"Há quase 70 anos, o Benfica já expunha uma clivagem entre estes dois planos, juntando-os e dignificando os valores do Clube
Em 1955, nascia a Secção Cultural do Benfica, preenchendo a lacuna criada pelos Estatutos de 1948, que previam que o Clube, além de 'agremiação desportiva', fosse também 'recreativa e cultural'. Desde a aquisição da sede da Avenida Gomes Pereira que a componente recreativa era explorada, sobretudo com a realização de saraus de baile ou demonstração de teatro, concertos musicados ou divulgação de cinema sonoro, a partir de 1934.
No tocante à cultura, ou seja, o conjunto de conhecimentos, artísticos e intelectuais, adquiridos por uma pessoa, o Benfica esforçou-se por colocar à disposição dos seus sócios diversas vertentes culturais, com a criação de uma biblioteca, de orfeão, de um grupo de teatro e outro de filatelia, organizando exposições e conferências de temáticas abrangentes.
O afastamento entre os valores da cultura e do desporto era uma das maiores preocupações. Menos de um mês depois da federação da Secção Cultural, foi lançado o suplemento Cultura e Desporto. Foi publicado entre 1955 e 1971, com um total de 164 números, integrado no jornal em página única a partir de 1966.
Com base na máxima 'o saber não ocupa lugar', ao longo de 16 anos, o Benfica abriu portas à colaboração de reputados nomes das artes e letras, como José Saramago, Barata-Moura ou Orlando Ribeiro, suscitando a colaboração dos sócios e leitores em matérias tão distintas como poesia, história, geografia, astronomia ou biologia.
No último número do suplemento, denunciou-se o afastamento notório entre os 'vultos notáveis no campo de pensamento', que tinham 'sentimentos de desprezo pelas práticas do desporto', e os que prezaram o 'valor do músculo apenas' e ignoravam 'o cultivo das artes', do pensamento e da ciência pura'.
Este alerta destinava-se aos sócios, em especial aos que não praticavam desporto. Entre os apreciadores do desportismo, nomeadamente os atletas, encontravam-se apaixonados pela cultura, como a mesatenista Teresa Montoya, que se deleitava com música clássica. Como não recordar também Germano e as páginas de filosofia que virava no Lar do Jogador?
A cultura e o desporto foram defendidos como 'gémeos na sua missão'. O Benfica, baluarte destas duas manifestações, exibiu-se como pilares estruturantes e substanciais no desenvolvimento e no carácter humanos, que se devem procurar como uma expressão unitária, como bem comum que são, e por darem sentido à vida.
Outras iniciativas culturais na história do Benfica estão expostas na área 16 - Outros Voos, no Museu Benfica - Cosme Damião."
Pedro S. Amorim, in O Benfica
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