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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Um bisonte chamado Babe e a sua incontrolável atração feminina


"Babe Ruth foi uma daquelas paixões da América embora muito longe de ser um exemplo a seguir

Tratar um homem com mais ou menos o tamanho e a envergadura de um pequeno bisonte por Babe tem a sua graça. Francamente não gosto muito de basebol e percebo népias do assunto, mas não sou capaz de fugir aos grandes nomes, homens para lá da sua humanidade. Se quiser escrever sobre basebol escrevo sobre Joe DiMaggio e Babe Ruth. Ambos entraram no mundo da música por portas diferentes. Paul Simon cantava em Mrs. Robinson:
«Where have you gone, Joe DiMaggio?
Our nation turns its lonely eyes to you
Woo, woo, woo».
Já George Herman, também conhecido por Il Banbino ou por Sultan of Swat teve direito a dar o nome a uma banda inglesa dos anos 70, os Babe Ruth, que começaram por se chamar Shackloclk. Se me perguntarem qual deles foi o melhor, responderia que basebol à parte, Joltin’ Joe (o Joe Saltitante) foi o maior porque conseguiu ser uma das grandes paixões de Marilyn Monroe, o que do ponto de vista masculino é capaz de incomodar um engatatão do calibre de J.F. Kennedy, o rei do priapismo, que fazia de Clinton e da sua Mónica meninos de coro. Ou seja, em termos de amores dá um certo avanço ao Babe que nasceu muitos anos antes dele – 1914 para 1895. Giuseppe Paolo DiMaggio Jr. (the Yankee Clipper) era produto de uma família de emigrantes italianos; Geore Herman Ruth Jr. descendia de alemães que fugiram para os Estados Unidos. Se vos faz sentido acrescento que o primeiro era um ‘pitcher’ e o segundo era um ‘center field’. E a partir daqui peço mil perdões mas, sinceramente, desembrulhem-se.
Quando me dá para escrever sobre grandes personagens da história do desporto, isto é, todas as semanas, tenho tendência para procurar os momentos das suas mortes. Às vezes são grandes vivos mas fracos mortos. Babe Ruth não recusava o seu copinho de ‘bourbon’ (Joe era era um piancho de espaventar ornitorrincos) e foi avisado desde cedo pelos médicos para ter juízo. Nunca teve. Honra lhe seja feita, e ponto final. Quando um sujeito só encontra consolo no fim de uma garrafa há que ir ter com ele ao fundo da garrafa. Ou mandá-lo às malvas, cada um escolha de que lado quer ficar. A partir do final da II Grande Guerra, George percebeu que estava praticamente cego do olho esquerdo e mal conseguia engolir um copo de água, logo ele que não era propriamente um apreciador desse líquido inodoro, incolor e insípido. Diagnosticaram-lhe um nasopharyngeal carcinoma, ou seja, por palavras mais lhanas, um cancro na laringe e nas fossas nasais. Nada de muito simpático, convenhamos, logo para um tipo que irradiava simpatia. Se a nação virava os seus olhos solitários para Joe DiMaggio, também não deixou de se debruçar sobre o sofrimento de Babe Ruth. Era o que faltava! Depois de vários estudos científicos, os esculápios decidiram que o bicho que corroía Herman por dentro tinha sido alimentado por um abuso excessivo de tabaco. Isto num tempo em que nos Estados Unidos tinham pelas estradas todas cartazes com atores de Hollywood a celebrarem o benefício do consumo de Lucky Strikes. Babe, que pelo caminho perdeu 36 quilos, deixando de ser um bisonte para se parecer mais com um vitelo, nasceu rodeado de mortes: o n.º 16 de Emory Street, no bairro de Pigtown, em Baltimore, morada do seu avô materno, Pius Schamberger, foi palco de um nunca mais de crianças mortas, digno do Kindertotenlieder de Gustav Mahler. Dos sete filhos de Herman Sr. e da sua mulher Katherine sobreviveram à infância George e a sua irmã mais nova Mamie. Tornou-se um tipo agradável para o povo, sobretudo porque o seu jogo bruto valia vitórias às suas equipas, sobretudo os Boston Red Sox e os New Yor Yankees, mas nunca falava sobre o passado, provavelmente por jamais ter engolido a estranha decisão de os pais o enfiarem num orfanato a partir dos sete anos. A frase que repetia mais vezes tornou-se o seu lema: «It’s hard to beat a person who never gives up!». Ficou rico, chegou a ganhar mais de 52 mil dólares por ano (em 1922!), ia abusando de whisky e atravessava-se no caminho de todas as mulheres, somava ‘home-runs’ até ao exagero, enchia estádios mas, depois da reforma, não arranjou quem lhe arranjasse o lugar de treinador com que tanto sonhou. Já escalavrado de forma definitiva pelo cancro, não deixava de ter amantes. Era um vício. Não foi por acaso que um dia respondeu assim ao seu patrão nos Yankees: «Prometo ir com calma com a bebida e ir para a cama mais cedo, mas nem por ti, nem por 50 mil dólares ou por 250 mil dólares largarei as mulheres. É demasiado divertido»."

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