.
Falo do Peru e falo de Sotil, por exemplo. Hugo Alejandro Sotil Yerén, conhecido por El Cholo, o índio, Avançado de recursos ímpares que chegou a jogar no Barcelona entre 1973 e 1977, sendo colega de Cruyff.
Sotil é tido como um dos maiores nomes do Futebol peruano de todos os tempos, tendo estado presente com a sua selecção nas fases finais dos Mundiais de 1970 (no México) e de 1978 (na Argentina), além de ter vencido a Copa América de 1975.
Entre 1968 e 1973, Sotil jogou no Deportivo Municipal. Depois de regressar de Barcelona esteve um ano no Alianza Lima. Mas não tarda já vos vou falar de 1971, que para o caso é o ano que interessa.
Pelo caminho, explico. O Alianza Lima foi o primeiro grande clube peruano do início do profissionalismo no país, nos anos 50. Depois, o sucesso manteve-se nas décadas seguintes até à tragédia do dia 7 de Dezembro de 1987, quando o voo de regresso de Pucallpa, onde jogara para a liga, se despenhou no mar perto do aeroporto de Lima/Callao. Todos os jogadores e técnicos morreram.

Alinharam os dois juntos
O Deportivo Municipal, clube de Lima («La Fea» como é conhecida), é um dos clubes mais populares do Peru e que conquistou lugar na lenda do Futebol do país logo após a sua fundação, em 1935.
No dia 15 de Janeiro de 1971, o Deportivo Municipal e o Alianza Lima fizeram uma aliança. Formaram uma equipa a meias para defrontar um convidado especial que chegava da Europa. Ou melhor, dois convidados muitos especiais: o Benfica e Eusébio.
A grande figura do Alianza Lima, talvez o melhor jogador peruano de sempre, chamava-se Teófilo Cubillas. Este nós conhecemos bem. E este nós refere-se, como é evidente, a quem tem idade para o ter visto chegar ao FC Porto em 1973 e espalhar classe no Campeonato português até 1977, embora sem ganhar títulos que se vissem.
Sotil e Cubillas viriam a jogar juntos com a camisola do Alianza Lima na época de 1977/78. Cubillas marcou 42 golos e Sotil 23. Está claro que foram campeões.
Em 1971 sonhavam com a Europa. O El Dorado deixara de ser nos contrafortes dos Andes e transferia-se para Espanha, para Itália, para França. Cubillas ainda jogou no Basel da Suiça antes de assinar pelo FC Porto.
Nesse final de tarde em que o Benfica jogou contra um misto do Deportivo Municipal e do Alianza Lima actuaram lado a lado sem desconfiarem que o futuro os viria a juntar numa camisola só. Defrontaram o grande Benfica e o grande Eusébio. 43 mil pessoas encheram, ávidas, o Estádio Nacional. E o Benfica venceu, por 2-1. Com um dos golos a ser marcado por Eusébio, o primeiro, num remate fulminante de livre directo. Nené faria 2-0, aos 4 minutos da segunda parte, os peruanos reduziram por Mosquera, após grande jogada de Sotil. José Henrique defendeu um penálti de Cubillas.
Era um tempo em que nem o Benfica nem Eusébio falhavam o encontro com a História. E diziam presente.
Quem sabe se, ao ritmo do jogo, como música de fundo, se ouviu «El cóndor pasa», essa zarzuela do compositor peruano Daniel Alomía Robles? E que, ao fim ao cabo, Paul Simon e Art Garfunkel tornaram famosa em todo o Mundo."

Afonso de Melo, in O Benfica

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