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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Os diferentes tons de fim de ciclo


"Com a primavera vem a renovação da natureza, a polinização e um intenso cheiro a fim de ciclo no futebol português, que este fim de semana se intensificou com a mesma precisão de um espirro alérgico ou de um remate de Geny Catamo com o seu pior pé à entrada dos descontos de um dérbi.
A vitória do Sporting em Alvalade frente ao Benfica, nada decidindo, deixa os leões com a prerrogativa de até poderem falhar e mesmo assim se sagrarem campeões nacionais. Os encarnados vão em três derrotas frente aos grandes nas últimas semanas. E o FC Porto continua no seu processo de desarranjo emocional em curso. Parece pouco crível que, quando a próxima temporada começar, tudo esteja pedra sobre pedra nestas três equipas.
E isso acontecerá por competência ou esgotamento. No Sporting, ficar já não parece uma opção para Rúben Amorim. Se a equipa não ganhar qualquer título esta temporada, estaremos perante um meltdown histórico num clube que não está habituado a vencer continuamente. Qualquer treinador terá dificuldade em sobreviver a tal cataclismo - e Amorim já avisou que sairia nesta eventualidade. Mas, por este andar, Amorim sairá por acerto na planificação da época, pela coesão das ideias, por ser o primeiro treinador bicampeão pelo Sporting em quase 60 anos. Fim de ciclo por este retângulo se ter tornado pequeno. Há finais mais traumatizantes.
Do lado do Benfica, o título ainda é possível, mas a posição de Roger Schmidt, treinador ainda campeão e treinador ainda com possibilidades de ser campeão, não se coaduna com as hipóteses. Sem taças, a época oscilante dos encarnados, que só em abril parecem ter acordado, obrigará a reflexões no final do ano futebolístico.
E por fim o FC Porto, onde os ares de fim de ciclo pairam ameaçando um baque transformativo e, de certa maneira, inesperado. Ao fim de sete anos no banco dos dragões, a precisão estratégica de Sérgio Conceição apenas parece funcionar a espaços (vide Arsenal ou Benfica). As duas derrotas seguidas no campeonato trazem consigo uma olência a equipa emocionalmente fora de si, incapaz de dar a volta a contrariedades - e é bem difícil sair deste fosso. São 13 pontos de desvantagem para a frente, números quase inauditos, mas não é só sobre o que se passa em campo, porque crises desportivas papa Conceição ao pequeno-almoço. A isto há que juntar as magníficas trocas de comunicações entre SAD e CMVM no início da semana passada sobre os negócios do clube, as obras paradas da nova academia e as declarações supimpas de Jorge Nuno Pinto da Costa colocando arbitragens e “Luís André” na mesma frase - mas nunca ligando uma coisa com a outra, claro que não, o que seria, isso são vocês a subentender - para perceber que algo no Dragão se abate. Aqui, o fim de ciclo estará, muito mais do que em Sporting e Benfica, nas mãos dos sócios. Daqui a três semanas, em plena primavera, saberemos."

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