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quarta-feira, 24 de abril de 2024

A catapulta de Di María lança o Benfica na revolta dos reforços


"Na resposta à eliminação de Marselha, as águias ganharam (3-1) no Algarve. Schmidt rodou a equipa e o argentino, muito forte a servir os companheiros, brilhou num encontro em que três contestadas aquisições da temporada — Kökçü, Arthur Cabra e Álvaro Carreras — marcaram

A época 2023/24 do Benfica é uma montanha-russa, subindo e descendo entre mini-crises e períodos que escapam às mini-crises. Depois dos dois dissabores seguidos contra o Sporting e da queda em Marselha, a viagem a Faro era feita novamente na parte inferior da viagem, outra vez procurando culpados, apontando dedos e apurando responsáveis.
Neste tribunal da temporada, dois dos maiores pontos de debate e crítica pareceram viajar para o Algarve com vontade de dar mais uma prova de vida na campanha, evidenciar que ainda havia mais uma palavra que dizer, procurar uma última mudança de relato. Di María, a lenda que, segundo algumas leituras, veio destabilizar a ordem estabelecida e consolidada do campeão; os reforços, as caras nomes que não se adaptaram nem fizeram esquecer Grimaldo, Ramos ou Enzo.
Reagindo ao triunfo do Sporting, o Benfica fez dos criticados os protagonistas, dos questionados os destaques. Vitória por 3-1, Di María envolvido em todos os golos, que foram apontados somente por reforços: Orkun Kökçü, o turco da entrevista polémica, Arthur Cabral, um dos pontas-de-lança da roda vida que Roger Schmidt dita que existe à frente, Álvaro Carreras, o lateral cedido pelo Manchester United que também anda às voltas na orfandade de Grimaldo, entre o erro de casting Jurasek e as lesões de Bernat.
Com Rafa Silva a não sair do banco, talvez começando uma inevitável despedida da Luz, foi como se um vislumbre da época que poderia ter sido surgisse em Faro: um 2023/24 em que apenas o lado solar de Di María aparecia, uma temporada em que os reforços rendiam, uma campanha em que Schmidt rodava e fazia uso de todo o seu plantel. Mas estamos no fim de abril, o Benfica vem de nova mini-crise e corre atrás do prejuízo. O Sporting segue a sete pontos quando só faltam 12 por disputar.
O primeiro obstáculo da noite algarvia do Benfica foi um pesadelo trazido da primeira volta. Na Luz, Ricardo Velho fez uma das melhores exibições do campeonato, um festival de defesas atrás de defesas que atrasou as águias numa das tais mini-crises. No arranque do desafio, Di María, Arthur Cabral e Tiago Gouveia encontraram a oposição do minhoto, especialista em acumular muitas paradas por desafio.
No tal vislumbre do que a época poderia ter sido, Schmidt fez cinco alterações no onze. Saíram Aursnes, João Neves, Rafa Silva, Neres e Tengstedt e entraram Carreras, João Mário, Kökçü, Gouveia e Arthur Cabral. Os cinco saíram do São Luís com nota altamente positiva.
Com um onze refrescado, o bom arranque dos visitantes foi premiado com um bolo. A principal fórmula de perigo do primeiro tempo foi Di María+Bah=golo. O argentino, como todos os craques, domina o tempo, sabe que a finta mais eficaz às vezes não é a que as pernas fazem mas a que usa o relógio para enganar, simular, fugir. O campeão do mundo aguentou, esperou pelo lateral dinamarquês e Kökçü abriu o ativo. Foi o terceiro golo do turco nas últimas três vezes que foi titular pelos lisboetas.
O tango de Di María terá espicaçado Belloumi, o argelino que é o maior artista à disposição de José Mota. O técnico não bate o Benfica há quase 20 anos, desde um triunfo pelo Paços de Ferreira em 2005/06, mas terá sonhado com isso nas asas do talento do seu canhoto que arranca da esquerda, dribla e cria.
Aos 23', depois de uma confusão na sequência de um canto, a bola sobrou para Belloumi, que disparou um grande tiro para empatar.
O jogo poder ter dado um vislumbre de uma outra época, de uma outra 2023/24, mas estamos nesta, na temporada o campeão em título que vai de mini-crise em mini-crise. Em dezembro, depois do empate na Luz contra o Farense, o Benfica saiu de uma dessas mini-crise à boleia do calcanhar de Arthur Cabral. Aos 34', o ponta-de-lança foi a consequência da fórmula Di María+Bah e, na área, voltou a marcar com nota artística. Logo a seguir, o brasileiro esteve perto de bisar, num remate de longe que foi ao poste.
No recomeço, Tiago Gouveia quis imitar uma célebre jogada de Emilio Butragueño, a lenda do Real Madrid, contra o Cádiz. Fintou Belloumi criando espaço onde este não habia, mas depois ficou a meio do trabalho. Na resposta, o o driblador argelino do Farense obrigou Trubin a esticar-se para evitar a igualdade.
Mas o serão de Faro era de Di María. O campeão do mundo é, aos 36 anos, um criativo de vistas largas, um artista de catapulta no pé esquerdo, sempre pronto a criar perigo à distância, levantando a cabeça e servindo quem está longe com precisão.
Aos 67', a mira de longo alcance do Fideo foi da direita à esquerda para encontrar Álvaro Carreras. O espanhol é um símbolo de parte do que correu mal na época: para suceder a Grimaldo, veio um lateral que cedo se perceber ser curto para as exigências técnicas; para corrigir isso, veio outro que não está em condições físicas, uma reedição do fenómeno Draxler; finalmente, chegou Carreras, que anda há três meses entre o peso de suceder a Grimaldo e a carga de corrigir estes erros.
O jovem cedido pelo Manchester United recebeu e, provando que é um canhoto que não acaba no pé esquerdo, fez o 3-1 de direito. Pouco depois, a catapulta de Di María esteve quase a somar nova assistências, mas o cabeceamento de António Silva foi ao lado.
Se o fulgor de Di María ou o rendimento dos reforços poderiam dar um vislumbre do que a época poderia ter sido, o apito final esclareceu onde estávamos. Contestação de adeptos, o Sporting a sete pontos. À saída de uma mini-crise e com pontos de interrogação quanto ao futuro próximo, o Benfica continua vivo no campeonato."

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