Últimas indefectivações

domingo, 6 de outubro de 2024

O problema é o treinador. Ou não.


"Ouvi e li, ao longo de meses: “o problema não é só o treinador”. O problema nunca é só um, mas em futebol quando o treinador é problema não há alternativa a removê-lo e antes cedo que tarde. O mérito de Bruno Lage em arrumar a casa só é comparável ao demérito de Roger Schmidt em mantê-la na anarquia. Imagino o alemão a assistir à goleada das águias sobre o Atlético de Madrid, de mãos nos bolsos, a encher a boca de ar, e mais uma vez com dificuldade em entender o que se passava no campo.
O Atlético de Madrid tem não apenas o treinador mais caro do mundo como, por via disso, o mais sobrevalorizado que conheço. Diego Simeone tem escassos resultados para tantos anos no clube e as fortunas gastas em reforços a cada nova época. A fraca qualidade de futebol é, de há muito, uma evidência, mas ter-se tornado uma espécie de anti-Guardiola - bandeira de um jogar dito “intenso” e transformador de (bons) artistas em (pobres) operários - garante-lhe sempre, e particularmente em Portugal, uma falange de apoio. Não lhe garante é muito mais que isso.
Criticar Simeone não desmerece em nada a noite europeia perfeita do Benfica, na enésima prova de que só um coletivo competente permite o conforto individual em que se afirma o talento. Como parecem tão melhores Florentino, Kokçu ou Carreras, entre outros, e é a Lage que isso se deve. Exatamente do mesmo modo, criticar Ten Hag e a assombração em transformou a equipa do Manchester United não menoriza o bom que o FC Porto apresentou, mesmo com a entrada em falso e o final infeliz. Diogo Costa e Samu são ilustrações claras do que correu mal e bem. Tivessem os portistas demonstrado no plano defensivo a competência revelada no ataque e outro Dragão cantaria.
Confesso, no contexto atual, dificuldade em entender as críticas a Vítor Bruno, algumas sugerindo até que não é treinador para o FC Porto. Pegou numa equipa amputada de pedras essenciais (Pepe, Taremi, Evanilson, Francisco Conceição, Wendel por motivo diferente) e agarrou-se ao que tinha para um arranque de época de grande risco. Fez das tripas coração, de Galeno lateral e de Namaso titular, deu espaço a Martim e Vasco Sousa, e acrescentou uma Supertaça ao museu. Entretanto, integrou os reforços tardios – Nehuén, Moura, Samu – com coerência e aumento do potencial ofensivo. Não, não fez tudo bem, errou na escolha do onze em Bodo e fez substituições excessivamente defensivas no jogo com o United, levando a um desnecessário recuo da equipa. O futuro pode vir a desmentir-se, mas não me parece que o presente autorize ver no treinador o problema do FC Porto. Ou sequer… um problema."

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