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quarta-feira, 26 de junho de 2019

As yankees e as sete europeias: a nova história do futebol feminino

"E sobram oito. Se eventualmente ainda não se deixou convencer pela qualidade do futebol praticado em França, este é um bom momento para apanhar o comboio. O Campeonato do Mundo feminino está na fase das grandes decisões e o percurso até aqui redesenhou um novo mapa-mundo do futebol jogado por elas.
A ronda das últimas oito “reduziu” a corrida ao título a dois continentes, algo que acontece pela primeira vez na história das oito edições já realizadas. Mais do que isso, confirmou a migração das forças que perseguem o domínio histórico dos Estados Unidos da Ásia para a Europa, onde moram as novas “princesas” com aspirações a “rainhas”.
É uma verdade que a Alemanha e a Noruega desde cedo - na ainda jovem história dos Mundiais femininos – se perfilaram na linha da frente, mas o campo europeu é agora mais vasto e, sobretudo, mais dotado de qualidades que sustentam realisticamente as fortes ambições do grupo europeu de perseguidoras.
À cabeça, a França. Desde logo, porque a euforia que brota dos estádios cheios, de Paris a Nice, contagia. Mas sobretudo, porque a equipa de Corinne Diacre sabe o que faz, da cabeça aos pés; e a ideia de jogo encontra em jogadoras como Wendie Renard, Amandine Henry, Amel Majri ou Le Sommer intérpretes de nível superior.
Jogada da aleatoriedade dos sorteios, uma das finais antecipadas joga-se agora, nos quartos de final. França x Estados Unidos. É a “crème de la crème” deste Mundial e o obstáculo maior para a equipa da casa – que já eliminou o Brasil. Se o passar, o sonho fica palpável e será discutido “internamente”, entre pares do mesmo continente.
E é nesse grupo de pares que se encontram outras nações com legítimas aspirações à glória em Lyon. A bicampeã mundial Alemanha, depois de uma quebra que se seguiu ao título de 2007, surge em França com sangue novo e a mentalidade de sempre. Ficou sem a sua estrela logo a abrir (Dzsenifer Marozsàn), mas tem encontrado o seu modelo e a sua força colectiva à medida que elimina obstáculos.
Nos «quartos», o próximo obstáculo é a Suécia, uma muralha defensiva em torno de Hanna Glas e Linna Sembrant, com a qualidade ofensiva de uma Kosovare Aslani. Mas há mais. A Inglaterra de Phil Neville, que tem confirmado as expectativas com base numa das ideias de jogo em posse mais atraentes deste Mundial, defronta a Noruega, campeã do Mundo em 1995. Mesmo sem Ada Hegerberg, a Bola de Ouro, a selecção nórdica tem qualidades para dar e vender.
E sobra o Holanda x Itália, que não cabe, de todo, numa categoria inferior. As campeãs da Europa começaram tímidas e lidaram com um ceticismo crescente dentro das próprias fronteiras, mas à medida que as etapas iam sendo cumpridas percebeu-se que as holandesas são um sério candidato. Vivianne Miedema tem desabrochado em França e Lieke Martens, que atravessava uma espécie de travessia no deserto, despertou o seu enorme futebol a tempo para eliminar o Japão.
Pela frente, a Holanda vai ter, porventura, a maior surpresa deste Mundial. Arredada há 20 anos da prova, a Itália surge em França como uma outsider temível e capaz de “passar uma rasteira” a qualquer seleção. A equipa orientada por Milena Bartolini pode não ter o jogo mais apelativo, mas tem feito valer a intensidade e a paixão para chegar aos quartos e ameaçar o poderio das demais.
Sete países de futebol cheio e maduro que desafiam a lei das mais fortes. Falta falar dos Estados Unidos, a selecção que não é surpresa. Sólidas, disciplinadas, imprevisíveis; no fundo, uma verdadeira equipa com individualistas assombrosas, como Alex Morgan, Megan Rapinoe ou a "veterana" Carli Lloyd. As norte-americanas continuam a ser o barómetro no futebol feminino e as grandes favoritas ao título, mas agora com uma legião de perseguidoras mais lata e diversificada.
Por isso, se tem andado a perder os jogos deste Campeonato do Mundo, agora é uma das últimas chamadas para se juntar ao fenómeno crescente do futebol feminino. Deixe de lado os preconceitos, apague os chavões e esqueça o que alguma vez pensou sobre elas. Este é um novo futebol com direito por mérito próprio a ter todo o reconhecimento que elas estão a fazer por merecer."

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