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terça-feira, 13 de agosto de 2024

Com Sorriso, estava na cara que o Benfica ia perder em Famalicão


"Os encarnados voltaram ao local onde entregaram o título ao Sporting na temporada passada e, no primeiro jogo oficial em 2024/25, escorregaram em Famalicão. O Benfica perdeu por 2-0 no Minho, num jogo em que, maioritariamente, só conseguiu criar perigo com remates de longa distância. Além dos golos, a equipa de Armando Evangelista enviou uma bola ao poste e teve uma série de oportunidades para marcar. O resultado foi o que sobrou depois de pagos os impostos

 “Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta”

Óscar Aranda é ziguezagueante, dá-lhe gozo conduzir a bola. Não é jogador para se livrar da amiga ao primeiro toque. Gosta de usufruir da atenção que ela lhe dá e que ele retribui. Mas há vezes em que tem mesmo que a deixar ir por um caminho que só ela pode seguir. Depois de rodar no espaço que o Benfica deixou entre a defesa e os médios, o espanhol compreendeu que a rota era demasiado óbvia para não soltar a companheira. Dando-lhe balanço, partilhou-a com um colega que lhe deu um bom banho, vestiu-lhe um pijama, fez-lhe uma papinha e meteu-a na baliza. O (re)tratamento perfeito do passe colocado nas costas de Jan-Niklas Beste.
Quem marcou fê-lo no primeiro jogo oficial pelo Famalicão. Concretizou o remate e colou o seu nome na boca de todos os companheiros. Calma, não os amordaçou. Pelo contrário, testou a elasticidade da boca dos minhotos. Era Sorriso, o extremo brasileiro, a distribuir sorrisos por um sítio onde acabou de chegar. Estava na cara, dele e na de todos, que a vantagem contra o Benfica era um arranque de jogo pelo qual valia a pena fazer uma espargata de lábios.
Há demasiadas caras novas no Benfica para associar o descalabro inicial em Famalicão com o trauma parceiro da memória associada ao regresso ao sítio onde, na época passada, os encarnados entregaram o título ao Sporting. Os reforços estão impossibilitados de usar tal motivo como semente da sua desinspiração. Nos primeiros 12 minutos oficiais com a camisola do Benfica, também eles tiveram direito a uma amostra do que foi o Benfica da época passada: instável e a duvidar de si próprio.
Jan-Niklas Beste foi vítima da bola descoberta que, no centro do terreno, alguém deixou que Aranda colocasse nas suas costas. De resto, o alemão era o mais pujante na manobra ofensiva sendo até eventualmente penalizado pela ousadia já que a linha defensiva não parece oleada ao ponto de equilibrar as aventuras do jogador vindo do Heidenheim que relegou Carreras para o banco. É normal que não esteja, tão normal que não se deve manter durante muito tempo, visto que, quando estiverem 100% disponíveis, António Silva e Otamendi devem tomar os lugares que foram de Morato e Tomás Araújo na primeira jornada do campeonato.
No Famalicão, Zaydou Youssouf e Mirko Topic eram uma dupla rotinada com e sem bola – contraste com Florentino e Leandro Barreiro. O primeiro pode dar mais pelas leggings que usa em pleno mês de agosto, mas o outro não lhe fica atrás. Eram o portão da equipa de Armando Evangelista, os guardiões das trocas entre João Mário e Aursnes no centro-direita. Longe estava o técnico de imaginar que seria o seu friorento médio a fazer o 2-0, aos 90 minutos, numa jogada que contou com o característico apoio frontal de Mario González.
O galgar de Gianluca Prestianni na hierarquia do Benfica posicionou-o na esquerda. É nele que parece morar a essência elétrica que o torna no mais natural sucessor de Rafa na posição nas costas do avançado, assim o entenda Roger Schmidt. É que, aproveitando o seu posicionamento lateral, podemos dizer que é parecido com Rafa visto de lado. Nem na posição em que efetivamente jogou, nem naquela em que pode vir a jogar, Prestianni teve oportunidade para se evidenciar. Saindo ao intervalo, faltou-lhe tempo para o fazer.
A saída do jovem argentino coincidiu com a entrada de Orkun Kökçü, mas foi quando Florentino foi substituído que se viu uma mudança mais substancial. João Mário foi recuando para ver o jogo de frente e rematou muito forte para uma defesa de raspão do guarda-redes famalicense Luiz Júnior. Também perto do golo esteve Di María assumindo um livre quando tinha entrado há instantes. Nos cerca de 20 minutos em que esteve em campo, relembrou os encarnados do que estiveram perto de perder neste mercado. O perfume... o futebol de Di María ainda cheira muito bem.
O Famalicão reduziu a capacidade de ter bola na segunda parte, mas, excetuando remates de longe, não se expôs a poder sofrer o empate. A exceção foi o remate de Tiago Gouveia que, na fase do desespero, galgou até à área e errou o tiro de pé esquerdo. De resto, foi Zaydou que, antes de marcar, tentou o chapéu a Trubin. Também Aranda, a quem a amiga bola foi devolvida, rematou ao poste. Seria o avolumar de um resultado justo.
A epígrafe que nas primeiras linhas foi usurpada pertence a Eugénio de Andrade. São versos do poema “Sorriso”, homónimo do herói da tarde em Famalicão. No nome comum ou no nome próprio, há vestígios da alegria de um começo promissor."

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