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domingo, 24 de fevereiro de 2019

A reconquista

"É por pressentirem como verdadeiramente real esta ambição que há terceiros que evidenciam crescente nervosismo

1. Na próxima quinta-feira o Benfica comemora 115 anos. Nasceu com a Monarquia, cresceu na Primeira República, internacionalizou-se no Estado Novo e adaptou-se, com algumas sérias dores, na sequência do 25 de Abril de 1974. Saltou, com convicção e arrojo, o milénio na Velha Luz e cresceu, com muita força, no Nova Luz, que vibrou, e muito, com o primeiro tetra desta sua história de mais de um século. A Velha Luz era um pouco mais velha do que eu. Nasceu em finais de 1954 e eu nasci no Domingo de Páscoa de 1956 (1 de Abril). Mas ainda me recordo do ainda mais velho Campo Grande, que sobreviveu - para o atletismo e para o basquetebol, e também para o tiro! - até 1971. Mas sei bem pela extraordinária transmissão oral que o saudoso Senhor meu Pai me legou - ele que teria feito há dias 100 anos! - os outros estádios como o da Feiteira, o de Sete Rios, o de Benfica e o das Amoreiras, que marcam uma vida de um clube eclético e em que há uma comunhão entre o seu corpo e o seu espírito. O ser benfiquista é  um espaço de alma e um singular sentimento. É uma partilha e uma comunhão. Tudo hoje em dia representado em cada palmo do Museu Cosme Damião. Das suas paredes e das suas vitrinas. Das suas escadas e do seu estúdio. Do que escuta e do que transmite. Do que pressente e do que exprime. Do que provoca e do que motiva. Do que recorda e do que, no fundo, estimula. Ali estão camisolas e troféus, medalhas e textos, lágrimas e abraços, momentos e alegrias, instantes e dores. Ali estão nomes que nunca esquecemos e conquistas que nos envaidecem. Ali estão as Taças que conquistámos na Europa e aquelas outras, muitas, que erguemos entre nós. Ali estão as recordações do ciclismo e do andebol, da ginástica e do judo, da natação e o rÂguebi, do voleibol e do hóquei em patins - e também em campo! -, do basquetebol, do futsal e da canoagem entre tantas e tantas conquistas de outras modalidades desportivas. E a curto prazo há estarão os troféus do futebol feminino como já lá se encontram, registados, os grandes feitos solidários da Fundação Benfica. E assim da Farmácia Franco - espaço fundador - a esta multifacetada Nova Luz - que se entende num braço e abraço imensos ao Seixal e à sua Academia - são 115 anos de uma história rica, com momentos sublimes, como as conquistas europeias ou o primeiro tetra no futebol. E nesta semana  de aniversário que tem como marcos o jogo de amanhã face ao Desportivo de Chaves - carente de pontos - e o do próximo sábado frente ao Futebol Clube do Porto. E, logo a seguir, a reconquista europeia que passa, após Istambul, pelo regresso a Zagreb e pela disputa do legítimo acesso aos quartos de final de uma competição que tem a sua final, logo a seguir às eleições europeias, em Baku, a capital do Azerbeijão, Estado que tem uma nova Primeira Vice-Presidente que é... a mulher do actual Presidente. Singularidades da história política! Mas este duplo sonho de reconquista alimenta a alma, fortalece a união, robustece a instituição e multiplica a ambição. E como escreveu o grande Miguel de Unamuno «quem não sente a ânsia de ser mais não chegará a ser nada»! E esta ânsia de ser mais tem sido o lema do Benfica, deste Benfica, nestes primeiros anos do novo milénio. O que importa saudar e enaltecer. Com a consciência, também vinda de Espanha, - e com o extraordinário Miguel de Cervantes - que «pouca ou nenhuma vez se realiza com a ambição coisa que não prejudique terceiros»! E é por pressentirem como verdadeiramente real esta ambição de reconquista que há terceiros - com alguns porta vozes, diria porta nozes - que evidenciam crescente nervosismo. Mas o que fica é a reconquista, a sua vivência e a sua crença. Em semana de aniversário. De 115 anos de muita vida. E intensas e vibrantes alegrias. E; claro, certas dores. Que o tempo apaga mas não esquece. Que a história regista e anota. Mas o que importa, aqui e agora, é dizer: Parabéns Benfica!

2. A história é feita de estórias e de marcos. Sabemos desde o Padre António Vieira que «muitos cuidam da reputação mas não da consciência». E esta perfeita combinação está presente na avaliação do cumprimento das regras do denominado fair-play financeiro da UEFA e que tem como alvos principais o PSG e o Manchester City. Ou a violação de normas respeitantes e contratos com menores e que seriamente atingiu - numa decisão preliminar - o Chelsea. O que se vai avaliar nas próximas semanas é a eficácia do poder disciplinar da UEFA. E, porventura, a sua autonomia frente à FIFA. E escrevi de propósito frente à FIFA. Como entre nós se suscitará, a curto prazo, a questão das SAD's, o seu domínio por terceiros e, até, a sua ousada recompra por parte de certos clubes. Como, até, a recomposição jurídica de determinados contratos de exclusivos televisivos já firmados e em vigor. Recomposição jurídica e, logo, financeira. Acredito que vamos viver tempos de sérias mudanças. Na economia doméstica e, também, na europeia. Nos grupos de comunicação e, também, dos seus produtos âncoras. Nos meios financeiros a canalizar para o desporto, incluindo nos meios públicos, sejam nacionais, regionais ou locais. Como escreveu James R. Lowell, «não adianta discutir com o inevitável. O único argumento disponível contra o vento de leste é vestir sobretudo». E neste domingo de um raio de sol radioso convém, lá para o final da tarde, não nos esquecermos do sobretudo. E nós benfiquistas levá-lo, bem vestido, amanhã para o Estádio da Luz para o jogo face ao Desportivo de Chaves. Com a consciência, sempre presente nas directas, lúcidas e motivadoras formulações de Bruno Lage, que cada jogo é uma verdadeira final. Rumo à reconquista. Interna e Externa. Assim se faz, faz e fará a história  grandiosa de uma instituição que perfaz, num abraço fraterno, 115 anos nesta próxima quinta-feira. E a conquista de mais um ano é, também, um passo na reconquista. Força Benfica!"

Fernando Seara, in O Benfica

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