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terça-feira, 27 de maio de 2014

O jogador da época 2013/14

"Enzo Pérez foi a imagem mais deslumbrante de um campeão intenso, equilibrado, racional, autoritário, que dominou todos os princípios do futebol que praticou. Ninguém como ele foi tão relevante para a equipa, domínio dos seus princípios, estilo e orientação táctica.
1. Nem sempre os jogadores são apreciados pelos melhores e mais correctos motivos. Correr, por exemplo, só é um valor sólido se respeitar duas orientações (quando e para onde), embora muitos sejam elogiados pela tendência, tantas vezes demagógica, de quererem estar em toda a parte, sem perceberem que causam um problema (ou vários) onde deviam levar a solução. Dessa doença não sofre Enzo Pérez. O extremo de mediana classe, que Jorge Jesus fez evoluir para médio-centro de nível mundial, é a prova de que, por mais que nos queiram convencer do contrário, no grande futebol não cabem futebolistas que os treinadores utilizam como ferramentas sem cérebro. Por ser inteligente e ter as ideias no lugar, há muito que eliminou a parte mais venenosa do êxito (a vaidade) e do fracasso (o conflito).
2. O seu jogo de vistas largas leva equilíbrio, segurança, inteligência e soluções tácticas que reforçam a equipa e permitem mantê-la sempre organizada. São muito raros na história os jogadores que, em patamares de exigência máxima, conduzem os seus exércitos à vitória com armas de gregário (empenho, simplicidade e disciplina) e a arte dos grandes intérpretes (técnica, visão e magia); que despojam o futebol de toda a superficialidade quando se ocupam da defesa de um espaço ou da vigilância a um adversário e são eloquentes nos argumentos que apresentam para intimidar à frente; que têm espírito para perseguir quem os ataca e brilhantismo para, logo a seguir ao roubo da bola, inverter a energia e causar danos, alguns irreparáveis, na estrutura do adversário.
3. Sem bola é o mau da fita, que nunca se distrai e recusa desviar-se um milímetro que seja do caminho traçado; quando toma iniciativa tem mais que fazer, não perde tempo com malabarismos e ziguezagues que só atrapalham. Tem personalidade para parar um comboio, visão para organizar o plano e talento para concretizar todas as ideias que transporta. De resto, bola que lhe passe pelos pés sabe várias coisas antecipadamente: que não receberá uma carícia como prenda; por norma ficará ali pouco tempo e terá sempre o destino correto, seja a um toque ou após aventuras individuais deslumbrantes – lindo de ver, dificílimo de travar. Tudo quanto decide e faz rejeita o adorno e revela eficácia sem pompa. Prova de que domina de olhos fechados a diferença entre exibicionismo e a sublime técnica individual.
4. Enzo Pérez foi o jogador da época 2013/14, porque foi a imagem mais deslumbrante de um campeão intenso, equilibrado, racional, autoritário, que dominou todos os princípios do futebol que praticou. Podia ter sido qualquer das torres defensivas (Luisão e Garay) ou o génio mais desequilibrador (Gaitán); mas nenhum como Enzo foi tão relevante para a equipa, domínio dos seus princípios, estilo e orientação táctica. A seu favor pesa ainda a capacidade para ser sempre importante, mesmo quando surge muito desgastado, como sucedeu na final da Taça de Portugal: quando tem a bola, porque dispõe de armas tremendas para a criação; quando não a tem, porque é solidário e comprometido; quando ganha, porque o êxito não o embrutece; quando perde, porque a derrota em nada o diminui. É um craque da cabeça aos pés.

Porque o penálti não se teatraliza
Por mais que execute pontapés dos 11 metros durante a semana, às dezenas todos os dias, nunca o jogador conseguirá teatralizar verdadeiramente a situação que vai encontrar em jogo. No fim de um treino, sem pressão, perante guarda-redes descomprimidos, é muito mais fácil ter sucesso do que em estádios cheios, na decisão de uma competição europeia. Dizia o jornalista brasileiro Armando Nogueira que o penálti é uma execução em que o carrasco pode ser a vítima. Para mal dos pecados encarnados, foi o que sucedeu a Cardozo e Rodrigo em Turim.

Sete conquistas em cinco anos
Jorge Jesus confirmou temporada quase perfeita. Mais importante ainda do que os três títulos de 2013/14 é o balanço de cinco anos à frente da águia: duas Ligas, uma Taça de Portugal e quatro Taças da Liga. Se quisermos encontrar o mesmo número de troféus recuando no tempo, contas feitas, chegamos ao campeonato de 1990/91, isto é, há 23 anos. Jesus é o melhor treinador encarnado desde Eriksson e um dos melhores de sempre. “Acardite” mais ou menos; mastigue 20 ou 40 pastilhas elásticas por jogo; tenha a Alemanha ganho um, três ou 33 Campeonatos do Mundo.

(...)"

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