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segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Quando duas equipas jogam um dérbi em casa, de pijama e pantufas

"Um dérbi a uma sexta-feira à noite é o ideal para os adeptos da equipa derrotada. O fim de semana serve de amortecedor para a frustração e na segunda-feira regressa-se ao trabalho como se o jogo tivesse sido disputado há cem anos. Quem ganha também perde a motivação, diluída no tédio da vida familiar, para fazer pouco do rival. Quarenta e oito horas chegam e sobram para nivelar a euforia e a depressão. Na segunda-feira de manhã depois de um dérbi à sexta-feira todos parecemos mais derrotados do que o habitual, mesmo aqueles que ganharam.
O problema é que este ambiente geral de desinteresse já se sentia antes do jogo. As televisões bem que falavam em “lotação esgotada”, na tentativa de criar um clima de expectativa e nervosismo, mas as primeiras imagens do estádio mostravam as cadeiras vazias de Alvalade na sua colorida tristeza. A diferença pontual para o Benfica, a qualidade de jogo da equipa e as tensões entre claques, adeptos comuns e direcção transformaram o estádio do Sporting numa espécie de mausoléu de uma ideia centenária. O estádio que outrora pegava fogo nestas ocasiões agora só fumegava, como um território calcinado após um violento incêndio.
Os adeptos do Benfica faziam-se ouvir, mas também eles sentiam falta de um rival assanhado, incómodo, que emprestasse àquele cantinho vermelho a aura de resistência sem a qual a bancada não se distingue do sofá. Ir a Alvalade apoiar o Benfica requeria disponibilidade física, coragem, uma certa dose de loucura. Agora só é preciso um bilhete e a disciplina militar mínima para marchar dois quilómetros sob orientação policial. Se as coisas não mudarem, estou em crer que, daqui a dois anos, em vez de excitadíssimos elementos das claques o Benfica enviará para as bancadas do eterno rival um batalhão de Águias de Ouro e um ou outro nonagenário dos que ainda se emocionam com a recordação dos feitos de um Cavém, de um Rogério Pipi, de um Espírito Santo.
O pior é que o jogo conseguiu ser mais descolorido, descafeinado e desvitalizado do que o ambiente nas bancadas. Não foi um jogo de solteiros contra casados, mas de viúvos contra viúvos. Em vez de tochas, as claques leoninas deviam ter atirado fumos negros e coroas de flores para o relvado. Ao intervalo, os jogadores deviam ter saído para os balneários ao som da marcha fúnebre de Chopin. Um espectáculo tão pobre não merecia transmissão televisiva, merecia o RSI, senhas do Banco Alimentar. Porém, devido às inúmeras paragens ainda tivemos direito a dez excruciantes minutos (ironicamente designados de compensação) que, da perspectiva do adepto benfiquista, só o golo de Rafa tornou mais suportáveis.
No meio de tanta pobreza, espantam-me as críticas ao treinador do Sporting. Para mim, Silas é um génio. Um treinador que põe uma equipa com Illori, Doumbia, Bolasie e Luiz Phellype a discutir o jogo e, em certos momentos, a dominar o adversário, está ao nível de um Rinus Michels. Já Bruno Lage comportou-se como a lebre da fábula. Comodamente sentado no banco, via a sua equipa a ser controlada por um esforçado, porém limitadíssimo, conjunto de jogadores, sem mexer uma palha. A primeira substituição, a entrada de Rafa aos 74 minutos para o lugar de um anónimo Chiquinho, foi tão tardia que só pode ser atribuída à compaixão de Lage pelo adversário e à vontade de não lhe infligir mais danos que os estritamente necessários para ganhar o jogo.
No final, além dos dois golos de Rafa e da vantagem cavada para o Futebol Clube do Porto, os benfiquistas encontraram o conforto que a exibição não lhes proporcionou nos cobertores da estatística. Em jogos para o campeonato o Benfica já tem mais vitórias em Alvalade do que o Sporting. Se não é um caso único numa rivalidade tão duradoura e tão intensa é certamente raro. E é capaz de explicar a dormência doméstica do dérbi de sexta-feira à noite: estavam todos a jogar em casa, de pijama e pantufas."

1 comentário:

  1. As equipas jogaram de pijama e faltáste lá tu para agarrar no PENICO e pôr os jogadores a mijar…! Não é assim ?. Segundo este jornaleiro , a vitória do Benfica foi assim assim. E..." os Benfiquistas encontraram o conforto que a exibição não lhes proporcionou…" …" e "o Lage via a sua equipa a ser controlada…" etc.,etc. Controlada 20 mn ? E o Silas parece-te o Rinus Michel ? Com essa basófia toda , s só podes ser adepto do scp: a máxima..."jogaram como nunca mas perderam como sempre"... assenta-te que nem uma luva. Mais uma vez, após mais 3 pontos ganhos pelo Benfica no dragão e em Alvalade, despontaram OS CORNOS DE ALGUNS . Para ver Futebol como na Inglaterra, na Alemanha ou em Espanha é preciso haver dinheiro...e em Portugal os Clubes não têm.

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