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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Reinvenção da águia, sim

"Lage tem a consciência plena de que o seu estado de graça acabou por ter permitido a recuperação portista em seis pontos e pela discrição exibicional da sua gente

Bruno Lage, na primeira declaração sobre a derrota sofrida com o SC Braga, afirmou não ter memória de a sua equipa ter feito um jogo «tão sólido e constante». Enfim, foi a forma que encontrou para tentar justificar um resultado com o qual não contaria, apesar de os desempenhos recentes terem indiciado mau tempo no percurso da águia. Acrescentou o treinador benfiquista que vai enfrentar o problema de frente e com essa mentalidade «chegar ao final do campeonato» na posição que hoje ocupa e, naturalmente, voltar a ser campeão.
Palavras circunstanciais, admite-se, mas ditas com a firmeza de quem acredita no seu trabalho, não só pelo exemplo que deu quando foi chamado para substituir Rui Vitória e conduziu ao título um plantel descrente, mas também por saber que ser campeão com um ponto de vantagem ou com dez vale exactamente o mesmo.
Lage tem a consciência plena de que o seu estado de graça acabou, ou, no mínimo, sofreu uma ligeira interrupção, não apenas por, em duas jornadas, ter permitido a recuperação portista em seis pontos, mas, principalmente, pela discrição exibicional da sua gente, uma constante ao longo da presente época apenas disfarçada pelas vitórias e pelos golos marcados.

Em Janeiro de 2019, Bruno Lage pensou e decidiu, 'vou lançar o miúdo'. Inventou. Mudou o sistema, a dinâmica, a atitude, mudou quase tudo e o efeito surpresa foi demolidor. Entretanto, os adversários foram adquirindo defesas e hoje verifica-se que boa parte deles conseguiu descodificar os segredos do futebol encarnado.
Como não vejo este Benfica mais forte do que o anterior, pelo contrário, creio que o grande desafio que se coloca a Lage é o de reinventar qualquer coisa, não me ocorre outra expressão, para surpreender outra vez. Há um ano, mudou para o 4x4x2 e foi determinante, não pelo desenho táctico em si, mas por ter entendido que em função das características dos seus actores principais este seria o cenário mais favorável. Em cheio! João Félix e Jonas, quando as costas lho permitiram, em meia época, valeram 26 golos e através deles foi possível gerar imensas soluções para outros se destacarem e enriquecerem a capacidade concretizadora do colectivo.
Hoje, ou insiste numa fotocópia do que correu maravilhosamente na época transacta, embora com outro intérpretes, ou investe em novo formato para equilibrar a equipa e protegê-la de correntes de ar na sua organização defensiva e que lhe têm provocado severos arrepios, em concreto a partir do jogo com o Aves, na Luz, no dealbar do corrente ano.

O que custou à família benfiquista, mais do que ficar com a liderança segura por um ponto, foi a dupla derrota com o FC Porto, apesar de na época anterior ter alcançado uma dupla vitória, mas a memória dos adeptos é fraca.
Perder dois jogos com o FC Porto no mesmo campeonato pode ferir o orgulho da nação benfiquista, mas não é suficiente para abalar o projecto de Luís Filipe Vieira, como testemunha o exemplo de 2016, no consulado de Rui Vitória, em que derrotas no Dragão e na Luz não impediram que o Benfica festejasse o título.
Dos 28 campeonatos do FC Porto, 18 foram conquistados a partir de 1990, coincidente com a presença do Benfica na última final da Taça dos Campeões Europeus, em Viena. Depois, a história encarregou-se de contar o resto. À imparável ascensão portista correspondeu brutal colapso encarnado, consequência de erros trágicos que deixaram o clube de mão estendida, sem dinheiro, sem rumo, sem futuro.
Já neste século, porém, a tendência começou a alterar-se, com o FC Porto a continuar mais forte na primeira década, mas a fraquejar na segunda perante a resposta forme do Benfica, com cinco campeonatos nos últimos seis anos. A terceira está a começar e vai decidir para que lado penderá o fiel da balança.

Moussa Marega
Ouviu, encheu e explodiu, trazendo para a discussão pública um problema que se pensava ser dos outros e que ele provou ser também nosso: o que levou a classe política a atropelar-se em manifestações de solidariedade e de repúdio, como é costume. Podia ter acontecido noutro estádio, mas se calhar não foi por acaso que aconteceu no do Vitória de Guimarães. Percebo a posição do treinador do clube minhoto, entendo mal a do seu presidente e sinto-me não sei como depois do que ouvi ao secretário de Estado do Desporto, na TSF: passou a bola aos clubes, argumentou que a questão é complexa, desculpou-se com a falta de cultura da pessoas e defendeu que o problema é de todos, apelando à intervenção de espectadores mais sensatos no sentido de fazerem pedagogia junto dos mais exaltados.
O primeiro-ministro teve a virtude de ir direito ao assunto.

Nota final: A quem faz o favor de me ler retribuo com um convite para as noites televisivas de segunda-feira, excessivamente acaloradas e ácidas em todos os canais. Se preferirem um programa em que se fala de futebol com graça, sugiro o Amigos da Bola, em A Bola TV, às onze da noite. Com o benfiquista Luís Filipe Borges, o portista Vasco Correia e o sportinguista Bruno Ferreira, se não em engano. Experimentei e fiquei. A entrevista a Paulo Bento, que já consegue dizer umas frases em coreano aos seus jogadores, foi de rir até a barriga doer... Experimentem também."

Fernando Guerra, in A Bola

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