"Vamos hoje muito atrás. Até 1908, mês de Outubro. O Benfica já é Sport Lisboa e Benfica e o Sporting já joga de verde e branco. Duplamente inédita, portanto, a compita. E com um toque de vingança 'encarnada'.
Regressemos aos Benfica-Sporting! Vale sempre a pena. E este é especial por causa das cores. Isso mesmo: por causa das cores. E dos nomes!
Vamos então até ao dia 25 de Outubro de 1908.
Aí já não era Sport Lisboa e sim Sport Lisboa e Benfica.
Ou seja, estávamos perante o primeiro autêntico Benfica-Sporting. E assim mesmo: Benfica-Sporting, porque jogado no Campo da Feiteira, ali junto à igreja de Benfica. Onde isso já vai...
Disputava-se a segunda jornada do Campeonato de Lisboa, e ambos vinham de vitórias na primeira: a do Benfica mais folgada (6-0 ao Ajudense); a do Sporting mais pragmática (1-0 ao União Belenense). Também onde já vão tais adversários.
Sonhavam os de Belém/Benfica (não esquecer as origens!) com a primeira vitória sobre os irmãos fugidos, encantados pelas ofertas de mãos largas dos seus adversários. E eles continuavam por lá, do outro lado do campo, agora com as vistosas camisolas bipartidas, metade verdes, metade brancas, imaginadas por Eduardo Quintela de Mendonça, conhecido por Farrobo, e importadas especialmente de Inglaterra para todos os atletas de todas as modalidades do clube.
Foi, por isso, também o primeiro Benfica-Sporting a vermelho e verde, já que nos anteriores, ao garrido encarnado do Sport Lisboa, opusera o Sporting um sóbrio equipamento intocavelmente branco, com excepção do oval emblema verde de leão ao centro. Os calções sportinguistas continuavam, para já, brancos. Os pretos surgiram apenas em 1915, por sugestão do jogador Raúl Barroso.
Era assim um jogo duas vezes inédito! Só por isso merece aqui a croniqueta semanal deste que se assina. Com ajudas, claro! Quando vamos em busca do tempo perdido precisamos de ajuda. E a que aqui utilizo é da boa, de luxo!
O Sporting reclamou: quem diria?
Por muita pesquisa que fizesse, não encontrei muitos dados sobre este Benfica-Sporting, mas também mais de cem anos se passaram entretanto.
Socorro-me da «História do Sport Lisboa e Benfica», de Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, encontrada em estado impecável num alfarrabista da Rua do Alecrim e que faz agora parte da minha bem fornida colecção de livros velhos e saborosos.
Bom apetite!
«O encontro começou ao meio.dia. Lançada a moeda ao ar, coube ao Benfica o direito de escolha do campo, tendo Cosme optado pelo lado norte do terreno do jogo. Dado pelo Sporting o pontapé de saída, o jogo caiu logo para o campo ocupado pela equipa 'leonina', que se manteve numa defesa denodada, na qual se salientou José Belo, jogador de muito mérito. Não se tornou por isso viável a marcação de qualquer ponto. Ao intervalo o resultado era de 0-0.
No segundo tempo, o Benfica abriu a série de golos e fixou-a em dois tentos, marcado um por Cosme Damião e apontado o outro por David da Fonseca. O resultado final foi, pois de 2-0.
As duas turmas tiveram a seguinte constituição:
SPORT LISBOA E BENFICA - João Persónico; Henrique Cosa e Leopoldo Mocho; Artur José Pereira, Cosme Damião e Luís Vieira; António Costa, David da Fonseca, Carlos França, Eduardo Corga e António Meireles.
SPORTING - Augusto Freitas; José Belo e António Neves Vital; Francisco Stromp, António Couto e Albano dos Santos; António Rosa Rodrigues, F. Amorim, Carlos Shirley, Cândido Rosa Rodrigues e Nóbrega e Lima.
Arbitrou Gastão Pinto Basto.
O Sporting reclamou o resultado do jogo, mas a reclamação não foi considerada procedente.»
A vingança consumava-se. E tinha requintes de malvadez. O ciclo de êxitos encarnados iria estender-se até 1915."
Afonso de Melo, in O Benfica
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