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terça-feira, 3 de abril de 2018

Guardiola já nasceu três vezes, e há quem ainda discuta justiça e injustiça

"O futebol nunca foi feito de uma só cor.
Nem foi sequer por uma vez monocromático.
Mesmo quando se reproduzia em pretos e brancos na Grundig de caixa castanha e arranque lento lá de casa, apresentou sempre demasiados cinzentos que definiam a sua complexidade. E de vez em quando alguma chuva.
Como a vida, aliás.
É por isso, ou também por isso, que o meu futebol, o que me deixa boquiaberto desde a tempestade dos papelinhos no Monumental de Nuñez em 78, e me entristeceu no Sarriá até poder voltar a sorrir na cauda de um cometa chamado Maradona, não é feito de verdades absolutas e muitas vezes até os clichés se apresentam menos Lapalicianos do que realmente são.
Justiça ou injustiça, jogar melhor ou jogar pior serão sempre meias-verdades ou mentiras relativas, porque implicam bem mais do que os conceitos com que estamos habituados a lidar.
Lembro-me de ouvir repetidamente gente com espírito crítico apurado a tentar desenterrar uma frase que resumisse todos os momentos de um jogo ou uma temporada inteira. Uma sentença. A absolvição, ou a condenação. Preto ou branco, e desenvolver a partir daí.
Não acho que o resultado seja conclusão em si mesmo porque não sou resultadista. Talvez seja, no entanto, o único facto. Os resultados, a classificação. Uma justiça que não precisa de jurados.
Não acredito que o 4x3x3 seja mais perfeito do que o 4x4x2 ou vice-versa, ou um contra-ataque mereça menos aplausos do que um golo com mais de 20 passes e 11 pais. Até posso jurar que já vimos nascer três Guardiolas diferentes e outros tantos Mourinhos, e que até dá pena que o português pareça ter parado de evoluir.
Desde que não seja desculpa para jogar mal – que será tudo o que fique abaixo das expectativas, seja estas quais forem –, acredito em todos os sistemas e em todos os estilos, e é precisamente pela diversidade que vos digo que isto continua a ter piada.
Por cá, a excelência ainda mora nos grandes, num ou noutro jogador aqui e ali, depois de tanta sangria milionária, e são estes, e mais um Sp. Braga a querer crescer, que sustentam a qualidade da Liga.
É neste terreno mais árido que crescem ideias novas. Em Vila do Conde, já florescem há mais tempo, em Chaves, em Portimão e no Restelo vêem a luz do sol os primeiros frutos.
Quem viu jogar Silas sabe que só podia ser assim, ou ainda melhor do que isto.
Face à qualidade que falta sabemos que nunca serão ideias poéticas, cheias de pontos de exclamação, declamadas por um Vítor Espadinha. Veremos frases curtas, vocabulário simples e imagens claras. Nítidas. Pontuadas com inteligência e sem fundamentalismos, acredito que possam aproximar os dois extremos da tabela. Certamente, enriquecerão o jogo.
Escrevo isto quando muda o líder da Liga, e irá começar-se novamente, talvez um pouco mais alto, a discutir justiça e injustiça. Entre o futebol objectivo e explosivo do FC Porto e a construção mais em apoio, a partir de trás, do Benfica, eu digo
A classificação que decida. Uma ou outra. Qualquer uma das ideias está bem!"

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