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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Com mais onze Coentrões teria sido melhor

"DOMINGO, 15 DE MAIO


PRONTO. Agora é que acabou mesmo o campeonato finou-se com mais um resultado desconsolador, um empate frente ao União de Leiria, e com Fábio Coentrão a receber uma agradecida e calorosa salva de palmas vinda das bancadas, quase em regime de excepção visto que os demais colegas foram frequentemente vaiados ao longo do jogo e no final, o que é lamentável.

Coentrão foi, na verdade, a excepção neste Benfica de 2010/2011 e por isso não é de estranhar o carinho que recebeu do público. Aquela malta percebe de futebol e quis recompensar Coentrão. Não é a primeira vez que tal acontece no Estádio da Luz. No final da época de 2000/2001, outra época medíocre, também Pierre Van Hooijdonk e Robert Enke, os únicos que se salvaram do desastre geral, deram uma volta ao relvado no fim do jogo da última jornada do campeonato, para receberem do público a recompensa devida.

Dizem os jornais que os aplausos a Coentrão caíram mal no balneário benfiquista porque uma equipa de futebol são onze, o que não deixa de ser verdade e o que explica a época toda. Com onze Coentrões teria sido bem diferente.

Honestamente, o campeonato para o Benfica acabou logo à quarta jornada, ainda um bom bocado antes do tempo das vindimas. Com três derrotas nos primeiros quatro jogos da prova, os campeões em título capricharam num arranque que tão cedo não será esquecido pelo que teve de caricato. E no futebol a sério não há nada que mande mais abaixo uma equipa do que deixar-se posar para a caricatura que é sempre impiedosa no exagero dos defeitos.

E se não é mentira que foram medíocres e tendenciosas as arbitragens de Cosme Machado, no jogo inaugural com a Académica, e de Olegário Benquerença, no jogo de Guimarães, à quarta jornada, também é verdade que o Benfica se pôs muito a jeito para o conflito com os corporativos do apito ao produzir um futebol sem fio e sem brio, excessivamente dependente das decisões dos árbitros para fazer valer a justiça dos resultados que lhe interessavam mas que não interessavam nada aos seus rivais e adversários mais ou menos históricos.

Há quem defenda que o momento decisivo da época foi logo em Agosto, ainda em tempo de praia, quando o Benfica foi a Aveiro discutir a posse da Supertaça com o FC Porto com uma tal tranquilidade de espírito que só podia acabar em desaire, tal como acabou.

Outros encontram razões mais específicas. E culpam o guarda-redes. Culpam Júlio César por ter cometido uma falta para penalty no jogo da terceira jornada com o Vitória de Setúbal, tendo-se feito expulsar e, obrigatoriamente, feito substituir por Roberto que já estava a posto no banco depois de duas exibições altamente comprometedoras do campeonato. E, não menos embaraçante, depois de toda uma pré-temporada em que o gigante espanhol se foi comprometendo sempre que chamado a justificar o investimento.

Há, portanto, quem entenda que o momento-chave desta temporada aconteceu precisamente nesse jogo com o Vitória de Setúbal quando Roberto saltou do banco para ir defender a grande penalidade e, para espanto geral e, se calhar, para seu próprio espanto, adivinhou que Hugo Leal ia rematar para o seu lado direito, atirou-se, e sacudiu a bola com destreza, salvando o resultado e salvando-se a si próprio como guarda-redes titular do Benfica até ao final da época.

Tal como este Benfica de 2010/2011 chegou a ter um comportamento competitivo brilhante, entre Novembro e o princípio de Março, quando perdeu em Braga pondo fim a uma série empolgante de 18 partidas a vencer, também Roberto, depois desse seu arranque aterrorizador, se exibiu em bom plano ao longo da temporada. Esteve em bom plano até ao jogo da segunda volta com o FC Porto, na Luz, em que foi muito mal batido no primeiro golo. No segundo golo do FC Porto, de grande penalidade apontada por Hulk, calhou-lhe ter a sorte de adivinhar que o brasileiro ia rematar para o seu lado esquerdo, atirou-se mas não se atirou o suficiente para impedir a bola de entrar na baliza.

