Últimas indefectivações

sábado, 30 de setembro de 2023

Noite de clássico!


"Não há como esconder. A equipa do FC Porto é a que mais amedronta a equipa do Benfica. Só assim se explica que a equipa do Benfica some apenas quatro vitórias nos últimos 22 jogos realizados com o FC Porto, na Luz, para o campeonato. Não é o chamado número redondo, mas dá ideia clara da supremacia do dragão. Desde 2001/2022, Benfica e FC Porto encontraram-se 22 vezes para a Liga: 10 vitórias dos portistas, oito empates e quatro êxitos das águias. É um rombo. Vale o que vale, como diz Roger Schmidt «é história», mas até o treinador alemão saberá muito bem como a história, no futebol, costuma ter peso.
O próprio Benfica tem a noção exata do debate: que raio de bicho morderá às águias quando se trata de defrontar o FC Porto? Que efeito psicológico se abate sobre os encarnados mesmo em casa própria para uma tão grande diferença de sucessos nos jogos de campeonato?
Ganhar quatro em 22 jogos é realmente pouco para o grande candidato que será sempre o Benfica. Ganhar dez desses jogos na casa do rival não apenas aumenta a autoestima do FC Porto como lhe dá a esperança de estar sempre em condições de se bater pela vitória sejam quais forem as circunstâncias. Durante anos, no interior do próprio Benfica, reconheceu-se que «o FC Porto nunca morre», numa alusão ao caráter da equipa portista mesmo quando eventualmente possa, em teoria - como parece ser agora o caso -, estar em desvantagem relativamente à qualidade do plantel, ao leque de escolha do treinador e ao futebol jogado pela equipa.
Toda a gente sabe que pode, também, a equipa do Benfica argumentar que a equipa do FC Porto não apenas amedronta como intimida, porque é dura. Agressiva, joga mais no limite e tantas vezes o ultrapassa, é uma equipa que não teme, nunca, o confronto físico-atlético, o que a torna muito forte nos duelos, mais ainda quando os árbitros, também não há como escondê-lo, aceitam, para falar apenas nesta edição campeonato, como foi o caso flagrante, diria, do juiz Fábio Veríssimo, a excessiva dureza de entradas como as do médio Eustáquio no Rio Ave-FC Porto, jogado em agosto, que não mereceram sequer um cartão amarelo quanto mais o justificado vermelho. Deixo a referência apenas pela evidência e gravidade dos lances, que retratam, aliás, uma certa forma de competir e uma certa forma de os árbitros agirem. E nem vale a pena remexer na história.
No fundo, faz tudo parte da clara supremacia que o FC Porto foi ganhando sobre o Benfica. Talento, equipas fortes, muita qualidade de jogo, atitude reconhecidamente mais intensa e poderosa, mas também o jogar no risco, desafiar os limites, usar estratégia e menos o jogo pelo jogo, e confrontar permanentemente a coragem e a competência dos árbitros.
O FC Porto tem sido mais forte? Tem. Os números não mentem. Mas também lhe tem sido permitido ser o mais forte. E isso passa. Não fica gravado nos números do resultado. Só fica na memória e não é de todos.
Também não há como negar que este será o FC Porto porventura mais imprevisível que se apresentará na Luz, na noite desta última sexta-feira de setembro. Apesar de Taremi, apesar de Pepê, apesar de Galeno, em teoria a equipa do FC Porto desta temporada é talvez a menos forte dos últimos anos. Teve de incorporar novas caras e está, além disso, num processo de construção de uma nova espinha dorsal, depois de perder Otávio e Uribe, que eram, como bem se sabe, muito mais do que apenas dois dos mais fortes e competentes jogadores portistas.
A interrogação sobre este FC Porto não deve, porém, levar o Benfica a pensar num cenário menos exigente. Apesar do triunfo na Supertaça e da superioridade que os encarnados evidenciaram no segundo tempo, é bom não esquecer qual foi a equipa que entrou, mais uma vez, melhor no jogo então jogado em Aveiro. E é bom que Roger Schmidt e seus jogadores não percam de vista a influência que têm, neste tipo de jogos, jogadores como Pepe (se recuperar, evidentemente), Galeno ou Pepê, ou até mesmo, pelo peso da cultura portista, jogadores que sentem ainda a enorme necessidade de se afirmar, como Alan Varela ou o muito talentoso Iván Jaime.
Pode esperar-se um FC Porto a jogar menos do que tem jogado nos últimos anos; mas manda a prudência que ninguém espere um FC Porto menos combativo, menos agressivo, menos intenso, menos determinado e menos desafiador das regras. O treinador é o mesmo há mais de seis anos, é um grande treinador, vive o FC Porto como ninguém, sabe muito de estratégia e do jogo e conhece profundamente o futebol português. Julgam que isso não faz também alguma diferença? Faz. E não é assim tão pouca como isso.
