"Recentemente, li o Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago, uma obra poderosa que levou um jovem de 17 anos, como eu, a refletir sobre a fragilidade humana e a importância da visão, não apenas a visão física, mas também a moral e ética. Ao ler este livro, não pude deixar de traçar um paralelo com o estado atual do nosso Benfica.
Tal como no romance de Saramago, onde uma inexplicável cegueira branca se espalha por toda a sociedade, parece que uma cegueira semelhante tomou conta de muitos de nós, os adeptos do Benfica. Esta cegueira não é física, mas uma cegueira de discernimento, uma cegueira que nos impede de ver claramente as falhas, os problemas e os desafios que o nosso clube enfrenta.
No Ensaio sobre a Cegueira, os personagens enfrentam um colapso das estruturas sociais, onde a falta de visão leva ao caos e à desorganização. De maneira assustadoramente semelhante, a nossa cegueira coletiva, como adeptos, tem permitido que a desorganização e a falta de transparência continuem a afetar o nosso clube. Em vez de exigirmos mudanças e responsabilização, muitas vezes fechamos os olhos aos problemas, preferindo acreditar numa ilusão de sucesso e grandeza que já não corresponde à realidade.
Esta cegueira nossa, caros consócios, manifesta-se na aceitação passiva de resultados medíocres, na falta de questionamento sobre decisões controversas, e na lealdade cega a figuras que podem não ter sempre os melhores interesses do Benfica no coração. Como Saramago tão bem ilustra, a cegueira não é apenas a incapacidade de ver, mas também a recusa de perceber, de entender, de aceitar a verdade.
Vamos refletir por um momento sobre a nossa história. O Benfica sempre foi um clube de valores, de raça, de querer, de ambição. Desde a sua fundação, em 1904, que o nosso clube se destacou pela sua capacidade de lutar, de superar obstáculos e de conquistar vitórias. Mas, nos últimos anos, parece que algo se perdeu. A nossa visão tornou-se turva, deixámos de exigir a excelência que sempre nos caracterizou. Contentamo-nos com menos do que merecemos, e isso não pode continuar.
A cegueira dos adeptos manifesta-se de várias formas. Quantas vezes nos deixámos iludir por promessas vazias, por discursos cheios de palavras bonitas mas vazias de conteúdo? Quantas vezes aceitamos resultados decepcionantes, explicados com desculpas que, no fundo, sabemos que não passam disso – desculpas? Quantas vezes fechamos os olhos às práticas questionáveis dentro do nosso clube, preferindo não ver para não ter de enfrentar a verdade?
É essencial que recuperemos a nossa visão crítica. Precisamos de começar a questionar, a exigir mais, a não aceitar nada menos que o melhor para o nosso Benfica. Precisamos de transparência. As recentes auditorias revelaram práticas que põem em causa a integridade do clube, e é nosso dever, como adeptos, exigir respostas e mudanças. Não podemos permitir que a falta de clareza e a desorganização continuem a minar o que deveria ser uma instituição de referência no desporto nacional e internacional.
E não nos deixemos enganar, caros consócios, a responsabilidade não é apenas da direção. Nós, os adeptos, temos um papel fundamental. Somos a alma do clube, o seu verdadeiro coração. É nossa responsabilidade apoiar, sim, mas também é nossa responsabilidade exigir. Exigir transparência, exigir responsabilidade, exigir profissionalismo. Temos de ser agentes de mudança.
Benfiquistas, a cegueira só prevalece quando fechamos os olhos à verdade. Não deixemos que a cegueira destrua o nosso amor, a nossa história e a nossa identidade. Lutemos juntos, de olhos bem abertos, pelo Benfica que todos amamos. É hora de recuperar a nossa visão, de ver a realidade tal como ela é, de enfrentar os desafios de frente e de trabalhar juntos para restaurar o nosso clube à sua grandeza.
Viva o Sport Lisboa e Benfica! De muitos, um!"
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