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sexta-feira, 5 de julho de 2019

Quantos palmos tem o talento, e porque estamos a escolher os mais velhos e não os melhores?

"No recente excelente torneio interassociações Lopes da Silva, foi possível confirmar algo que já tinha por cá abordado antes.
Entre as três Associações mais fortes, porque albergam os jogadores de Sporting, Benfica, Porto, Braga e Vitória de Guimarães, foram convocados 54 jogadores. Apenas 3 nasceram no último trimestre do ano. Dois em Setembro, e um nascido a 1 de Outubro.
Significa isto que há um qualquer gene ou efeito climatérico que torna os miúdos nascidos entre Janeiro e Março / Abril, mais aptos para jogar futebol que os que nascem no último trimestre? Naturalmente que não. Nas idades mais jovens quando é determinado no recrutamento que miúdos terão acesso à prática as escolhas estão a recair sobre os mais velhos e não sobre os melhores. Em idades tão jovens, em termos de rendimento faz muita diferença ter-se nascido em Janeiro ou Setembro. Estamos portanto a escolher os mais velhos, os de maior maturação e não necessariamente os que têm maior talento e consequentemente maior potencial.
Se no topo já hoje é aceite que o que distingue qualitativamente os jogadores é a qualidade técnica e a tomada de decisão, porque é que na base estamos a optar pela maturação física?
É natural que depois de um, dois e três anos de prática, os mais velhos se tornem melhores e com maior potencial. Tiveram acesso às melhores condições de treino, aos melhores treinadores e ao máximo de tempo de jogo em competição. Obviamente que quando se chega a uma selecção nacional de sub 15, ou às escolhas para as selecções regionais de sub 14, é natural que os miúdos escolhidos já sejam efectivamente os melhores e os de maior potencial. A grande questão é que na base, nas primeiras decisões, quando se determina quem terá oportunidade para esse acesso ao treino e à competição regular, ignora-se demasiadas vezes os de maior potencial. Que porque não são escolhidos para treinar e / ou para jogar, acabam por “ser mortos” com o tempo.
Para os sobreviventes, isto é para aqueles que mesmo sendo do último trimestre do ano conseguem ser escolhidos para integrar os planteis e ter tempo de treino, e ainda mais de jogo, acaba por ser óptimo. Passam a infância a jogar contra miúdos mais maturados, mais velhos (mesmo que apenas meses, mas que contudo contam bastante nas idades mais precoces), e por isso vêem-se obrigados a desenvolver outras competências para serem bem sucedidos. O pensar e o executar melhor e mais rápido. Desenvolvem do ponto de vista cognitivo e técnico outras e melhores valências para que continuem a ter sucesso. E são esses, que quando atingem também a maturidade física (sim, porque aí todos chegarão), estão melhor preparados para triunfar num desporto altamente competitivo. 
Percorremos uma era em que o egoísmo está cada vez mais presente no treinador. O treinador de jovem preocupa-se bastante mais consigo do que com o desenvolver dos seus miúdos. Importa mais vencer e colocar vídeos a rolar na internet para se valorizar do que efectivamente potenciar a individualidade. Essa que deveria ser a prioridade de todos quanto os que têm a responsabilidade de orientar cada sessão de treino.
Nenhum treinador de formação está a trocar o resultado, o imediato pelo médio / longo prazo. Até porque sabe que esse médio / longo prazo não será consigo.
Não é, porém, o treinador de jovens o único “assassino” ao longo deste processo. Acaba por assim se tornar, porque tem a perfeita noção de que maioritariamente, de cima apenas virá valorização decorrente do resultado. A avaliação será sempre quantitativa e nunca qualitativa.
O futebol é um Desporto verdadeiramente apaixonante, e por isso ainda hoje todo o tipo de pessoas sem qualquer formação seja no jogo, no treino ou até na vertente pedagógica procura lá chegar. A maioria dos dirigentes em Portugal não tem noção do certo e do errado, do caminho que deve ser trilhado e dos espinhos que este sempre encontrará, e logo ai começa o caminho para os disparates que os nossos treinadores cometem.
Não sei se algum dia haverá condições para mudar. Mas sei que é complicado mudar o envolvimento para melhor quando o topo não tem a mínima ideia do que deveria ser valorizado na base.

P.S. – Na foto um dos sobreviventes. Nascido em Novembro, o que ajuda a explicar a chegada tardia e dificuldades no seu percurso."

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