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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

O ridículo ‘keffiyeh’ de Cristiano


"Ingenuidade minha. Ao assistir ao sports washing desavergonhado do regime saudita, e ao êxodo de futebolistas europeus e sul-americanos em direção aos impuros petrodólares, assumi que o regime adotasse medidas e comportamentos mais civilizados.
Assumi, por exemplo, que as execuções em massa de prisioneiros deixassem de acontecer. Assassínios cruéis, parte deles de sabre e decapitação, uma ignomínia. Uma barbárie na Idade Média, uma barbárie no século XXI.
Em 2023, anota a Human Rights Watch no mais recente relatório, 100 cidadãos sauditas morreram às ordens do estado do príncipe Mohammed bin Salman.
Há relatos perturbadores, basta visitar o site da organização e lê-los. Um professor acabou no corredor da morte por se mostrar contrário às políticas do regente. Através de... tweets.
A vítima tinha nome: Muhammad al-Ghamdi. E tinha filhos, familiares e amigos.
Mais afortunada foi Manal al-Gafiri, uma menina (sim, menina) de 17 anos. Também por responsabilidade de «tweets hereges» e «conspiração contra o governo», Manal teve a sorte de ser poupada à lâmina da espada.
Viverá os próximos 18 anos numa prisão.
Ao mesmo tempo, provavelmente num universo paralelo, um tal de Cristiano Ronaldo traja-se à boa moda saudita, enfia o keffiyeh na cabeça, empunha uma orgulhosa espada e sorri para as câmaras.
É o Dia Nacional da Arábia Saudita, e uma das mais influentes figuras do planeta acha boa ideia celebrar o regime criminoso de bin Salman.
Como bem lembrou a jornalista Fernanda Câncio nas páginas do Diário de Notícias, em 2017 Cristiano foi um dos signatários de uma petição contra um juiz, na sequência de uma decisão polémica e injusta sobre um processo de violência doméstica.
«A violência doméstica é um problema muito grave. As vítimas merecem ser tratadas de forma digna e justa.»
Seis anos depois, o mesmo Cristiano esquece as convicções, agita espadas, celebra a vida num país que promove a morte.
É usado como bandeira de um governo anacrónico, onde ainda se condena o adultério e a homossexualidade, e olha altivo em direção à câmara.
Volto e voltarei a este tema as vezes necessárias. Respeitaria mais, infinitamente mais, se Cristiano fosse um cidadão comum, incapaz de cumprir os compromissos financeiros ao final do mês. Mas, um bilionário, um homem com dinheiro para dez vidas a desempenhar este papel?
«Custa-me ver uma figura que é ídolo para tanta gente a vender-se assim.»
É exatamente isto que afirma o Luís Rocha Rodrigues, diretor de informação do zerozero. É uma vergonha assistir à passagem de Cristiano para o lado negro da força.

PS: podia ter colocado o nome de Jorge Jesus e dos outros que alinham nesta brincadeira perigosa chamada liga saudita, mas do treinador pouco ou nada já esperava. De Cristiano, reconheço, sempre achei ter o coração no lugar certo. Uma desilusão."

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