Também se deve dizer em abono da verdade que Hulk marca muito melhor grandes penalidades do que Hugo Leal.

Se Roberto tivesse conseguido defender o penalty de Hulk impedindo o FC Porto de fazer a festa do título às escuras na Luz, talvez o Benfica, com outro moral, tivesse partido para a ponta final da época com capacidade para assegurar a presença nas meias finais que tinha em mente, a Liga Europa e a Taça de Portugal e, de uma maneira ou de outra, teria a época política e desportivamente salva.

Mas não foi nada disso que aconteceu.

Jorge Jesus vai ficar mais uma época. Foi uma boa decisão de Luís Filipe Vieira. Com Jesus o Benfica ganhou 3 títulos oficiais e, sobretudo, com Jesus o Benfica foi capaz de jogar o melhor e o mais empolgante futebol depois de muitas, mas mesmo muitas épocas a jogar pouco e ganhar nada.

A próxima época apresenta-se por tudo isto aliciante de desafios para Jorge Jesus e também para Vieira, ambos por inerência de cargos que são tudo menos eternos neste mundo do futebol e das paixões.




SEGUNDA-FEIRA, 16 DE MAIO


O FC Porto e o Sporting de Braga partiram hoje para Dublin. O presidente da Câmara de Braga disse à partida que o adversário mais fácil nesta Liga Europa foi o Benfica. Não é bem assim. O percurso do Sporting de Braga teve grande mérito mas eliminar o Benfica a equipa de Domingos Paciência teve de sofrer e trabalhar muito e ainda teve ajudas dos postes e das traves, enfim, é futebol.

O presidente do FC Porto também não quis deixar de falar no Benfica ainda no aeroporto de Pedras Rubras. E disse que o seu clube tinha chegado à final «sem batotas» e «sem golos com a mão», aludindo ao golo de Vata com que o Benfica afastou o Olympique de Marselha para chegar à final da Liga dos Campeões em 1990.

Francamente, não se entende a acuidade deste remoque de Pinto da Costa. Nunca se ouviu ninguém insinuar que o FC Porto chegou à final da Liga Europa com golos com a mão. Foi apenas com marisco que os espanhóis da Marca quiseram denegrir o percurso dos campeões portugueses até Dublin.




TERÇA-FEIRA, 17 DE MAIO


DOMINGOS PACIÊNCIA vai levar consigo o central Rodriguez para Alvalade. O guarda-redes Artur, entretanto, terá assinado pelo Benfica. Sílvio está certo no Atlético de Madrid. O desmantelamento público do Sporting de Braga nas vésperas da sua final da Liga Europa é assumido sem qualquer tipo de preocupação face à importância da final europeia que se aproxima.




QUARTA-FEIRA, 18 DE MAIO


VI a final da Liga Europa com grande interesse porque se diz que Artur, o guarda-redes do Sporting de Braga, será jogador do Benfica na próxima época. Esteve muito bem. No golo de Falcao muito dificilmente poderia fazer melhor. O colombiano apareceu-lhe pela frente e embalado e não deu hipóteses. Antes e depois desse lance que decidiu o resultado, Artur não tece mais nada que fazer.

E foi com grande frescura que se apresentou na área de Helton, nos instantes finais, para tentar ser ele o homem-golo que, ontem, o Braga nunca teve. E foi assim mesmo que a final de Dublin acabou: uma bola pingada para a área do FC Porto e Artur, de cabeça, a desviá-la para as mãos de Helton que segurou sem grande incómodo. Teria sido um inesquecível golo do Benfica.

Mas não há nada a opor à vitória do FC Porto. Até porque também o Sporting de Braga pouco se opôs embora ainda tivesse tentado."


Leonor Pinhão, in A Bola

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