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terça-feira, 16 de julho de 2024

O crepúsculo de um deus


"Num magnífico filme de Billy Wilder, 'Sunset Boulevard', Gloria Swanson interpreta uma antiga estrela do cinema mudo (como ela própria), que o advento do sonoro levou à decadência, mas que se recusa penosamente a aceitar as evidências do novo tempo. Sempre que vejo Cristiano Ronaldo na Selecção, lembro-me desse filme.
Ronaldo foi um dos melhores futebolísticas de todos os tempos. É, sem dúvida, o cidadão português mais conhecido no mundo. Enquanto embaixador do nosso desporto, devemos-lhe muito. Foi um privilégio ser seu contemporâneo, sobretudo para aqueles que, como eu, já não chegaram a ver Eusébio.
Infelizmente, os anos passam por todos. Eu também já tive menos 20 quilos e mais cabelo. E se CR7 mantém o bom aspecto, já não corre como corria, não salta como saltava, não remata como rematava. Marcou 40 golos nas arábias, como marcaria 80 se estivesse no Juventude de Évora. A alto nível não rende o suficiente para ser titular de uma Selecção como a nossa, em que existem muitas e boas alternativas. Não haveria nenhum problema com isso se ele o percebesse, aceitando aquela que é a mais inelutável lei da vida. Paralelamente, a própria FPF lucra milhões com a sua imagem, os patrocinadores exigem-no, e todos em seu redor o veneram - o que, nesta fase da vida, talvez não ajude. Cristiano Ronaldo podia ser útil pelo exemplo no trabalho diário, pela liderança no balneário, pela experiência que passa aos mais jovens, entrando em campo nos últimos minutos de algumas partidas mais fechadas, quando, com frescura nas pernas e perante adversários desgastados, pudesse fazer a diferença. Nunca para obrigar uma equipa a girar em torno do seu umbigo e dos seus recordes.
Não havendo ninguém capaz de lhe dizer isto, teria de ser ele próprio a entendê-lo. Infelizmente, não parece ser o caso."

Luís Fialho, in O Benfica

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