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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Europa connosco

"Com estas nossas quatro equipas, e com um sorteio favorável, poderemos ter a ambição de nos aproximarmos da França no 'ranking'

1. Esta semana fui até Bragança. Na apresentação de um interessante livro, um jornalista perguntou-me se conhecia um cidadão da terra cujos primeiros nomes eram Luís Miguel. Olhei para ele e sorri. Respondi de imediato: Pizzi! Orgulho de Bragança, dessa terra fria e terra quente como o imortal Miguel Torga nos legou. Recordei-me daquele instante de memória ao longo do jogo de ontem frente ao Famalicão e de mais uma categórica exibição do Benfica e dos entusiasmantes golos do Pizzi. E também do golo do Vinícius após uma motivante jogada colectiva. Sem esquecer o de Caio o que é encorajante. O Benfica está bem. Colectiva e individualmente. Agora falta conhecer o adversário na Liga Europa e ultrapassar o Sporting de Braga na Taça de Portugal. Bruno Lage soube construir e soube resistir. E a prorrogação do seu contrato é um sinal. De justiça. E nestes tempos ser justo é um bem relativamente raro. E quando se concretiza merece registo e aplauso. Parabéns Bruno Lage!

2. Foi uma semana de ouro para as equipas portuguesas na Europa do futebol. Quatro vitórias e uma derrota e a ultrapassagem definitiva da Rússia e a consolidação total do sexto lugar no ranking da UEFA, o que determina que Portugal voltará a ter três equipas - duas directamente e uma na pré-eliminatória - na edição 2012/2022 da Liga dos Campeões. O que fica desta época é a confirmação da pentarquia que domina o futebol europeu. Nos oitavos de final da Liga dos Campeões só estão clubes das cinco maiores ligas europeias. Espanha e Inglaterra (4), Alemanha e Itália (3) e duas equipas fancesas (PSG e Lyon). E estas duas são as únicas equipas francesas que resistem na Europa do futebol esta época! E o interessante é que das 19 equipas que estavam nos Campeões das cinco principais ligas, só três - Lille, Inter de Milão e Leverkusen - não chegaram aos oitavos de final. Já nos dezasseis anos de final da Liga Europa estão representadas 18 ligas e com a nota bem especial de Portugal ter a maior representação, com quatro equipas e três delas como cabeças de série para o sorteio de amanhã. A hierarquia do futebol europeu está a consolidar-se. Nos Campeões os grandes nomes e, por sinal, os mais valiosos. Conquista desportiva combina com o valor do plantel. E, por sinal, só no grupo do Benfica é que a proximidade entre os valores dos plantéis era maior. Mas com Leipzig e Lyon a superarem, apesar de tudo, um Benfica em efectivo crescimento de valor. Na Liga Europa a presença de 18 ligas representa um maior equilíbrio e uma efectiva representatividade. Com Portugal a ter quatro equipas e a Espanha, a Inglaterra e a Alemanha a terem, cada uma, três equipas no sorteio de amanhã. Com a Itália, a Áustria, a Holanda ou a Escócia, por exemplo, a marcarem presença com duas equipas. E com uma equipa deparamos com a Grécia e a Ucrânia - ambas com treinadores portugueses que, aliás, são os que mais equipas lideram nos oitavos e nos dezasseis anos de final, respectivamente, da Liga dos Campeões e da Liga Europa! -, Dinamarca e Suíça, Suécia ou a Turquia. É nesta época, e com estas nossas quatro equipas, e com um sorteio favorável, poderemos ter a ambição de nos aproximarmos, em termos de ranking, da França e, logo, olharmos, com legitimidade,para o quinto lugar. Na antevéspera de mudanças significantes na Europa do futebol. Desde logo em razão das consequências do Brexit para o futebol inglês e, também, das mudanças anunciadas nas competições europeias de clubes, com a introdução, por exemplo, de uma verdadeira Liga Europa 2.

3. Importa, no entanto, que acompanhemos uma disputa que se está a desenrolar em termos de futebol mundial. E que, de verdade, representa, do nosso prisma, uma guerra em surdina entre a FIFA e a UEFA. Em meados de Novembro o Presidente do Real Madrid foi designado Presidente de uma nova associação mundial de clubes (WFCA). Diria que em contraponto à ECA, a associação dos clubes europeus, liderada pelo homem forte da Juventus, Andrea Agneli, O que é expressivo é que a nova associação mundial nasceu sob o patrocínio da FIFA e do seu presidente Gianni Infantino. E sem o patrocínio da UEFA e do seu presidente Ceferin. E, assim, face ao projecto da UEFA de uma superliga europeia, nasce, sob o suporte da FIFA; um projecto de um largo mundial de clubes. Não tenho dúvidas que a disputa é real e que Florentino Pérez busca aliados de referência no espaço do futebol europeu. Acredito que o acabado de anunciar jogo solidário a 29 de Março, no Santiago Bernabéu, entre o Real Madrid e o Futebol Clube do Porto, é um encontro de grandes nomes dos dois clubes e com louváveis fins de inclusão social. Mas é um sinal de proximidade entre dois clubes num tempo de mudanças - e de alianças! - no futebol europeu e no futebol mundial. Por aqui vamos acompanhando esta luta de poder que marca o final deste ano de 2019 entre a FIFA e UEFA. Olhando nesta semana para o Mundial de clubes e para a presença de Jorge Jesus e do Flamengo e do Liverpool e de Jurgen Klopp! E sabendo que quem vencer esta competição receberá cinco milhões de euros! E sendo, depois da emblemática presença de Manuel José (2005 e 2008), Jorge Jesus o segundo treinador português a participar nesta competição que arrancou, sem grande aparato mediático, na quarta-feira e da entrada em jogo de Flamengo e, depois, de Liverpool tudo será bem diferente. E com a nota que a partir de 2021 serão vinte e quatro as equipas que marcarão presença nesta prova e com oito clubes europeus! E o futebol sul-americano com seis e com a China - como país sede desse novo Mundial - a ter direito a um representante! Europeu em 2020, Mundial de clubes em 2021 e Mundial de selecções e  2022. E, no meio, Liga dos Campeões e Liga Europa. E, por cá, a nossa Liga com a atenção de a época 2021/2022 permitir dois clubes com entrada directa na fase de grupos da Liga dos Campeões. Milhões e mudanças. Rivalidades internas e rivalidades externas. O mundo é mesmo feito de mudanças.

4. Uma nota de pesar. Com a consciência que no mesmo berço se nasce e se morre. Na quinta-feira morreu a cidadã Laurinda Lopes. Natural de Prime, freguesia de Fragosela (Viseu) foi a primeira mulher árbitra da Europa. Fica aqui o necessário registo e os sentidos pêsames à família. Com a recordação saudosa de alguns outonos vividos nas vindimas em Fragosela! Saudades da infância nestas vésperas de Natal!"

Fernando Seara, in A Bola

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