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domingo, 5 de janeiro de 2025

Estaduais têm ‘spoilers’


"Os campeonatos estaduais estão para o futebol brasileiro mais ou menos como a Taça da Liga, cuja final-four vai começar, ou a Supertaça Cândido de Oliveira, ganha pelo FC Porto antes do início da Liga Portugal Betclic, estão para o futebol português: são vistas como competições secundárias no calendário dos grandes clubes pelos dirigentes, pelos treinadores, pelos adeptos e pela imprensa.
A diferença é que a Supertaça Cândido de Oliveira ocupa umas duas horas desse calendário — a deste ano ocupou um bocadinho mais porque foi a prolongamento — enquanto os estaduais brasileiros demoram penosos dois ou mais meses.
Como também eram penosas a fase de grupos e as eliminatórias da Taça da Liga antes de se chegar ao jogo decisivo, em Portugal entendeu-se que o formato deveria ser radicalmente alterado, mantendo o vestígio de emoção que a prova contém, a tal final-four, disputada este ano, como de costume, entre os três grandes e o campeão SC Braga.
No Brasil, no entanto, como os estaduais alimentam os dirigentes das federações locais e os dirigentes das federações locais são quem elege o presidente da CBF, este organismo insiste em mantê-los nos moldes atuais — neste espaço de opinião não se propõe a sua extinção, atenção, mas a sua extensão, palavra quase homófona mas muito diferente, ao longo do ano, como uma espécie de Série E com acesso à D, engordada pelas equipas B dos maiores clubes de cada estado que, desse modo, poderiam dar minutos à imensidão de jovens craques que produzem.
Embora em dieta de duração ano após a ano — este ano acabam em março —, os estaduais ainda apertam o Brasileirão, essa sim uma competição de enorme potencial desportivo e financeiro, no resto do ano, com jogos de três em três dias, num país em que as viagens são continentais e a cada jogo os treinadores e os jogadores são postos em causa por uma multidão de fãs (demasiadamente) apaixonados.
E para quê? No Rio de Janeiro e em São Paulo ainda há quatro grandes, as finais do Cariocão e do Paulistão são, por isso, mais ou menos imprevisíveis, mas no Gauchão é quase garantido que a final será entre Grêmio e Internacional. E no estadual mineiro entre Cruzeiro e Atlético e no Baianão entre Bahia e Vitória e no Paranaense entre Athletico e Coritiba e por aí adiante.
Ou seja, os estaduais são uma espécie de interminável conversa de chacha antes de se chegar a um duelo entre a dupla dominadora do estado que já toda a gente conhece — são como um filme em que já se sabe o fim."

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