"No último domingo, no dérbi contra o Sporting, conheci o António. Não deve ter mais de 8 anos, mas já carrega um fardo pesado para quem tão pouco tempo teve para sonhar. O António estava inconsolável. Chorava pelo resultado e pelas provocações dos adeptos adversários, mas chorava, sobretudo, por um sentimento que poucos adultos conseguem traduzir: a tristeza de ver o clube que ama ser pequeno quando deveria ser gigante.
Aproximei-me para o confortar. Disse-lhe que o Benfica ainda lhe daria muitas alegrias, que um dia voltaria a sorrir com as vitórias do clube. Mas não estava preparado para a resposta dele: “Pois, mas ultimamente não tenho visto muitas.”
Fiquei sem palavras. Ali, naquele momento, percebi que o António simbolizava algo maior do que o desalento de um jogo perdido. Ele simbolizava uma geração inteira de benfiquistas que cresceu sem referências de glória, apenas com recordações de promessas quebradas e sonhos desfeitos.
Eu tenho 21 anos. Vi o Benfica regressar a finais europeias, algo que não acontecia desde 1990. Assisti à conquista de 7 campeonatos nacionais e outros títulos. Mas mesmo assim, já vivi mais desilusões do que esperava. Já vi mais enxovalhos do que motivos para orgulho.
Agora imaginem o António. Na sua curta vida, terá festejado, no máximo, 1 ou 2 campeonatos. No resto do tempo, viu um Benfica frágil em campo e ainda mais vulnerável fora dele. Viu um clube atolado em processos judiciais, suspeitas de corrupção, tráfico de influências e má gestão. Um Benfica que trocou a grandeza por subterfúgios e conluios.
O António conhece um Benfica manchado. Um Benfica que sai nos jornais pelas piores razões, onde se fala de manipulação de resultados, acordos obscuros e práticas que ferem o nome de um clube que já foi sinónimo de ética e grandeza. E o pior é que ele já normalizou essa imagem. Cresceu a acreditar que este é o Benfica.
Uma auditoria recente expôs aquilo que muitos já temiam: um clube que se desviou dos seus princípios, que perdeu a liderança moral e desportiva, e que hoje sobrevive mais pelo nome do que pelo mérito. E é este o Benfica que estamos a legar ao António e a tantos outros miúdos como ele.
E, no entanto, o António merece mais. Merece um Benfica que inspire sonhos, não desculpas. Merece vibrar com finais europeias e festejar campeonatos, não crescer habituado à mediocridade e aos escândalos. Merece sentir orgulho no emblema que escolheu amar.
Mas a responsabilidade não é só dos dirigentes. É nossa. Nós, adeptos e sócios, temos de ser mais exigentes. Temos de abandonar a apatia e levantar a voz contra quem usa o Benfica como trampolim pessoal. Temos de exigir transparência, competência e dignidade.
O António merece crescer a acreditar que o Benfica é tão grande quanto a história diz que é. E se não o fizermos por nós, que já conhecemos um passado melhor, temos de o fazer por ele.
Porque o Benfica não pode ser apenas uma memória distante de glória. O Benfica tem de voltar a ser aquilo que sempre prometeu ser: o maior clube de Portugal.
E isso não é um pedido — é uma obrigação."
Com 21 anos se foste faito socio a nascença ja podes candidatar as eleiçoes de Outubro...
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