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terça-feira, 17 de maio de 2016

Aprendiz, 2-Génio, 1

"No princípio foi a Gazprom conluiada com a UEFA, derivado do seu estatuto de patrocinador oficial da Liga dos Campeões, o orientar do trabalho do árbitro checo no sentido de proteger os interesses russos do CSKA e prejudicar os do Sporting para desespero de BC, que bem chorou os milhões com que contaria para o necessário equilíbrio financeiro do clube: 18, segundo os cálculos que fez. Nenhum embaraço, porém. Como fora definido, o objectivo desportivo da época era o Campeonato e esse estava incólume. Depois veio a Liga Europa e o interesse do treinador leonino pela prova, como é público, nunca se tornou notado. Mais jogos, o cansaço que provocam, as viagens e os aborrecimentos emergentes. Na sua esclarecida perspectiva técnica, importante era treinar muito e jogar só o oficial na perseguição do objectivo chamado Campeonato, o único em cima da mesa. Razão, por isso, de uma presença titubeante, cujo ponto baixo correspondeu a um falhanço humilhante na Albânia e que colocou o Sporting na história do desconhecido Skenderbeu, enquanto o mais alto coincidiu com a vitória sobre o Besiktas e a entrada nos dezasseis avos de final. Palmas? Não, outra chatice, na opinião do treinador, por lhe retirar o tempo de que ele precisava para se concentrar no único ponto em que estava focado: o Campeonato.

A seguir, foi-se a Taça de Portugal e aqui começaram as dores, mas a eliminação com o Braga quase se transformou em derrota triunfal e pouco faltou para JJ sair em ombros da Pedreira. Entretanto, o projecto garantia solidez e o grande objectivo esperava, de braços de abertos.
Para não tornar o assunto enfastioso, salto a Taça da Liga e chego ao Campeonato que anteontem terminou, com o Benfica campeão e o Sporting segundo classificado. O objectivo tão entusiasticamente prometido não foi alcançado. Falhou este e falharam os outros. Em termos de títulos conquistados, o retrato da época, desenhado em estilo que Jesus aprecia, pode resumir-se a nadinha, nadinha... Bom, também não é rigorosamente assim, a Supertaça conta, mas se foi Jesus quem a ganhou, deve ter-se em consideração que foi Marco Silva quem a deu a ganhar.

Em 2012, na única vez que fez percurso na Champions, JJ foi eliminado pelo Chelsea, mas não reconheceu mérito ao adversário, tendo proclamado na altura que o Benfica tinha sido melhor, mas a verdade é que perdeu, como voltaria a perder no ano seguinte com o mesmo Chelsea na final da Liga Europa.
Apesar de o futebol dever ser visto como festa em todas as circunstâncias e o desporto como escola de valores e de referências para os jovens, alguém estaria à espera que JJ tivesse uma reacção diferente daquela que teve agora? Talvez, mas para mim ainda subsistem dúvidas sobre se ele queria mais ganhar pelo Sporting ou ganhar contra o Benfica, porque não sabendo como esconder-se diante do malogro leonino foi veloz na colagem ao sucesso do rival e prodigioso na criatividade para a sustentar. O vencido felicitar o vencedor é normal e desejável. É assim na política, por exemplo, e deve ser assim no futebol, mas no mundo de Jesus é diferente, o fair play não vale tanto...

Jorge Jesus fracassou em toda a linha. Deu para agitar as massas, pelo menos, defendem adeptos mais optimistas. De acordo, mas o mais provável é voltar tudo à estaca zero em função da aposta de elevado risco que foi feita sem se enxergar a indispensável contrapartida desportiva e financeira. E certo que podia ter resultado, mas falhou.
Não consigo prever o futuro, mas alguma coisa vai mudar, não me sendo possível, no entanto, avaliar a extensão e a profundidade dessa mudança e as suas consequências. O presidente leonino terá sobrevalorizado as capacidades do treinador que resolveu contratar, ao não se dar conta que levava para casa um profissional que é bom só para consumo interno. Quando o surripiou ao vizinho da Segunda Circular, em vez de criar um problema ao presidente do Benfica ajudou-o a tomar a decisão que tinha em mente.
Em conclusão, o aprendiz ficou em primeiro e o génio em segundo, o que, neste momento, coloca o resultado entre ambos em dois-a-um a favor do primeiro: Vitória ganhou o Campeonato a Jesus e já o tinha derrotado na final da Taça de Portugal em 2013. Pormenores, ou mais do que isso..."

Fernando Guerra, in A Bola

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