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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Em contramão

"A história ensina-nos que, no futebol, os clubes nasceram primeiro que as federações e estas antes que as confederações continentais ou mundiais. Essa hierarquização surgiu como forma natural de controlo do poder discricionário dos clubes, especialmente a partir do momento em que estes começaram a profissionalizar os seus jogadores, o que aconteceu nos finais do século XIX em Inglaterra. Com dinheiro para pagar aos melhores jogadores, os clubes não conseguiram garantir, ainda assim, que isso lhes valesse a conquista de títulos. E quando alguns procuraram exacerbar esse poder do dinheiro, lá estavam as instituições para manter os princípios da verdade desportiva.
A proposta dos clubes portugueses para se acabar com a nomeação dos árbitros, substituindo-a por um sorteio sem princípios de exigência, e pior ainda reclamarem o direito a interferir na própria avaliação do desempenho dos juizes, é um sinal desesperado de que deixaram de acreditar no seu próprio trabalho. Deixaram de acreditar na competência dos treinadores que escolhem, dos jogadores que contratam, tantas vezes pagos a peso de ouro, de acreditar na verdade desportiva.
Ao quererem um regresso a um passado que a história se encarregou de reprovar, os clubes estão a dizer aos adeptos que também não acreditam na sua paixão e no seu apoio, antes estão apenas preocupados com o dinheiro que deixam nas bilheteiras ou no pagamento de quotas. Ao reclamarem o regresso ao sorteio dos árbitros, os clubes estão a dizer aos portugueses que todo o futebol europeu está errado. Fazem lembrar aqueles motoristas que circulam em contramão numa autoestrada e dizem que são os outros que vão em sentido contrário. Até se despistarem, quantas vezes matando-se a si e, pior do que isso, a outros."

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