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sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Chalana, a ambidestria de uma estátua


"O inspirador Pequeno Genial morreu

Morreu Fernando Chalana. Nascido a 10, ido a 10.
Não se enganem. O Benfica perdeu uma das maiores referências da sua História. O futebol português um dos mais geniais e influenciadores jogadores que já teve. Pequeno de tamanho, gigantesco no talento, inspirador de multidões.
Na história da Luz, Chalana «só perde» para Eusébio. Caminha ao lado de Coluna e Simões. Não porque ganhou uma Taça dos Campeões Europeus ou uma dezena de campeonatos nacionais. A imortalidade não se mede em troféus. Chalana anda lado a lado com os monstros encarnados pelo que inspirou, pelo suspiro de admiração que provoca na memória de quem viu.
Por ser a imaginação, o improviso, por fazer sentir. A incógnita da vida transformada em futebol. Porque com Chalana nunca se sabia para que lado se ia. Nem com que pé se chutava.
Chalana viveu sempre na ambidestria. A dos pés, mais a do campo e a da vida. Foi um génio nos relvados e um homem normal fora dele. Errou por causa de outros. Iludiu-se. Caiu. E levantou-se, pelo Benfica. 
O Terceiro Anel, mítica bancada da Antiga Luz, era praticamente toda dele. Era mesmo. Porque foi com a saída de Chalana para França que o Benfica concluiu a obra. Num olhar romântico, a Luz foi pequena para ele. Mas quando Chalana voltou, nenhum outro jogador pós-60 merecera as maiores enchentes da História.
É verdade que o futebol de Chalana não foi o mesmo. Porque Fernando, o homem normal, caíra; e o corpo de Chalana, o génio, começava a dar-lhe demasiado trabalho com lesões.
Chalana o jogador inspirou Paulo Futre. Um miúdo sportinguista que tinha um ídolo no Benfica. Quantos futebolistas em Portugal tiveram esse superpoder? O corpo de Chalana morreu, mas a sua ideia, o génio inspirador prevalece não só nos maiores futebolistas do país como no adepto anónimo. Enquanto houver um adepto que se lembre, Chalana viverá.
Depois, o Benfica. Chalana serviu o clube com jogadas, enfrentou o desafio de treinar a equipa principal e emprestou humanismo. Assim se percebem as palavras de Bernardo Silva ou os relatos de quem trabalhou com ele no Benfica Campus.
Talvez seja no Seixal que Chalana mereça ser eternizado, talvez em estátua. Para quê? Para que jogador que ali entre pergunte quem é. E perceba que Chalana representa o talento; a oportunidade de se estrear pela equipa aos 17 anos; também os perigos que o futebol encerra e, sobretudo que a grandeza se atinge não só por títulos, não pelo dinheiro seguramente, mas por aquilo que se desperta na memória sentimental dos outros, com jogadas no relvado e atos fora dele.
Por tudo isso, eu que sou a favor do silêncio absoluto naquele minuto antes dos jogos, acho que Chalana deve ser despedido com a maior ovação possível, num último reconhecimento ao génio, esperando que ele oiça lá na lamparina para onde voltou."

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