Últimas indefectivações

quarta-feira, 15 de junho de 2016

1966, 1984 e 2004

"No dealbar do Euro (escrevo antes do jogo com os islandeses), recordo as três competições da nossa selecção que, em mim, mais estão presentes por boas razões, ainda que, paradoxalmente, a elas também associe o abatimento que me suscitaram.
Refiro-me à lembrança de jovem no Mundial 1966 e à de adulto nos Euro 1984 e 2004.
No Inglaterra 66, ainda a preto-e-branco, gravado na minha memória a sépia. Um Portugal sem vedetismos, ainda que com o inultrapassável Eusébio, um Portugal superiormente orientado, um Portugal quase ingénuo. Um Portugal que foi traído pelas batotas administrativas do poder instalado e que, assim, foi eliminado nas meias-finais pelos anfitriões. Poderíamos ter sido campeões do Mundo. Fiquei triste, mas sobretudo orgulhoso num tempo de isolacionismo.
No Euro 1984, com quatro (!) treinadores, Portugal com Bento, Jordão e Chalana, entre outros, merecia mais. Platini destroçou o nosso sonho no fim de um prolongamento épico. Vi o jogo pela TV, em Estocolmo e - talvez por, naquele dia, estar fora de Portugal - foi a competição em que a ressaca da derrota mais permaneceu em mim.
Por fim, o nosso Euro 2004 e a final perdida ingloriamente para uns gregos sofríveis. Aqui, confesso, mais do que tristeza, senti irritação pela casmurrice do então seleccionador, que nem sequer aprendeu com a derrota com os mesmos helénicos na jornada inaugural. Tínhamos uma equipa invulgar.
Tempos diferentes no percurso do futebol e tempos diferentes no percurso da minha vida. Com o privilégio de ter vivido tempos de futebol simples, directo, sem excessos. Afinal, do que, verdadeiramente, gosto."

Bagão Félix, in A Bola

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