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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Solidariedade entre rivais

"Na 1.ª edição da Volta a Portugal, o espírito de solidariedade foi a grande vitória do Benfica

Em 1927, nasceu que se afirmou como a prova rainha do ciclismo luso: a Volta a Portugal. Dividida em 18 etapas, percorrendo um total de 1958 km, foi uma autêntica odisseia, já que a maioria dos itinerários era de terra batida, onde os ciclistas punham à prova a sua robustez física, lutando contra todo o tipo de percalços.
A rivalidade entre emblemas desportivos transpôs-se dos estádios para as estradas, passando a ter um cunho ainda mais popular Miúdos e Graúdos podiam ver ao vivo e a cores os ases dos seus clubes rodando a grande velocidade. O Benfica apresentou-se com uma equipa constituída por Eduardo Santos, Alfredo Piedade e Francisco Santos Almeida.
Em 26 de Abril, os ciclistas partiram de Lisboa, à conquista do sul do país. Logo na 2.ª etapa, entre Setúbal e Sines, Arnaldo Gonçalves, ciclista do Carcavelos, partiu o seu guiador, e logo o carro de apoio do Benfica se predispôs a ajudá-lo: 'com um espírito desportivo muito para louvar e digno de registo, os delegados do Benfica não duvidaram emprestar um guiador novo, a um adversário que disputa também a classificação por equipes'. Na 6.ª etapa, todas as atenções se viraram para Beja, que aguardava o fim de mais uma etapa. Porém, soube-se que Alfredo Sousa, ciclista do Sporting, tinha partido o quadro da sua bicicleta entre Aljustrel e Ervidel. Todos quiseram ir em socorre do malogrado corredor, mas não dispunham de meios para tal. Nesse preciso momento entrou na cidade o carro de apoio do Benfica, que, informado do sucedido, decidiu ir ajudar o ciclista leonino. O carro 'fez uma volta apertada e cortou à direita, pela planície, para Ervidel, levantando na estrada uma nuvem densa de poeira'. Com os olhos postos na planície, comentava-se o lindo gesto do Benfica, auxiliando um clube rival de longos anos. Alfredo Sousa, com a bicicleta emprestada pelo Benfica, fez-se de novo à estrada. Na etapa seguinte, o Benfica viu-se privado do seu melhor estradista, Alfredo Luiz Piedade, devido a fortes dores nos rins, mas ainda foi protagonista de mais um bonito gesto de desportivismo, ao ter cedido a sua bicicleta ao sportinguista João de Sousa, vítima de uma queda aparatosa.
A prova continuou pelas estradas do país, tendo o Benfica terminado num honroso 4.º lugar. Porém, o que mais importa ressalvar foram os constantes gestos de generosidade demonstrada pelos homens do Benfica, glorificando deste modo o desporto nacional.
Conheça outras façanhas do ciclismo benfiquista na área 3 - Orgulho Eclético do Museu Benfica - Cosme Damião."

Ricardo Ferreira, in O Benfica

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