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terça-feira, 21 de março de 2023

Sporting e Benfica ok; FC Porto not ok


"Breves notas da eliminatória europeia e do fado português na UEFA.

Sporting: brilhante. No pé direito de Pote vi o Cantinho do Morais, o milagre de Miguel Garcia em Alkmaar, o calcanhar improvável de Xandão.
Viajei no tempo, dez anos à frente, para uma conversa entre amigos, memória coletiva encharcada em copos de cerveja. «E aquele golo do Pote em Londres, pá?»
É isto o meu futebol. A comoção num pontapé atrevido e perfeito, a celebração muitos anos depois, as marcas cravadas na nossa mente e na cumplicidade à mesa do café.
Não é isto que faz valer a pena o futebol?
Imaginemos que o Sporting cai agora, nos quartos-de-final, às mãos da Juventus. Nada, ninguém, poderá apagar o que cada coração leonino sentiu na noite do Emirates.
Os clubes existem porque têm adeptos, os adeptos existem pela crença em momentos destes, epifanias que (n)os deixam de mãos na cabeça e o peito aos saltos.

Benfica: competente. Exceção feita a pequenos momentos na primeira parte em Bruges, as águias fizeram o que quiseram dos belgas. Prova, mais uma, da extraordinária temporada adestrada pelo equilíbrio de Roger Schmidt.
Em março de 2023, achamos afinal que Grimaldo não defende mal, que Chiquinho joga muito à bola, que Florentino é um polvo de tentáculos inclementes e que Gonçalo Ramos nos enganou a todos e é, surpresa das surpresas, um matador de raros predicados.
Tudo isto é verdade porque a equipa funciona. Em todos os momentos do jogo.
Permite muito pouco aos adversários, não se deixa surpreender nas transições defensivas, é muito agressiva no último terço ofensivo – ser agressivo não é dar pancada – e tem algumas descobertas preciosas.
À frente de todos, Fredrik Aursnes.

FC Porto: insuficiente. Tantas lesões, tantas limitações, tanta exigência. O nível do plantel não é compatível com o estatuto de gigante europeu. A gestão disparatada, as contas no vermelho, as opções mais do que discutíveis levaram os campeões nacionais a isto.
O que é ‘isto’? Uma equipa sem um lateral esquerdo de nível-Porto, sem um médio centro de elite, sem um agitador capaz de receber entrelinhas e fazer a diferença contra blocos baixos – Pepê é capaz disso, mas quantas vezes pisa esses terrenos?
O pós-Mundial mostrou um FC Porto poderoso, a arrasar a concorrência, a capitalizar a perda de pontos do Benfica em Braga e no dérbi, a conquistar a Taça da Liga e a passar em Alvalade com autoridade.
E depois? Depois mergulhou na pior fase da época, com a pobreza exibicional a surgir a 18 de fevereiro (Rio Ave) e a não dar sinais de abrandamento.
É verdade que o Inter passou sem saber ler nem escrever o verbo ‘atacar’; é verdade que os descontos contra os italianos foram cruéis e que o FC Porto pareceu sempre mais forte e ambicioso – mas também é verdade que um Porto normal teria contornado estes italianos com algum... conforto.

PS: o SC Braga-FC Porto de domingo (18 horas) será decisivo se os dragões não ganharem e o Vitória não surpreender na Luz. Mesmo que o SC Braga vença, a equipa de Artur Jorge continuará a dez pontos das águias, uma enormidade se pensarmos que ficam a faltar nove jornadas. Serve este post scriptum para elogiar o ano magnífico dos Guerreiros do Minho e para sublinhar a sensação de desilusão em relação à participação europeia. Faltou consistência e maturidade em demasiados jogos na Liga Europa e na Liga Conferência."

Pedro Jorge da Cunha, in ZeroZero

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