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sábado, 4 de janeiro de 2025

O VAR foi uma das maiores conquistas do futebol moderno. Não há argumentos racionais que justifiquem o regresso ao passado


"A questão da “emoção” ou do “tempo perdido” esbate-se muito facilmente: a intervenção dos vídeo árbitros não está no top-3 dos motivos que mais fazem parar os jogos e a questão da quebra de emotividade não faz qualquer sentido, porque o que está em causa é a reposição imediata da verdade no jogo. Preferimos um partidaço emotivo, mas com mentira, (...) ou um jogo um bocadinho menos entusiasmante, mas com justiça? A escolha não é difícil

Roberto Rossetti, presidente do Comité de Arbitragem da UEFA, deu por estes dias uma entrevista ao La Stampa que vale a pena ler com atenção. O italiano abordou, sem preconceitos, a forma como vê o setor da arbitragem em tempos de grande exigência e pressão sobre os homens do apito.
Rossetti, um dos melhores árbitros da sua geração, fez a defesa intransigente da vídeo arbitragem, dando o exemplo do Argentina-México que arbitrou no Mundial de 2010: “Todo o mundo viu o fora de jogo de Carlos Tévez... menos eu.”
A sua sinceridade falou em nome de todos aqueles que não tiveram a felicidade de contar com essa ferramenta. Erros relevantes cometidos há uns anos seriam hoje corrigidos em dez, quinze segundos. Não deixa de ser frustrante, mas as coisas são como são.
No que me diz respeito, não tenho a mínima dúvida: a introdução da vídeo arbitragem foi uma das maiores conquistas do futebol moderno.
Apesar da sua ‘juventude’ - ainda não completou uma década de existência -, são incontáveis o número de jogos cuja verdade desportiva foi resgatada com eficácia.
Confesso, não percebo quem ainda defende o regresso ao futebol de antigamente. Não há, não pode haver argumentos racionais que o justifiquem.
A questão da “emoção” ou do “tempo perdido” esbate-se muito facilmente: a intervenção dos vídeo árbitros não está no top-3 dos motivos que mais fazem parar os jogos e a questão da quebra de emotividade não faz qualquer sentido, porque o que está em causa é a reposição imediata da verdade no jogo. Preferimos um partidaço emotivo, mas com mentira, ou um jogo um bocadinho menos entusiasmante, mas com justiça? A escolha não é difícil.
Olhem para os números: são incontáveis os penáltis que ficaram por assinalar ou que foram mal assinalados antes do VAR. Estamos a falar de milhares de golos mal validados ou por validar (lances de fora de jogo). Já para não contabilizar os vermelhos por exibir ou mal exibidos.
São tantos, mas tantos exemplos que é quase ofensivo referir um a um.
Hoje o erro continua a existir, não fosse o jogo jogado, treinado e arbitrado por pessoas. Mas são menos, muito menos do que foram.
O grande problema da tecnologia foi o do aumento de expetativas para o exterior. Desenhou-se a ideia de que a vídeo arbitragem terminaria com as más decisões nas quatro linhas, quando na verdade ela foi projetada para erradicar apenas as mais evidentes e factuais.
As outras (que são a maioria) ficarão sempre para a interpretação da equipa de arbitragem em campo. Nunca podem entrar nestas contas.
Ainda assim não deixa de ser verdade que há um conjunto de análises que não deviam acontecer, tendo em conta o auxílio precioso que as imagens hoje facultam. Quando isso acontece, estamos perante má vocação para a função, falta de treino adequado, relaxamento/desconcentração em sala ou mera incompetência técnica (para analisar situações à luz das leis de jogo).
Qualquer uma delas é grave em alta competição.
É fundamental criar, com tempo, planeamento e estratégia, um quadro específico de VAR's, totalmente independente da carreira de árbitro. Estamos a falar da separação de funções, tal como acontece agora com os árbitros assistentes.
Essa evolução permitirá trabalhar de forma mais personalizada e dedicada, com treinos mais específicos e frequentes. Será aí que se perceberá quem é mais qualificado e quem não tem perfil para a missão.
O futebol tem que ser paciente com este processo, como é com tantos outros, aqueles mais impactantes, que demoram o seu tempo a crescer, maturar, solidificar. Mas a perspetiva é boa e as coisas irão melhorar bastante. Tenho essa convicção."

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