Alguns sinais dados pelo Benfica nos últimos jogos fazem, mais uma vez, com que paire na Luz alguma preocupação. Menor capacidade de pressionar e recuperar a bola; ideias mais confusas na transição atacante; menos eficácia na execução; mais vertigem e menos controlo do jogo; erros de palmatória a comprometer o resultado (como no caso da estreia europeia com o Salzburg), tendência para complicar e dificuldade em mudar o chamado centro do jogo - o Benfica parece, por vezes, insistir em manter a bola onde o espaço é claramente mais caro por metro quadrado… -, e, por último, mas não menos importante, a cruel ineficácia na finalização - o Benfica tem sido demasiadas vezes uma equipa que precisa de muitas oportunidades para fazer um golo, e quanto mais exigente é o jogo, quanto maior é o seu grau de dificuldade, mais fatal isso pode tornar.
O Benfica tem talento suficiente para se bater com qualquer adversário? Tem, claro que tem. Mas creio que tem, igualmente, um treinador que, apesar de todas as suas competências (e serão certamente muitas) dá a ideia (pelo menos é a ideia que dá) de ter muita dificuldade a ler o jogo e, por isso, muita dificuldade em mexer com o jogo, e o leitor não deixará, no mínimo, de compreender o que quero dizer, podendo, naturalmente, como sempre discordar.
O Benfica perdeu Grimaldo e ao perder Grimaldo perdeu decisiva arma na construção ofensiva. Ganhou a pérola Di María, mas Di María, que aporta tanta genialidade à equipa e dele se espera sempre que faça muita diferença (como fez, aliás, na Supertaça, em agosto), obriga a equipa a ter outro comportamento defensivo. Kokçu ainda está a adaptar-se a uma novíssima e gigantesca realidade comparada com a que tinha, com João Mário numa das alas, Aursnes a lateral-esquerdo e Rafa por dentro, mesmo quando jogam melhor, o Benfica perde largura, afunila demasiado o jogo, já para não falar da tendência para todos (ou quase todos) quererem a bola no pé e, por isso, atacarem menos o espaço. Deixo um termo de comparação: o Sporting, por exemplo, dá muita largura à sua construção de jogo e os jogadores atacam muito o espaço. É o que me parece. E também por isso (não só, mas também), quando joga bem, é a equipa que está a jogar melhor.
O Benfica tem ainda continuado a revelar um problema nas laterais defensivas - Aursnes compensa tudo pelo grande jogador que é, mas não tem a velocidade, nem a prática, que se exige a um lateral, e Bah é melhor a atacar do que a defender, talvez por falta de escola, por falta de exigência (habituado a um nível muito inferior ao que é jogar no Benfica) e compromete demasiadas vezes.
E chega-se ao guarda-redes, ainda muito jovem, mas já suficientemente infeliz para deixar os adeptos com a pulga atrás da orelha. Trubin está, ainda por cima, num clube que tem uma impaciência assustadora para qualquer jogador, porque na Luz, todos sabem, é raro dar-se tempo a um jogador para se adaptar, e muito menos para crescer. Por isso aumentam (mais ou menos justificadamente, mas sempre muito impacientemente) as dúvidas sobre jogadores como Jurásek ou Arthur Cabral, por mais difícil que seja para uns (mais para uns do que para outros) a adaptação às novas realidades. E isso aplica-se a Benfica ou FC Porto ou a qualquer outra equipa.
No caso concreto da impaciência benfiquista, volto, aliás, a lembrar as palavras do ex-avançado da Luz Nuno Gomes, há um par de anos, ditas a propósito de Lisandro López, na altura ponta de lança do FC Porto, ter feito apenas oito golos na primeira época no dragão, antes de explodir como Bola de Prata. «Se calhar, no Benfica era dispensado», foi mais ou menos, se recordo bem, o que disse Nuno Gomes, aludindo à atmosfera impaciente que costumas viver-se no universo encarnado.
Vejam-se ainda os casos, no FC Porto, com David Carmo ou Pepê ou Evanilson. No FC Porto, a exigência é grande, mas a pressão parece claramente menor (ou é mais controlada) e talvez por isso mesmo os jogadores em mais dificuldade conseguem sobreviver melhor.
Estão assim reunidos suficientes pontos de interrogação para o primeiro grande clássico do campeonato. Será o talento da águia suficiente para se impor ao sempre esperado jogo de raça do dragão? A emoção segue dentro de momentos."

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