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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Se todos caminhassem sobre a água seria por não saberem nadar

"O mal das críticas é que nunca se fazem acompanhar por contexto. Logo, falta-lhes construção, falham ainda ao não serem construtivas.
Os 72 números que separam o 8 do 80 são escassos, muitas vezes, para quem acompanha de perto o futebol, e até o português. Além de sermos básicos a analisar, ainda temos contra nós querermos ir à festa sem ter dinheiro para alugar o smoking. Só intensifica a questão, precipita-a.
O futebol, e também aquele que por cá se joga, é então sempre interpretado de forma demasiado simplista. O que não quer dizer que não sejamos rápidos a decidir.
Há sempre um culpado. One and only. O treinador.
Depois, no lugar dos réus lá se senta um ou outro patinho-feio, entre um terço e metade da equipa quando chega a tal, se a crise é de caixão à cova.
Há ainda sempre um autoproclamado inocente. É sempre apenas um. O presidente. Sustentado pelos adeptos, e pelas promessas verbais ou subliminares que faz, mas sim, o presidente.
Uma ou outra vez, o técnico é mesmo o mau da fita, e aí temos
A Argentina foi campeão do mundo apesar do Bilardo, pá!
Se Maradona, capaz de ver Burru e Valdano do outro lado da área pelo canto do olho no Golo do Século, garante que sim, eu acredito.
O problema é que tudo parece demasiado definitivo. Ou serve ou não se serve de todo, nem hoje nem nunca, e malditos todos os que acharam que sim.
Der Terrier Berti Vogts, o baixote canino com coleira de espinhos que não largou as pernas de Cruijff na final de 74, treinou uma vez a Escócia, as coisas não corriam bem e lamentou-se
Se eu caminhasse sobre a água diriam que é porque não sei nadar
Perturbam-me, admito, as conclusões fáceis. Se tivesse um amigo como La Palice, este concordaria comigo, enquanto despejamos uma imperial e mastigamos freneticamente dois pires de tremoços.
O que é verdade hoje pode não sê-lo amanhã, ou até sê-lo noutro lugar, com outras pessoas, num outro tempo...
Hoje, chega-se facilmente à sentença: não é treinador. Não é jogador. Não vale nada! Um treinador não se consegue destacar pelo picotado da conjuntura que o envolve.
A sua equipa, e as oscilações de forma de cada um dos 30 jogadores. Aquele momento entre tantos outros, ao longo de uma época. Um mês em dez. Os adversários também com os seus próprios momentos. As necessidades, mediante cada uma das peças do puzzle. E as que não encaixam, das quais se recortam as pontas para encaixar.
Uma equipa é construída por muitos treinadores, ou partes do mesmo. Pelas relações intrínsecas entre os jogadores. Pelos rivais, por todas as escolhas feitas que poderiam derivar numa outra realidade alternativa qualquer. A fronteira entre ganhar ou perder não depende só do talento. Não pode.
Vejam Bilardo!
Um jogador faz-se de momentos também. De decisões, mal e bem tomadas. De problemas bem ou mal resolvidos. De noites passadas acordado. Por vezes, de uma luta cega e surda com a depressão. Da gestão do sucesso e do insucesso. Do azar da bola no poste, e na fé de acertar do meio-campo. E, claro, da recepção orientada, dos ziguezagues com a bola nos pés, do remate com ambos os pés. Do golo de letra, em encontro decisivo.
Falta-nos dar mais segundas oportunidades. Ter mais paciência. Acreditar em Manuel Fernandes aos 32 anos, ou lançar Éder para uma final de um Campeonato da Europa. Abraçar Renato Sanches para nova tentativa, entender um incompreendido André Gomes, continuar a esperar muito das pernas de Coentrão. Estar no sítio onde vão cair as triveladas de Quaresma.
Seríamos espertos se fôssemos um pouco mais como Terry Venables
Tive sentimentos estranhos, misturados, como se observasse a minha sogra a cair num precipício ao volante do meu carro.
Há sempre um lado positivo. É uma oportunidade que, antes de darmos aos outros, oferecemos a nós mesmos."

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