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sábado, 13 de dezembro de 2025

Patrick Dippel, o novo chief scout alemão do Benfica


"A escolha de Patrick Dippel como novo chief scout do Benfica pode ser um bom indicador sobre momento estratégico do clube da Luz. Desde logo, cria a percepção interna de que as respostas para uma área tão estrutural como o do scouting já não estavam a ser encontradas dentro de portas, nem no mercado nacional. Como tal o Benfica foi procurar fora, e foi procurar a um contexto onde a função evoluiu mais cedo e de forma mais profunda do que em qualquer outro lugar, à Alemanha!
Dippel não é um scout no sentido clássico do termo. O seu percurso profissional começa e desenvolve-se, durante largos anos, em departamentos de análise, com passagens tão significativas quanto o foram a DFB (Federação Alemã), ou o Bayern de Munique.
A observação em estádio não foi o ponto de partida da sua carreira, mas antes a análise de jogo, de desempenho e de dados, num modelo em que o vídeo, a contextualização estatística e a leitura estrutural do jogador antecedem, e muitas vezes se sobrepõem, ao olhar presencial.
Este detalhe não é menor. Pelo contrário: representa uma mudança conceptual relevante num clube historicamente associado a redes extensas de live scouting e a uma cultura muito assente no “ver com os próprios olhos”.
Não será pois arriscar em demasia dizer que a aposta em Dippel sugere que o Benfica pretende recentrar o processo decisório, colocando a análise como eixo estruturante e o live scouting como complemento, e não como ponto de partida.
Há aqui também um sinal claro de modernização, mas não isento de risco, talvez menor e mais calculado num clube como o Benfica que já detinha o mais avançado departamento de analise do futebol português. Mas analisando as oportunidades e riscos que esta escolha poderá acarretar, importar metodologias do futebol alemão (rigorosamente sistematizadas, hierarquizadas e orientadas por processos) exige uma capacidade de adaptação ao contexto cultural e competitivo português, onde a pressão mediática, a urgência do resultado e a valorização do talento criativo impõem outros desafios. Para mais quando falamos de um clube tão "sanguíneo" quanto o é o Benfica, cuja paixão poderá ser difícil de acomodar na matriz de avaliação de cada momento, para um profissional "tipicamente" germânico. Lembremos-nos de Roger Schmidt e do seu divórcio com a massa associativa do Benfica que antecedeu largamente a sua saída. No entanto confesso que não conheço pessoalmente Dippel e para toda a regra há sempre a sua excepção. Na Alemanha não é diferente, é apenas mais incomum.
A contratação de Patrick Dippel é, por isso, uma declaração de intenções sobre como o Benfica quer identificar talentos para construir o seu futuro.
Resta saber se a cultura interna do clube, e a exigência externa dos adeptos e sócios estarão preparada para acompanhar essa mudança, e tão ou mais importante, vão ser capazes de esperar pelos seus resultados.
De uma coisa estou certo, esta aposta vale o risco e poderá fazer a diferença no contexto do futebol português."

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