"Costa Pereira proporcionou um momento de alegria, com uma recordação de um grande feito
Em Abril de 1963, o Estádio do Jamor foi o recinto que acolheu o jogo entre Portugal e Brasil: 'Encheu-se, como lhe cumpria, salão de grandes e históricos momentos do desporto, apesar do anúncio de que o grande encontro seria transmitido pela TV'. Não era para menos, os adeptos queriam assistir ao vivo à seleção das quinas perante os campeões do mundo.
O conjunto luso realizou uma estupenda exibição, a começar por Costa Pereira, 'que teve ensejo para efetuar defesas de todas as 'marcas' e 'estilos', desde o 'voo' do 'mergulho', da saída a pontapé ao despacho a soco. Três ou quatro intervenções, a remates de Pepe e Zito, especialmente do primeiro, quando entre ele e os avançados brasileiros não havia mais ninguém senão Deus, bastariam para glorificar e acreditar qualquer guarda-redes'. José Augusto também se destacou ao apontar o único golo do encontro, que garantiu a primeira vitória de Portugal frente ao Brasil: 'Um triunfo de alta repercussão internacional'!
Costa Pereira quis uma recordação desse magnífico feito, guardando a bola do jogo.
Algum tempo depois, o guarda-redes estava numa casa de ferragem em Nampula, quando foi interpelado por uma freira missionária de S. Pedro Claver. A irmã Valente contou-lhe que os utentes, leprosos, construíram o campo de futebol de Namaita: 'Estava pronto, mas os doentes não tinham bola para jogar'. Costa Pereira ficou sensibilizado com essa história e prontificou-se a ajudar, dizendo-lhe: 'Guardo comigo a bola histórica da primeira e única vez que ganhámos ao Brasil. Jurei a mim mesmo nunca a dar ninguém. Mas, para os seus leprosos... - e a voz embargou-se-lhe - vou-lha oferecer'.
A oferta surtiu o efeito desejado. Quando viram a irmã Valente chegar com a bola, 'cheios de impaciência por darem o primeiro chuto, não lhe prestarem a mínima atenção. Mal terminou, começaram a chutar'.
Com esse gesto, Costa Pereira, apesar de ter ficado sem uma bola que tanta alegria lhe deu, permitiu que outros, ao jogar com ela, tal como ele o tinha feito, voltassem a sorrir. Tanto mais quando se tratava de pessoas que lidavam com a dor de perto! Numa luta desigual, mesmo que por breves instantes, a alegria venceu o sofrimento.
Saiba mais sobre este brilhante guarda-redes na área 23 - Inesquecíveis, do Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
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