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quarta-feira, 9 de março de 2016

O plebeu e o nobre

"O Sporting possui o plantel mais equilibrado na relação quantidade/qualidade, sendo, por isso, o que melhores condições reúne para atacar a ponta final do campeonato.

Rui Vitória não vai fazer isso, porque é educado e o quanto já alcançou na sua vida profissional, como treinador de futebol, foi com muito empenho e pouca conversa. Ninguém poderia levar-lhe a mal, porém, se resolvesse deixar de olhar para a cara de Jorge Jesus devido às campanhas de má camaradagem que este lhe tem movido, através de afirmações e outros sinais de uma jactância intolerável.
Desde o «deste tamanhinho» a uma «espécie de treinador», entre outras insinuações veladas como se o Benfica estivesse impedido de encontrar no mercado alguém com perfil e competência para o substituir quando decidiu mudar-se para o rival Sporting, a troco de uma remuneração que era escandalosa e passou a ser ofensiva, em comparação com a realidade social de um país em que os governantes são bons a pedir sacrifícios aos que apenas vivem do seu trabalho, remediados e sem conseguirem enxergar o fim da crise.
A sua megalomania exigia que o lugar deixado vago fosse preenchido por um deus, ou equivalente, motivo pelo qual me parece que a aversão dispensada ao seu sucessor no clube da águia não tenha a ver com o cidadão Rui Vitória em especial. Com outro qualquer humano a reacção seria provavelmente idêntica...

JESUS reagiu à derrota como lhe é habitual, esgrimindo desculpas e apontando responsáveis, embora em tom crispado e deselegante. Nenhum treinador gosta de perder, é normal, mas não saber perder é diferente, significa falta de respeito por quem ganha; ou seja, a perversão dos mais elementares princípios que devem presidir a todos os eventos desportivos, profissionais ou não.
Jesus tropeça nas suas frequentes contradições e é de frágil memória. Pouco tempo passou desde a exuberante apresentação em Alvalade, ao lado do não menos contido presidente, de braço dado e aos saltinhos, em que se prometeram sonhos a uma plateia inebriada e sem disponibilidade para pensar no que ouvia. Normal, é o lado irracional do futebol a emergir. Tudo bem, acabara de ser contratado um génio roubado ao Benfica: medida aplaudida pelo atrevimento e pelo colapso que se supunha provocar na organização do vizinho.
Errado, como se verifica: nem o Benfica colapsou, nem o Sporting cresceu como se julgava.
Pelo contrário:
1. Falhanço no acesso à Liga dos Campeões com o rombo financeiro decorrente, assinalado pelo presidente em mais de uma ocasião.
2. Estranha abordagem na Liga Europa, chegando a ser classificada como um problema, apesar da riqueza do plantel, com condições para chegar longe na competição, talvez à final e, sabe-se lá, vencê-la.
3. Eliminação da Taça de Portugal.
4. Discreta presença na Taça da Liga. Ganhou a Supertaça (e ao Benfica!...), é verdade, mas Marco Silva conquistou a Taça de Portugal e mesmo assim foi despedido...
Sem mais nada que o preocupe, ficou reduzido, enfim, ao Campeonato, objectivo supremo e suposto analgésico para todas as dores. De aí a incontinência revelada por Jesus na análise ao derby de sábado, na sequência do qual, quer queira, quer não mais uma vez se verificou que essa coisa de mestre da táctica não passa de uma falácia, que já esta época Paulo Fonseca desmontou e Rui Vitória confirmou.

À 25.ª jornada dá-se o caso de o aprendiz somar mais dois pontos que o génio. É uma evidência, simplesmente, da qual nenhuma interpretação apressada deverá extrair-se em termos de futuro próximo, na medida em que, também já o expressei, o Sporting possui o plantel mais equilibrado na relação quantidade/qualidade, sendo, por isso, o que melhores condições reúne para atacar a ponta final do Campeonato não só pelo investimento feito no início da temporada e sublinhado no mercado de Janeiro com as entradas de Marvin Zeegelaar, Bruno César, Coates, Schelotto e Barcos, mas também e sobretudo, por o Benfica atravessar um período de necessária transição e renovação, correspondente a mudança de ciclo, enquanto o FC Porto continua à deriva.
O título vai decidir-se, portanto, entre a humildade de Rui Vitória e a altivez de Jorge Jesus, traços de personalidades distantes e que, saberes à parte, traduzem a génese dos clubes que representam: o Benfica nasceu no povo e o Sporting na nobreza."

Fernando Guerra, in A Bola

1 comentário:

  1. Oh, Zeegelar, Bruno César, Coates, Schelotto e Barcos são daqueles jogadores que se compram à molhada, quase como as couves para plantar na feira.

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