"Não dou para o peditório das arbitragens. Ouvir o Porto a queixar-se de quem é levado ao colo é como ouvir o Presidente da República a lamentar-se das suas reformas. Haja, pelo menos, algum decoro. Quero, por isso, falar-vos de um outro acontecimento desta semana. Daqueles que dá menos manchetes mas faz muito mais pelo futebol.
Ao intervalo do jogo do Sporting com o Beira-Mar olhei para o espaço onde costuma estar a Torcida Verde. Sendo civilizada, mostra como o apoio organizado pode estar a léguas da violência. Costumam dar voz, através dos seus cartazes no estádio, a reivindicações dos sócios. No último domingo fizeram um merecido elogio à direção. Era qualquer coisa como isto: “17h, finalmente um horário decente”.
Já defendi aqui que uma alteração simples pode fazer toda a diferença. Jogos à tarde trarão mais gente aos estádios. Mais importante: trarão gente diferente. Famílias, mulheres, crianças. Numa noite de domingo só aparecem os indefetíveis. O que muitos têm defendido ficou provado no último jogo. Num péssimo momento do Sporting e num jogo que não era o mais importante, estavam mais de 38 mil pessoas em Alvalade. Muito mais mulheres e crianças. Terão ajudado os bilhetes gratuitos para menores de 11, uma experiência a repetir muitas vezes. O ambiente, sentia-se, era logo outro. Se os clubes querem depender menos dos operadores de televisão, ter estádios cheios, ter mais receitas de bilheteira, ganhar mais adeptos (desde cedo) e ter menos violência nas bancadas, mudem todos os jogos de fim-de-semana para as tardes de sábado e de domingo, baixem um pouco o preço dos bilhetes e criem condições para os miúdos irem à bola com frequência. A experiência está feita. Resulta."
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