"Dinis Silva respeitou o tempo, mas o tempo não agiu da mesma forma
Em tantas línguas procuramos a palavra despedida, e em nenhuma encontramos o significado atribuído pela língua portuguesa: o prenúncio da ausência. Se juntamos a palavra saudade, ainda mais notável se torna, por não haver nenhuma que consiga descrever a 'presença da ausência'. Daí deciframos um pouco do que é ser português: é sofrer quando alguém ainda nem sequer se foi embora, mas manter presente na memória quem já cá não está. Num fado que se prolonga por gerações, a tarefa torna-se mais complicada quando temos de nos despedir de alguém que não é suposto partir. Ficando presente a sua ausência, ou, como diríamos, uma eterna saudade!
Em 1974, Dinis Silva ingressou no Benfica, numa contratação que levou 'alguns meses de enormes trabalhos e canseiras'. Apesar de ter apenas 18 anos, era já um dos atletas mais renomados, considerado 'uma das grandes esperanças do ciclismo nacional'. O ciclista tinha começado a praticar a modalidade há pouco mais de dois anos, ao serviço de Fogueira. Despertou o interesse do Grupo Desportivo de Ambar, para onde se transferiu em 1973, passando a profissional nesse mesmo ano. Na 30.ª Volta a Portugal, classificou-se na 10.ª posição, o que levou o CNID a distingui-lo com o prémio Revelação do Ano.
Ao serviço do Benfica, o cliclista não demorou a demonstrar as suas credenciais, na Volta a Portugal de 1974. Venceu 'a mais difícil etapa da prova - a subida da Torre', e discutiu a vitória no título individual da competição de forma acérrima com o companheiro de equipa Fernando Mendes. Humilde, afirmou: 'Podia ter vencido a Volta, mas não era justo. O Fernando Mendes era o chefe de equipa e tinha mais categoria do que eu. Tenho muito tempo à minha frente para tentar conseguir este triunfo'. Dinis Silva respeitava o tempo! Ainda nesse ano, foi o mais nova participante do Mundial de Profissionais. Tudo parecia correr de feição para o benfiqiusta.
Em Fevereiro do ano seguinte, foi-lhe diagnosticada leucemia. Apesar de lutar com a mesma força e empenho com que enfrentava a mais dura das provas, o cliclista não conseguiu travar o tempo, que sumia a uma velocidade avassaladora. Em 6 de Março, chegou a triste notícia do seu falecimento, para grande consternação do desporto nacional.
Em 18 de Setembro de 1976, a Associação de Ciclismo do Sul organizou o Troféu Dinis Silva, em homenagem ao malogrado ciclista, com a partida e a chegada a acontecerem no Estádio da Luz. Os seus antigos colegas de equipa consagraram a sua memória ao vencer a prova individualmente, por Firmino Bernardino, e coletivamente.
Saiba mais sobre este brilhante ciclista na área 3 - Orgulho Eclético, do Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
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