Últimas indefectivações

sábado, 3 de junho de 2023

Nenhum árbitro pode acabar um jogo e chamar filho da p*** a um treinador. É também hediondo que um técnico faça o mesmo em relação ao juiz


"Técnicos consagrados como Mourinho, Sá Pinto e Abel - homens de bem, pessoas com caráter, profissionais de topo - têm mesmo que dar o passo em frente no que diz respeito ao controlo de reações mais extremadas, escreve Duarte Gomes, porque eles são exemplos para milhões e é fundamental que tenham noção dessa responsabilidade

Vi imagens das expulsões de Abel Ferreira e Ricardo Sá Pinto e, pouco depois, da reação explosiva de José Mourinho, no jogo da final da Liga Europa, que a sua equipa perdeu para o Sevilha.
Já o disse várias vezes, mas gosto sempre de repetir, não vá esta opinião ser mal interpretada:
- Não é fácil estar lá dentro e ter que gerir emoções em momentos de enorme tensão e pressão. Não é mesmo;
- Não é fácil não reagir quando se sente que fatores externos podem contribuir direta ou indiretamente para uma derrota, após tanto esforço, dedicação e compromisso;
- E não é fácil responder, com diplomacia, educação e sorrisos, a momentos que nos tiram do sério e nos causam mazelas irreparáveis.
Sei disso. Sabemos todos disso.
Também sei - também sabemos - que o direito à crítica é totalmente legítimo, sobretudo se devidamente fundamentado. Se direcionado à qualidade técnica de outros intervenientes. À competência das suas decisões. Exigir medidas e responsabilidades é lícito e todos os que se sintam lesados desportivamente devem fazê-lo sim. Sempre. Mas há sempre uma forma e um meio. Há sempre um momento e um local.
Quando um qualquer treinador ou agente desportivo - português ou estrangeiro - insistem em atacar a integridade das pessoas que desempenham funções desportivas, insultando-as, chamando-lhes nomes feios, ofendendo-as e levantando suspeitas sobre a sua seriedade... não me levem a mal, mas o meu respeito aí é zero. Não pelo homem, mas pelo profissional.
É algo inadmissível em alta competição.
Momentos maus todos temos (outra ideia que já repeti até à exaustão), mas quando o excesso pontual dá lugar a uma forma de estar padronizada e reiterada, algo vai mal na forma como se perde o controlo. E se vai mal, é preciso resolver.
A questão é que todos os agentes desportivos (todos, sem exceção) merecem respeito. Todos merecem ser tratados com educação. Nenhum pode ser difamado ou maltratado na sua honra, ainda que tenha cumprido mal a sua função. Ainda que não esteja ao nível que se espera e exige. Isso aplica-se a árbitros, treinadores, dirigentes. A toda a gente.
Nenhum árbitro pode acabar um jogo e chamar de filho da p*** a um técnico só porque ele portou-se mal no banco de suplentes. Só porque, aos seus olhos, ele escolheu a tática errada ou faz mal as substituições. Isso seria hediondo. É também hediondo que um técnico faça o mesmo em relação a juiz desportivo. E é pior quando o fazem só quando perdem.
A normalização dessas condutas, varridas a palmadas nas costas, ao velho “ acalme-se, deixa lá isso” e a castigos que são convites à reincidência, não resolverão nunca essa feia forma de estar.
Técnicos consagrados como Mourinho, Sá Pinto e Abel - homens de bem, pessoas com caráter, profissionais de topo - têm mesmo que dar o passo em frente no que diz respeito ao controlo de reações mais extremadas. Eles são exemplos para milhões e é fundamental que tenham noção dessa responsabilidade.
Todos perdem razão quando, tendo-a, sucumbem à tentação irracional de ofender e destratar. De que vale o pedido de desculpas, se na semana seguinte o número repete-se?
Será que não há forma de se aprender com os erros? De se melhorar com a idade e experiência? Será que a tendência é piorar e o único silêncio que se ouvirá será na hora da vitória? É suposto ser assim?
E pelo meio, quantos árbitros e adversários se queimam? Fica, mais uma vez, o apelo sincero à contenção. Nem é apenas por uma questão de defesa da honra de árbitros ou de adversários. É sobretudo por eles: é a sua reputação e imagem que acaba por ficar chamuscada, de cada vez que a loucura momentânea substitui a inteligência emocional. Toda a gente vê isso. Toda a gente sabe disso.
E há clubes, ligas e até federações que não querem trabalhar com profissionais competentes que sistematicamente caiam nesse buraco negro.
Que ao menos isso os faça refletir. A qualidade é tão grande, as pessoas são enormes... para quê estragar tudo com momentos tão feios de se ver?
Estas coisas trabalham-se.
Invistam nisso."

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!