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sábado, 3 de agosto de 2019

A música da Supertaça: o tirolirofica e o tirolirorting

"A saudosa Amália Rodrigues, a nossa musa eterna, falou-nos certa vez de dois tipos que se juntavam na esquina e tocavam alegremente, sem preocupações, distraindo quem passava nas proximidades e quem arranjava prontamente motivo para sorrir. SL Benfica e Sporting CP fazem-no desde 1 de Dezembro de 1907, quando numa tarde tenebrosa de chuva austera se puseram os dois na Feiteira, em Carcavelos, e tocaram para todos os que ali passavam nos seus afazeres. Gentes curiosas foram-se amontoando à sua volta – não era todos os dias que por ali se juntavam dois fulanos a fazer barulho – e, a pouco e pouco, foram ficando. Pouca noção tinham de que estariam a testemunhar a mais bonita parelha do futebol luso: no Domingo, será o 307º concerto dos amigos, agora famosos e símbolos de Portugal, companheiros na longa luta pela bonitização do futebol, infelizmente tão fora de moda que a ideia agora é fazer do derby eterno um evento de ódio e confronto.
O tirolirofica e o tirolirorting assumiram-se como o dueto mais talentoso da musicalidade, chegando a fama às colónias, sedentas das paixões da metrópole: os principais fãs dão pelo nome de Eusébio da Silva Ferreira e Fernando Peyroteo, que se tornaram como o mais presente nas exibições (29 presenças) e o que mais palmas bateu (48 bolas nas redes), respectivamente. Ambos nascidos nas Áfricas, representam a larga falange de apoio aos amigos lisboetas além-mar, sinal da sua importância no contexto da portugalidade contemporânea, pontos de contacto da cultura lusitana e com grande capacidade de influência no imaginário das populações. Benfica e Sporting, em conjunto, sempre produziram as melodias mais bonitas. Tirolirofica a tocar a concertina e Tirolirorting a dançar o solidó, e vai de trocar e troca de novo, qualquer esquina é sitio para se tocar o perfeito fado do futebol português.
No Algarve, o primeiro apresenta-se em melhor estado. O agente Bruno Lage tem tratado bem da sua figura, tem-lhe entregue méritos que com uma pré-epoca em cima se encaminham para a consolidação dos apresentados em 2018/2019. Aos abandonos de Félix e Jonas, ouvinte habitual, a musicalidade do artista chegou a Espanha e Raul De Tomas aterra em Lisboa prometendo muitas palmas. A engrenagem Rúben Dias/Ferro, a dinamização do meio-campo onde se apresentam Gabriel, Samaris, Florentino, Fejsa e Taarabt para dois lugares e a manuntenção de Pizzi e Rafa nos desequilíbrios exteriores asseguram bons prenúncios.
O amigo Tirolirorting é que custa a encontrar o bom caminho, ainda que o holandês Keizer tenha conseguido recompor, a pouco e pouco, a compostura do artista já metido numa série de problemas extra-palco. As enxaquecas e vícios de Tirolirorting fizeram dele um músico amorfo, afundado há anos numa espiral de futilidades várias que só são esquecidas nestes encontros: se o concerto de Domingo é importante para Tirolirofica, o seu significado e importância agiganta Tirolirorting, ansioso por concertos desta estirpe ao lado do seu amigo de sempre. Bruno Fernandes, que se perfila actualmente como seu maior fã, arrisca-se a assistir ao último certame. Outras melodias além da Mancha devem convencê-lo antes do fecho do mercado, mas que não o façam até Domingo: a sua presença é essencial na perfomance de Tirolirorting. Muita da qualidade do concerto depende de Bruno e do seu lugar na plateia. Com a sua presença na primeira fila, gritando e gesticulando de contentamento, a actuação do ídolo eleva-se para níveis fora do habitual.
É do interesse geral que estejam reunidas todas as condições para que a concertina e o solidó fluam da melhor forma, que os músicos sintam a confiança para explanar todo o seu talento sem quaisquer complexos. Se é verdade que a sua relação se deteriorou ultimamente – a fama não foi amiga, os parasitas espreitam a cada… esquina – a mais bonita amizade não se mete em causa por certos públicos e as suas tentativas de sabotar os concertos mais apaixonantes do futebol português.

Uma nota: excelente iniciativa da FPF, com a criação do canal 11 e a entrevista conjunta a Bruno Lage e Marcel Keizer. O futuro tem que ser este."

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