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domingo, 9 de fevereiro de 2020

Boa memória, entradas e saídas

"Se queres tramar a vida de uma formiga põe-lhe umas asas de lado e diz-lhe:voa!

Entrar, sair
1. Não acendas lume que não possa apagar.
- Saber como acabar é mais importante do que saber como começar.
- Quando não sabemos como acabar um processo estamos em pleno perigo.
- Perigo: não ter porta de saída.
- Portas de entrada são infinitas, portas de saída são poucas.
- Alguém que encontre uma porta para entrar merece ser recompensado...
- ... alguém que encontre uma porta para entrar merece ser recompensado.
- O ideal: a mesma porta servir para entrar e sair.
- Nos compartimentos das casas e nos edifícios muitas vezes acontece isso, mas na vida real não.
- Como se entra numa relação humana e como se sai?
- Difícil pergunta.
- Como se entra num clube, como se sai de um clube?
- Nunca com os mesmos métodos, nunca pela mesma porta, Excelência. Nunca.

Uma formiga
2. A formiga quando se quer perder cria asas.
- Exactamente.
- A formiga sabe o seu caminho por via das pequenas patinhas que tem.
- Pois é isso, parece que há uns sensores quaisquer, e ela lá descobre o caminho.
- E assim está bem, há milhares de anos, milhões talvez.
- Aqueles que sabem o caminho no chão, muitas vezes não sabem o caminho no ar.
- Não é o mesmo?
- Não, um caminho é mais acima. Outro, mais abaixo.
- Pois.
- Por isso. Patinhas no chão se és formiga.
- Isso mesmo, bom conselho.
- Se és formiga não queiras levantar voo.
- Ok.
- Podemos narrar até um conto rápido.
- Vamos lá.
- Era uma vez uma ave que encontrou milhares de formigas perdidas em pleno ar. Que vos aconteceu? Porque estão perdidas?, perguntou o pássaro. E elas responderam: estamos perdidas porque alguém nos colocou asas.
- Portanto, se queres tramar a vida de uma formiga põe-lhe umas asinhas de lado e diz-lhe: voa! Ela irá ficar perdida para sempre nas grandes altitudes.

Árvores caída
3. - À árvore caída todos vão buscar lenha.
- Ups.
- Sim, uma espécie de cobardia.
- Cobardia?
- Ou melhor, preguiça.
- Sim, isso mesmo, preguiça.
- Derrubar uma árvore não é fácil. Já alguima vez derrubou uma árvore?
- Nunca.
- Pois: é preciso muita força e muito esforço, muita persistência.
- Sim.
- Mas uma árvore caída...
- Defende-se pior.
- Já está sem raízes.
- Perdeu forças, portanto...
- Qualquer elemento do mundo a que arrancam as raízes perde forças.
- Qualquer elemento? Os humanos, por exemplo?
- Sim, em parte.
- Vossa Excelência ira as raízes a um ser humano e ele não fica árvore caída, mas em certas situações fica lá perto. A nossa terra é mesmo terra.
- Pois é.
- E sim: a árvore caída todos vão buscar lenha.
- A quem já não se pode defender, todos atacam.
- Quando já não se exige trabalho, todos aparecem.
- Cobardia e preguiça exemplares.

Boa memória
4. A gente nunca se esquece de quem se esquece da gente.
- Há questões de memória muito particulares.
- Há.
- Isso mesmo.
- Por exemplo: se vossa excelência não se esquecer de mim eu também nunca me esquecerei de vossa excelência. De acordo?
- Ok, combinado.
A gente nunca se esquece de quem se esquece da gente.

Por vezes o mesmo começo também no século XXI
5. Parece que alguém, lá para os finais dos anos 50 do séc. XX, em França, disse, na Assembleia Nacional:
«Comecei unicamente com a a minha inteligência. Isto é o mesmo que dizer que comecei com nada!?
Um começo nada promissor, portanto."

Gonçalo M. Tavares, in A Bola

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